A legislatura da região de Krasnoyarsk na Rússia votou a favor de “expropriar o excesso da safra” de fazendas na região da Ucrânia ocupada pela Rússia, segundo reportagem de Yaroslav Trofimov no Wall Street Journal.
Essa política tem precedentes.
A língua ucraniana tem uma palavra para o homicídio em massa com motivações políticas por meio da fome: Holodomor. A palavra é um nome para o que os russos fizeram com os ucranianos em 1932-33, quando a Ucrânia era uma parte constituinte de modo não tão voluntário da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O planejamento central socialista obteve na agricultura soviética o que ele obtém em todo lugar – escassez causada por má alocação de recursos – com o resultado do colapso das safras de grãos e batatas no começo dos anos 1930. Os mandatários socialistas em Moscou viram uma ameaça em potencial a seu regime e uma oportunidade política, e assim a comida foi confiscada das áreas povoadas por ucranianos e redirecionada às cidades russas. As elites e populações urbanas da Rússia foram alimentadas, e a fome artificial foi usada como arma política para esmagar movimentos de independência antissoviéticos na Ucrânia.
Ninguém sabe quantas milhões de pessoas morreram de inanição. As estimativas chegam a 10 milhões.
Cerca de 200 mil pessoas foram presas por “furto” sob uma lei especial adotada na época; seu “crime” foi procurar por algo comestível no meio do lixo agrícola. Municípios e regiões inteiras foram privados de tudo, dos grãos ao gado, como punição por crimes políticos forjados. Moscou introduziu um novo sistema de passaportes internos para impedir os moribundos famintos de deixarem as suas cidades e vilas para procurar alimento. Os ucranianos que tentavam fugir da zona de carestia artificial recebiam balas dos soldados soviéticos. A propaganda soviética insistia que os fazendeiros ucranianos eram traidores perigosos que estavam abrigando os “kulaks”, o rótulo abusado por Moscou para inimigos políticos nas classes camponesas.
O escritor germano-húngaro Arthur Koestler estava no lugar pois ganhou permissão para viajar pela União Soviética com o propósito de escrever um romance propagandístico pró-soviético. O que ele viu foram mães desesperadas tentando passar suas crianças famélicas e cadavéricas pelas janelas dos trens a estranhos, na esperança de que elas fossem levadas a algum lugar menos infernal que o paraíso dos proletários.
(O leitor pode aprender sobre isso e muito mais no livro A Fome Vermelha de Anne Applebaum.)
A União Soviética teve compromisso com a revolução mundial dos trabalhadores por cerca de cinco minutos, depois dos quais se tornou o que a Rússia ainda é hoje: um Estado policial grotesco organizando em torno do nacionalismo russo e da cleptocracia cujos mandatários usam de assassinato, tortura e terrorismo estatal para se manterem no poder. Moscou não é inimiga da Ucrânia ou da OTAN – Moscou é inimiga de todos os povos e países civilizados. O Holodomor dos anos 1930 tinha em parte a intenção de varrer do mapa a identidade ucraniana como força política, e a atual guerra na Ucrânia tem muito do mesmo objetivo, como o próprio Putin explicou tão eloquentemente. Para ele, não há Ucrânia nem ucranianos.
Talvez seja só simbolismo que a legislatura de Krasnoyarsk evoque de forma tão óbvia o Holodomor — com aprovação — conforme os russos de novo fazem o pior que puderem na Ucrânia: matança, estupro, roubo, incêndio. Mas o simbolismo é importante e, aqui, denuncia intenções.
As forças ucranianas estão conduzindo operações dentro da Rússia, como é obvio que devem fazer, e estão tendo mais sucesso em seus esforços do que os russos gostariam de admitir. Os Estados Unidos e os aliados da OTAN devem ter clareza de visão sobre o fato de que as armas e inteligência que estamos fornecendo aos ucranianos estão sendo usadas dessa forma, e devem entender que mais cedo ou mais tarde Vladimir Putin e sua junta abjeta decidirão que isso equivale a um evidente ato de guerra e responderão da mesma forma que parecer proporcional para o ponto de vista depravado e isolado de Moscou. Devemos estar prontos para isso, e pensar com cuidado a respeito de qual será a nossa resposta.
O presidente Joe Biden jurou defender “cada centímetro” do território da OTAN — e Putin já deixou claro o que ele vai fazer se tiver a menor oportunidade. O presidente Biden será testado, mas ele não tem grande credibilidade nessa área, e seus rivais Republicanos também não têm: eles permanecessem dedicados a Donald Trump, que não poderia ter deixado mais claro nem ter sido mais enfático em seu desprezo pela OTAN e seus princípios subjacentes de defesa coletiva. Se o mundo está buscando liderança nos Estados Unidos nessa crise, o mundo sairá decepcionado. Temos o grande privilégio de não termos sido forçados a aprender as lições que os ucranianos foram forçados a aprender.
São lições que continuamos fracassando em aprender, um fato sobre o qual repousam tanto o descrédito quanto o perigo.
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Kevin D. Williamson é membro do National Review Institute, correspondente itinerante para o National Review e autor de Grande Gueto Branco: Falidos, Idiotas e Entorpecidos de Ira nas Selvas da ‘América Real’ [trad. livre].
©2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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