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Estudo

Efeito estufa ajudou a aumentar áreas verdes pelo mundo

O Vale de Jiuzhaigou, na China
O Vale de Jiuzhaigou, na China: Patrimônio Mundial da UNESCO (Foto: Pixabay)

Movimentos ecológicos defendem a urgência de reflorestamento e recuperação florestal sob a justificativa de que o planeta está perdendo rapidamente áreas verdes. Mas uma pesquisa recente mostra um cenário diferente: a Terra tem a maior cobertura vegetal dos últimos vinte anos. Iniciativas de países com grande contingente populacional, especialmente China e Índia, e o aumento do gás carbônico (CO2) na atmosfera, estão levando a cobertura florestal do planeta a aumentar 2,3% por década desde 1980.

Um estudo recente publicado na revista científica Nature Sustainability aponta que um terço das áreas com cobertura vegetal no planeta não está se deteriorando, e que apenas 5% está diminuindo. Um dos principais fatores para essa mudança, segundo a pesquisa, é o “efeito de fertilização” causado pela queima de combustíveis fósseis pelos seres humanos. À medida que o CO2 aumenta na atmosfera, isso aumenta a fotossíntese — que também depende de água, luz do sol e nutrientes no solo. Quando as plantas absorvem mais gás carbônico, produzem mais alimentos para sua nutrição e crescem mais.

O levantamento utilizou dados da NASA (National Aeronautics and Space Administration) obtidos em vinte anos de observações da superfície da Terra. A NASA usou o espectrorradiômetro de imagem de resolução moderada (MODIS, sigla em inglês) para obter uma imagem detalhada da vegetação da Terra ao longo do tempo.

A pesquisa aponta outra causa para a mudança: aumento de plantações e reflorestamento. China e Índia, os dois países mais populosos do mundo, contribuíram com cerca de um terço do aumento de áreas verdes desde 2000, principalmente por meio de florestas e fazendas. Os dois países são os que mais influenciaram para o aumento da área foliar, afirma Chi Chen, do Departamento de Terra e Meio Ambiente da Universidade de Boston e coordenador do estudo.

“A China e a Índia representam um terço do ‘esverdeamento’, mas contêm apenas 9% da área terrestre do planeta coberta por vegetação — uma descoberta surpreendente, considerando a noção geral de degradação da terra em países populosos devido à superexploração”, diz Chen.

Agricultura

Tanto a China quanto a Índia passaram por fases de desmatamento em larga escala nas décadas de 1970 e 1980, derrubando florestas para o desenvolvimento urbano e agrícola. A partir dos anos 90, com a pressão internacional para reduzir a poluição e aumentar as áreas verdes, os dois países fizeram mudanças no uso geral da terra.

Na Índia, iniciativas de reflorestamento são tendência nos últimas anos: em um evento, 800 mil indianos plantaram 50 milhões de árvores em apenas 24 horas. Ainda assim, os campos agrícolas foram responsáveis ​​por 82% do aumento de áreas verdes no planeta. A produção de alimentos também aumentou na Índia e na China, com o uso de fertilizantes e irrigação, ajudando os agricultores a colher mais da mesma área cultivada.

Nos dois países, a produção total de alimentos, grãos e legumes e frutas cresceu cerca de 35 a 40% desde 2000. Rama Nemani, cientista do Centro de Pesquisa Ames da NASA e um dos coautores do estudo, diz que o aumento na produção de alimentos se deve ao plantio de várias rotações de safras a cada ano e ao uso incisivo de fertilizantes e irrigação.

Por outro lado, a China tem um extenso programa de recuperação e preservação de suas florestas. Apesar de ter apenas 6,6% da área com cobertura vegetal do mundo, o país é responsável por 25% do aumento de áreas verdes no mundo. “O manejo do uso humano da terra em muitas regiões é mais importante do que os fatores indiretos das mudanças climáticas e da fertilização com CO2”, diz Chen.

Gás carbônico

O CO2 extra na atmosfera é responsável pela maior parte da mudança de áreas verdes observada na pesquisa da NASA. Isso ocorre devido ao fenômeno de fotossíntese: plantas verdes usam a fotossíntese para criar energia a partir do dióxido de carbono e da luz solar. Essa energia, na forma de glicose, é usada pela planta para crescer e alimentar as atividades reprodutivas necessárias da espécie.

