Com lançamento programado para o início de julho, mas já em pré-venda, 'Einstein' leva a assinatura de Walter Isaacson, autor de best-sellers sobre as trajetórias de Elon Musk e Steve Jobs — e cujo currículo também inclui os cargos de editor da revista Time e presidente da CNN.
Considerada a biografia definitiva do gênio alemão, a obra é baseada em uma coletânea de cartas divulgadas em 2006 e revela sua história a partir da investigação acerca de sua natureza inquieta.
Leia a seguir um trecho do primeiro capítulo do livro, editado no Brasil pela Intrínseca.
Quando olhamos em retrospecto para um século que será lembrado pela disposição de romper vínculos clássicos e quando olhamos adiante para uma era que procura promover a criatividade necessária objetivando a inovação científica, uma pessoa sobressai como um ícone supremo de nossos tempos.
O refugiado simpático de um regime de opressão, cuja cabeleira rebelde, olhos cintilantes, humanidade cativante e brilho extraordinário lhe tornaram o rosto um símbolo e o nome um sinônimo da palavra gênio.
Albert Einstein era um decifrador de segredos, abençoado com imaginação e norteado por uma fé na harmonia da obra da natureza. Sua história fascinante, um testemunho
da ligação entre criatividade e liberdade, reflete os triunfos e as turbulências
dos tempos modernos.
Uma vez que os arquivos de Einstein estão totalmente disponíveis, é possível examinar como o lado pessoal dele — a personalidade não conformista, os instintos rebeldes, a curiosidade, as paixões e os distanciamentos — se entrelaçou com o lado político e o lado científico.
Saber sobre o homem nos ajuda a entender os mananciais de sua ciência e vice-versa. O caráter, a imaginação e o gênio criativo estavam relacionados, como se fizessem parte de algum campo unifi cado.
Apesar da reputação de ser indiferente, ele era, na verdade, ardoroso tanto no tocante aos interesses pessoais quanto aos científicos.
Na faculdade, apaixonou-se perdidamente pela única mulher na turma dele de física, uma sérvia de pele escura, cheia de vida, chamada Mileva Marić. Eles tiveram uma filha
ilegítima. Depois, se casaram e tiveram dois filhos.
Einstein sondava quais seriam as reações dela às ideias científicas dele e ela o ajudava com a verificação da matemática nos artigos. Entretanto, com o tempo o relacionamento
se deteriorou.
Einstein fez-lhe uma proposta. Um dia ele ganharia o prêmio Nobel; se ela lhe concedesse o divórcio, ele lhe daria o valor do prêmio. Ela pensou por uma semana e aceitou.
Como as teorias dele eram muito radicais, passaram-se 17 anos depois daquela assombrosa produção a partir do escritório de patentes até ele ser agraciado com o prêmio, e ela recebeu o valor.
A vida e a obra de Einstein refletiam a derrocada de certezas sociais e absolutos morais na atmosfera modernista do início do século XX.
O não conformismo imaginativo estava no ar: Picasso, Joyce, Freud, Stravinski, Schoenberg e outros rompiam vínculos convencionais.
Essa atmosfera estava impregnada de uma concepção do universo na qual o espaço-tempo e as propriedades das partículas pareciam baseadas nas imprevisibilidades das
observações.
Einstein, entretanto, não era de fato um relativista, muito embora fosse interpretado assim por muitos, entre eles alguns cujo desdém apresentava tons de antissemitismo.
Subjacente a todas as suas teorias, aí incluída a da relatividade, havia uma busca por invariantes, certezas e absolutos.
Para Einstein, havia uma realidade harmoniosa sustentando as leis do universo, e o propósito da ciência era descobri-la.
Sua busca teve início em 1895, quando, aos 16 anos de idade, ele imaginou como seria se deslocar junto com um raio de luz.
Na década seguinte veio o ano miraculoso para ele, descrito na carta mencionada, que assentou os alicerces para os dois enormes avanços da física do século XX: a relatividade e a teoria quântica
Uma década depois, em 1915, ele conseguiu arrancar da natureza o que seria sua maior glória, uma das mais belas teorias de toda a ciência: a teoria da relatividade geral.
