Nesta semana, o Centro de Estudos Políticos da Universidade da Virgínia divulgou uma pesquisa sobre o sentimento dos norte-americanos quanto a seus oponentes políticos.
De acordo com a pesquisa, 80% dos eleitores de Biden e 84% dos eleitores de Trump acreditam que as autoridades eleitas pelo partido oposto representam “um claro perigo à democracia”. Enquanto isso, 78% dos eleitores de Biden acreditam que o Partido Republicano quer eliminar a influência dos “valores progressistas” na vida americana e 87% dos eleitores de Trump acreditam que os democratas querem eliminar os “valores tradicionais”. Por fim, 75% dos eleitores de Biden e 78% dos eleitores de Trump acreditam que os apoiadores do partido oposto são “um perigo claro ao estilo de vida norte-americano”.
Claro que essas estatísticas são alarmantes. A teoria popular hoje em dia é a de que a disposição de se abandonar as normas democráticas – aceitação do resultado das eleições, sistema de pesos e contrapesos, devido processo legal e tudo o mais – são resultado de uma rejeição reacionária tanto por parte dos democratas quanto dos republicanos.
Se você teme que seu vizinho vá violar o processo, você será um tolo se continuar acreditando nele – e quanto mais desgostamos de nossos vizinhos mais tememos que eles se aproveitem de nós.
Mas será que essa teoria está correta? Será mesmo a polarização o motivo para esse aumento na disposição de se ignorar as regras democráticas?
De acordo com um novo estudo dos cientistas políticos David Broockman (Berkeley), Joshua Kalla (Yale) e Sean Westwood (Dartmouth), a resposta é “não”.
“Não encontramos indícios de que uma diminuição endógena na polarização causa uma diminuição em cadeia na oposição às normas democráticas”, escrevem. Em outras palavras, o fato de os norte-americanos se odiarem mutuamente não reduz em nada a disposição deles em subverter as normas democráticas para alcançar seus objetivos.
Se não é a polarização que está motivando a sublevação, o que é? Talvez a explicação seja a de que o contrário está ocorrendo. Isto é, à medida que abandonamos as normas democráticas, desprezamos cada vez mais nossos semelhantes. Há certa lógica nisso.
Os Pais Fundadores dos Estados Unidos tinham uma visão específica da alma humana e acreditavam que os seres humanos eram capazes de grandes feitos, mas que também estavam sujeitos ao pecado e corrupção. Dada a variabilidade da natureza humana, a humildade epistêmica – isto é, reconhecer que os seres humanos erram – seria necessária. E essa humildade epistêmica se traduz num desejo por liberdade.
De acordo com essa visão, os níveis mais altos do governo teriam de ser impedidos de imporem uma forma única de virtude numa sociedade pluralista. A subsidiariedade, na qual as comunidades locais se autogovernam e o governo federal se atém a certas normas básicas, seria a abordagem mais adequada.
O governo federal se veria pressionado pelo sistema de pesos e contrapesos que criaria obstáculos. Esses obstáculos, por sua vez, exigiriam grandes acordos sobre o uso do poder para legitimar o próprio uso do poder. Hoje, contudo, a maioria dos norte-americanos parece se afastar instintivamente dessa visão da natureza humana e de sua abordagem governamental concomitante.
Em vez dela, os seres humanos são considerados criaturas totalmente maleáveis, que podem ser moldadas por um “sistema melhor”. Dê à “pessoa certa” com os “princípios certos” o poder infinito, democrático ou não, e a virtude prosperará. O governo não é o problema, e sim a solução.
O problema, caro, é que todos fazemos uma ideia diferente quanto à pessoa e os princípios certos. E depois que concordamos que o governo tem a capacidade de resolver todos os novos problemas, qualquer um que se ponha no meio do caminho se torna um herege.
Ao ignorarmos a visão que os Pais Fundadores tinham da natureza humana e a estrutura governamental expressa pela Constituição, criamos as bases para a polarização e o ódio.
Talvez o primeiro passo para resolver nossa recém-descoberta rejeição das normas democráticas seja restabelecer não o amor por nossos semelhantes, e sim a compreensão das falhas e tolices humanas e os limites dessa compreensão. Talvez devêssemos começar com um pouco de humildade epistêmica. Daí talvez possam surgir novas normas democráticas e uma compreensão maior dos nossos semelhantes.
Ben Shapiro é apresentador do “Ben Shapiro Show" e editor emérito do Daily Wire.
© 2021 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês
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