Devido a esse processo, maior quantidade de CO2 na atmosfera leva a um aumento na quantidade de plantas, aumentando as áreas verdes. E o CO2 está mais presente do que nunca: os níveis de dióxido de carbono na atmosfera são mais altos do que em qualquer momento nos últimos 400 mil anos, segundo dados da NASA.

De acordo com a entidade, esse aumento tem relação com a queima de combustíveis fósseis e pode ser explicado com base na premissa de que cerca de 60% das emissões de combustíveis fósseis permanecem no ar.

Um estudo recente da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, sigla em inglês) corrobora essa tendência ao apontar que as concentrações de dióxido de carbono estão aumentando principalmente por causa dos combustíveis fósseis que são queimados para gerar energia.

“Combustíveis fósseis como carvão e petróleo contêm carbono que as plantas extraem da atmosfera através da fotossíntese ao longo de milhões de anos; estamos devolvendo esse carbono para a atmosfera em algumas centenas de anos”, explica a entidade. “É a primeira vez na história da humanidade, e não apenas na história que temos registro, que a atmosfera do nosso planeta tem mais de 415 ppm de CO2”, completa o meteorologista Eric Holthaus.

Boas novas

A descoberta da NASA foi recebida com entusiasmo em certos círculos. O aumento de áreas verdes no planeta aumentou o abastecimento de comida para insetos e animais, além de acrescentar rendimento de até US$ 3 trilhões à renda agrícola nos últimos 30 anos, afirma Matt Ridley, autor do livro “O otimista racional: por que o mundo melhora”.

“Não deveria haver surpresa sobre esta notícia. Milhares de experimentos foram realizados ao longo de muitos anos nos quais os níveis de CO2 aumentaram em culturas ou ecossistemas selvagens e impulsionaram seu crescimento”, afirma Ridley. Ele destaca que os proprietários de estufas comerciais costumam bombear CO2 no ar para acelerar o crescimento das plantas, uma vez que o CO2 é alimento vegetal.

Ridley cita ainda um estudo de 2016, publicado por 32 autores de 24 instituições em oito países, que analisou dados de satélite, concluiu que houve um aumento de aproximadamente 14% na vegetação verde ao longo de 30 anos e atribuiu 70% desse aumento ao aumento de dióxido de carbono na atmosfera.

“No entanto, isso nunca é mencionado. No desespero de manter o medo coletivo, os ativistas que vivem do medo da mudança climática esforçam-se ao máximo para ignorar essa verdade inconveniente”, afirma Ridley.

Contraponto 

Por outro lado, o aumento nas áreas verdes nem sempre é o que parece: nos dois países que mais contribuem para o crescimento, Índia e China, grande parte das áreas verdes são campos agrícolas. Esse tipo de aumento, causado pela agricultura intensiva, não tem o mesmo efeito positivo, segundo Victor Brovkin, do Instituto Max Planck de Meteorologia e coautor do estudo da NASA.

Os pesquisadores sugerem que os bons resultados alcançados pela agricultura não oferecem os mesmos benefícios para o clima que o reflorestamento, pois o carbono absorvido pelas colheitas é liberado rapidamente de volta à atmosfera.

Simultaneamente, Índia e China estão carregando a atmosfera com níveis sem precedentes gases de efeito estufa. Os esforços de aumento de áreas verdes dos dois países foram mais que compensados por emissões cada vez maiores de carbono: as fábricas de carvão chinesas que expelem carbono na atmosfera estão superando seus esforços de ecologização.

Além disso, vastas áreas de tundra do Ártico também estão verdes, graças ao aquecimento que está descongelando o solo saturado de carbono, chamado permafrost, e derretendo enormes coberturas de gelo na região — um aumento de áreas verdes que não é benéfico para o ecossistema.

Enquanto isso, a tendência é oposta nas florestas da Indonésia e na bacia amazônica, região de maior floresta tropical do mundo. Segundo o estudo da NASA, a maior parte da Amazônia apresenta perda de áreas verdes nas últimas duas décadas. Entre 2000 e 2005, o Brasil perdeu uma área florestal maior que o território da Grécia.

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