Como no caso da teoria restrita, o raciocínio dele tinha se desenvolvido por meio de experimentos mentais.
Imagine-se num elevador fechado, subindo em aceleração através do espaço, ele conjecturou num desses experimentos. Os efeitos que você sentiria seriam indistinguíveis da experiência da gravidade.
Einstein concluiu que a gravidade era uma deformação do espaço-tempo e formulou as equações que descrevem como a dinâmica dessa curvatura resulta da interação entre a matéria, o movimento e a energia.
Outro experimento mental pode descrevê-la. Visualize como seria fazer rolar uma bola de boliche sobre a superfície bidimensional de uma cama elástica. Então faça rolar algumas bolas de bilhar.
Elas se movem na direção da bola de boliche, não porque esta última exerça alguma atração misteriosa, mas em razão da forma com que ela curva o tecido da cama elástica.
Agora imagine isso acontecendo no tecido quadridimensional do espaço-tempo. Certo, não é fácil, mas é por isso que nós não somos nenhum Einstein — e ele era.
O exato ponto central da carreira dele deu-se uma década depois, em 1925, e foi um momento decisivo.
A revolução quântica que ele ajudara a lançar estava sendo transformada numa nova mecânica, baseada em incertezas e probabilidades.
Foi naquele ano que Einstein deu uma última contribuição significativa para a mecânica quântica, mas, ao mesmo tempo, começou a lhe oferecer resistência.
Ele haveria de passar as três décadas seguintes terminando algumas equações rabiscadas já no leito de morte, em 1955, e criticando obstinadamente o que considerava a incompletude da mecânica quântica, enquanto tentava subordiná-la a uma teoria do campo unificado.
Tanto durante seus t30 como revolucionário quanto em seus 30 anos subsequentes como resistente, Einstein manteve-se coerente na disposição para ser um solitário que se divertia com serenidade, à vontade com o próprio não conformismo.
Com pensamento independente, ele era guiado por uma imaginação que ultrapassava os limites da sabedoria convencional.
Pertencia àquela linhagem estranha, a de um rebelde reverente, e era norteado por uma fé, que assumia com leveza e brilho nos olhos, num Deus que não jogava dados, que não permitia que as coisas acontecessem ao acaso.
A tendência não conformista de Einstein era evidente tanto na personalidade quanto na política.
Embora endossasse ideais socialistas, era por demais individualista para se sentir bem com um controle excessivo praticado pelo Estado ou por uma autoridade concentrada.
Os instintos atrevidos, que lhe foram tão vantajosos quando jovem cientista, o tornaram alérgico ao nacionalismo, ao militarismo e a qualquer coisa que cheirasse a mentalidade de manada.
Até Hitler fazer com que Einstein revisasse as equações geopolíticas naquele momento, o físico foi um pacifista instintivo que louvava a resistência à guerra.
A história dele abrange a vasta extensão da ciência moderna, do infinitesimal ao infinito, da emissão de fótons à expansão do cosmo.
Um século depois de seus triunfos impressionantes, nós ainda estamos habitando o universo de Einstein, universo definido na escala macro por sua teoria da relatividade e
na escala micro por uma mecânica quântica que se provou duradoura, embora
continue desconcertante.
As impressões digitais de Einstein estão por toda parte nas tecnologias de hoje. Células fotoelétricas e lasers, energia nuclear e fibras ópticas, viagens espaciais e até mesmo semicondutores, tudo está relacionado às suas teorias.
Ele assinou a carta a Franklin Roosevelt com o aviso de que seria possível construir uma bomba atômica, e as letras da sua célebre equação que relacionava a energia à massa pairam em nossa mente quando visualizamos a nuvem resultante em formato de cogumelo.
A ascensão de Einstein à fama, que ocorreu quando medições feitas durante um eclipse em 1919 confirmaram a previsão que ele fizera de quanto a gravidade curva a luz, coincidiu com o surgimento de uma nova era de celebridades e contribuiu para ela.
