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A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) autorizou a E-Space, concorrente da Starlink – empresa de Internet por satélite que tem Elon Musk como sócio –, a operar no Brasil. Segundo a autarquia, a E-Space, empresa franco-americana com sede em Toulouse, França, pode operar com um sistema de 8.640 satélites no país por um prazo de cinco anos. A empresa, contudo, no momento tem apenas três satélites em órbita, contra mais de cinco mil da concorrente.
Em seu site, com aparência similar à página da concorrente, a E-Space é econômica em se descrever: “somos curiosos, deliberados e empoderadores. Somos pioneiros do espaço”, diz laconicamente sua página “Quem somos”.
Quem é Greg Wyler, o fundador da E-Space
A empresa foi fundada em 2021 por Greg Wyler, um empreendedor, engenheiro e inventor premiado americano. No começo do milênio, ele trabalhou para levar a internet móvel 3G para localidades rurais da África, especialmente em Ruanda, onde foi dono por um ano da empresa de telefonia Rwandatel. Em 2007, ele fundou a O3b Networks, já uma empresa de comunicação por satélite e lançou 12 satélites em órbita baixa. Em 2016, a O3b foi comprada pela SES S.A., empresa similar de Luxemburgo.
Outro dos empreendimentos de Wyler, o provedor de internet por satélite OneWeb, declarou falência com oito anos de fundação, em 2020. A empresa terminou adquirida pelo grupo indiano Bharti Global e pelo governo britânico por 800 milhões de libras (R$ 7,1 bilhões, na cotação atual com correção), continuando sem Wyler.
Na época da venda da OneWeb, Wyler disse ao site Aviation Today que “não está claro se o valor que foi criado vale os infinitos dólares que estão sendo postos ali, (...) o capital exigido é tão alto que reduz rapidamente o número de investidores que podem se envolver”. O empresário afirmou que 25 milhões de dólares era o investimento mínimo para um negócio do tipo. “Você gasta US$ 50 milhões a US$ 100 milhões por mês. São números enormes”, disse Wyler.
E-Space por enquanto é mais feita de planos
A E-Space começou com um fundo de 50 milhões de dólares originado em investimento de capital de risco. É um montante substancial para uma empresa iniciante.
Os três primeiros satélites da empresa foram lançados em maio de 2022. Ao Financial Times, Wyler prometeu até 100 mil satélites em órbita dentro de dez anos e afirmou que seus satélites foram projetados para também limpar o lixo espacial – a retórica da sustentabilidade tem sido uma das apostas da publicidade do empreendimento.
Os contatos prévios em Ruanda de Greg Wyler deram frutos: foi pelo país que a E-Space registrou com reguladores seus planos de lançar 300 mil satélites.
Elon Musk não tem tido a mesma sorte no continente africano. Em abril, a Starlink foi desligada em Camarões após ordem do governo, que alegou que a empresa estava operando sem licença e que ameaçava a segurança nacional. Observadores locais relataram ao site Semafor que a real razão para o banimento foi a proteção do governo ao seu campeão nacional, a Camtel, estatal com o monopólio das telecomunicações.
A Starlink também foi bloqueada por reguladores na Costa do Marfim, Burkina Faso, República Democrática do Congo, Senegal e África do Sul. Na última, país natal de Musk, o sinal foi banido pois a lei exige 30% de cotas para pessoas de grupos historicamente marginalizados entre os acionistas de uma empresa de telecomunicação. Negociações com os governos estão em andamento, e alguns dos obstáculos foram superados. “Reguladores pelo continente estão preocupados com a Starlink porque querem controlar o conteúdo que é compartilhado”, disseram analistas ao Semafor. Outra preocupação é conseguir taxar uma empresa que presta seu serviço diretamente ao consumidor, sem passar por intermediários.
A Gazeta do Povo consultou três bases de dados de satélites em órbita. A União de Cientistas Preocupados dos EUA (UCS) registra 3.996 satélites da SpaceX, empresa mãe da Starlink, e os três satélites da E-Space. A última atualização da UCS foi em maio de 2023, um ano após o lançamento dos últimos. O site Semafor apurou que há 5.800 satélites da Starlink em órbita. O site CelesTrak registra mais 105 lançamentos da Starlink nos últimos 30 dias, e nenhum da E-Space. Já o Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior (UNOOSA), em seu banco de dados, também registra apenas três satélites da E-Space, enquanto lista 7.027 objetos da Starlink na busca.
Últimas movimentações da E-Space
Apesar da pouca atividade de lançamento, a E-Space está trabalhando. Em outubro de 2023, a empresa cumpriu um contrato com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos com uma demonstração bem-sucedida para a Agência de Desenvolvimento Espacial (SDA).
O teste foi “uma prova crítica de como o espaço pode dar vantagem para melhorar as comunicações e o reconhecimento de situação para operações militares”, disse Greg Wyler. “A E-Space tem tecnologia para mudar o jogo. Estamos estendendo a cobertura de satélite e a conectividade para que agentes de guerra, dentro e fora da ação, tenham acesso a um novo tipo de plataforma de inteligência, vigilância e reconhecimento que pode conectar, perceber e rastrear todos os recursos militares pelo globo”, afirmou em entrevista ao site Via Satellite.
Em abril de 2024, a E-Space anunciou planos de estabelecer seu centro de manufatura em Arlington, no Texas, onde poderia criar mais de três mil empregos. A empresa deve receber US$ 50 milhões em incentivos do governo municipal.
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