Ele se tornou uma supernova científica e um ícone humanista, um dos rostos mais famosos do planeta. O público se esforçava a sério para decifrar suas teorias, passou a venerá-lo como um gênio e o consagrou como um santo laico.
Se não tivesse aquela auréola de cabelo eletrificado e aqueles olhos penetrantes, Einstein ainda assim teria se tornado o maior garoto-propaganda da ciência
Suponhamos, só como um experimento mental, que ele tivesse a aparência de um Max Planck ou de um Niels Bohr [físicos alemão e dinamarquês, respectivamente].
Teria permanecido na órbita da reputação deles, a de um mero gênio científico? Ou teria, mesmo assim, conseguido saltar para o panteão em que se encontram Aristóteles, Galileu e Newton?
Creio que esta última suposição seja o caso. A obra de Einstein tinha um caráter muito pessoal, uma marca que a tornava reconhecivelmente dele, como é reconhecível que um Picasso é um Picasso.
Ele dava saltos imaginativos e discernia vastos princípios através de experimentos mentais, em vez de por meio de induções metódicas com base em dados experimentais.
As teorias resultantes eram às vezes espantosas, misteriosas e contraintuitivas,
mas continham noções que poderiam seduzir a imaginação popular: a relatividade do espaço-tempo, a fórmula E = mc², o encurvamento dos raios de luz e a deformação do espaço.
Acrescentava-se à aura de Einstein a humanidade simples. A segurança interior era amenizada pela humildade decorrente do assombro diante da natureza.
Ele podia ser desapegado e indiferente para com quem lhe era íntimo, mas com a humanidade em geral deixava fluir uma verdadeira bondade e uma delicada compaixão.
Contudo, apesar do apelo popular e da acessibilidade aparente, Einstein também veio a simbolizar a percepção de que a física moderna era algo que leigos não conseguiam compreender, "esfera de especialistas semelhantes a sacerdotes", nas palavras de Dudley Herschbach, professor de Harvard.
Nem sempre foi assim. Tanto Galileu quanto Newton foram grandes gênios, mas sua explicação mecânica do mundo, por meio de causa e efeito, era algo que a maioria das pessoas pensantes conseguia captar.
No século XVIII, de Benjamin Franklin, e no XIX, de Thomas Edison, uma pessoa instruída conseguia sentir alguma familiaridade com a ciência e até mesmo a ela se dedicar um pouco como amador.
Se possível, deveria ser recuperado um interesse popular por esforços científicos, tendo em vista as necessidades do século XXI.
Isso não quer dizer que todos os que se formassem em literatura deveriam assistir a um curso de física simplificada, ou que um advogado empresarial deveria se manter a par dos avanços da mecânica quântica.
Na realidade, quer dizer que uma compreensão dos métodos da ciência é uma ferramenta valiosa para uma cidadania responsável.
O que a ciência nos ensina, em termos muito significativos, é a correlação entre evidências factuais e teorias gerais, algo bem ilustrado na vida de Einstein.
Além disso, uma admiração pelas glórias da ciência é uma característica animadora para uma boa sociedade.
Ela nos ajuda a permanecer em contato com aquela capacidade que a criança tem de se assombrar diante de coisas comuns, como maçãs que caem e elevadores, e que caracterizam Einstein e outros grandes físicos teóricos.
É por isso que estudar Einstein pode valer a pena. A ciência é nobre e inspiradora, e a dedicação a ela, uma missão fascinante, como as sagas dos heróis nos relembram.
Como a eleição de Trump afeta Lula, STF e parceria com a China
Alexandre de Moraes cita a si mesmo 44 vezes em operação que mira Bolsonaro; acompanhe o Entrelinhas
Policial federal preso diz que foi cooptado por agente da cúpula da Abin para espionar Lula
Rússia lança pela 1ª vez míssil balístico intercontinental contra a Ucrânia
Deixe sua opinião