Renee DiResta lutou por anos contra campanhas de desinformação, catalogando dados de como agentes maliciosos espalhavam notícias falsas on-line| Foto: JASON HENRY/NYT

San Francisco – Antes de o sol nascer em 31 de outubro, Renee DiResta, de pijama, sentou-se na cama e fez login em uma sala de guerra virtual.  

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Por anos, DiResta lutou contra campanhas de desinformação, catalogando dados de como agentes maliciosos espalhavam notícias falsas on-line. Naquela manhã, usando fones de ouvido para não acordar seus dois filhos, DiResta viu pela tela de seu notebook advogados representando Facebook, Google e Twitter falarem em audiências no Congresso que tinham como foco o papel das mídias sociais na campanha russa de desinformação antes da eleição de 2016.  

DiResta sabia as perguntas de cor. Com algumas pessoas também obcecadas em mapear dados cruzados de redes sociais, ela ajudou congressistas a se preparar para as audiências. Naquela manhã, eles se reuniram em um canal dedicado no aplicativo de mensagens Slack para assistir e ouvir as respostas das perguntas que fazem há anos. 

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"Estávamos monitorando de perto para ver quando as empresas davam respostas enganosas ou parciais para que pudéssemos ir atrás", disse DiResta, 36, que ficou imersa em campanhas de desinformação em seu tempo livre do trabalho de fundadora e chefe de marketing na Haven, uma transportadora de produtos de tecnologia. 

O fato de um pequeno grupo de autodidatas chegar a ponto de aconselhar o Congresso sobre campanhas de desinformação mostra quanto tempo as empresas de tecnologia falharam em encontrar uma solução para o problema. Por anos, o grupo informal – com cerca de 12 pessoas – vem registrando dados meticulosamente e publicando relatórios sobre a facilidade de manipulação de plataformas de mídias sociais. 

Em 2016, eles monitoraram milhares de contas no Twitter que, de repente, começaram a usar robôs, ou contas automáticas, para espalhar histórias devassas sobre a família Clinton. Eles acompanharam várias páginas do Facebook, que surgiram do nada, organizadas para criar eventos anti-imigração. Quase todos os integrantes do grupo faziam o monitoramento por hobby, dedicando inúmeras horas de seu tempo livre. 

"Quando reuni os dados e comecei a mapear, vi a escala de tudo aquilo", disse Jonathan Albright, que conheceu DiResta pelo Twitter. Ele publicou um relatório que mapeou, pela primeira vez, as conexões entre sites conservadores que publicavam notícias falsas. Fez a pesquisa como um "segundo trabalho", além de seu emprego como diretor de pesquisa no Centro Tow para Jornalismo Digital na Universidade Columbia. 

Audiências

Senadores e membros do Congresso, que conhecem o trabalho de DiResta através de seus relatórios públicos e de sua função anterior como conselheira do governo Obama sobre campanhas de desinformação, entraram em contato com ela e outros em busca de ajuda para a preparação das audiências.  

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Rachel Cohen, porta-voz do senador Mark Warner, da Virgínia, disse em uma declaração que pesquisadores como DiResta mostraram conhecimento real das plataformas, "em muitos casos, apesar de algumas delas tentarem mina a pesquisa". Warner é membro do Comitê de Inteligência do Senado. 

Uma linha crucial dos questionamentos – quanta influência os anúncios e conteúdos financiados por russos tiveram sobre os usuários – foi o resultado do trabalho de DiResta e outros com uma ferramenta do Facebook. "O Facebook tem ferramentas que monitoram a rapidez com que seus conteúdos se espalham. Os números que informaram originalmente tentavam minimizar isso", afirmou DiResta.  

De fato, nas audiências no Congresso, as empresas de tecnologia admitiram que o problema era muito maior do que disseram inicialmente. No ano passado, Mark Zuckerberg, o diretor-executivo do Facebook, afirmou ser "maluca" a ideia de que informações erradas no Facebook tivessem influenciado a eleição.  

Mas a empresa confirmou ao Congresso que mais de 150 milhões de usuários de seu site principal e de uma subsidiária, o Instagram, viram anúncios politicamente inflamados comprados por uma empresa ligada ao Kremlin, a Internet Research Agency.  

DiResta garantiu que isso é apenas a ponta do iceberg. Minimizar o escopo do problema foi uma "forma ingênua de controlar o estrago. A intenção não é punir o Facebook ou o Twitter. Somos nós dizendo que isso é importante e que é possível melhorar". 

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Em resposta, o Facebook disse que começou a organizar discussões acadêmicas sobre desinformação. 

 "Nós nos encontramos regularmente com dezenas de sociólogos, cientistas políticos, cientistas de dados e acadêmicos da comunicação, e lemos e incorporamos suas descobertas em nosso trabalho. Valorizamos o trabalho dos pesquisadores e continuaremos trabalhando com eles", disse Jay Nancarrow, porta-voz do Facebook. 

Graduada na Universidade Stony Brook em Nova York, DiResta escreveu sua tese sobre propaganda nas eleições russas de 2004. Depois, passou sete anos trabalhando como trader em Wall Street, vendo a lenta introdução da automação no mercado. Ela se lembra do medo inicial do excesso de confiança nos algoritmos, já que eram "agentes daninhos que poderiam manipular o sistema para fazer maus negócios". 

"Olho para isso agora e vejo vários paralelos com os dias de hoje, especialmente a necessidade de nuances nas transformações tecnológicas. Assim como a tecnologia nunca vai abandonar Wall Street, as redes sociais não irão desaparecer da sociedade", disse DiResta. 

Movimento antivacinas

DiResta se mudou para San Francisco em 2011 por causa de um emprego na empresa O'Reilly Alpha Tech Venture Capital. Mas foi só depois do nascimento de seu primeiro filho, alguns anos depois, que começou a pesquisar o lado obscuro das mídias sociais.  

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"Quando meu filho nasceu, comecei a pesquisar vacinas. Comecei a pensar sobre os efeitos do agrupamento onde os movimentos antivacinas estavam concentrados. E questionei: 'Que raios está acontecendo? Por que esse movimento ganha tanta força aqui?'", lembrou DiResta. 

Ela começou a rastrear postagens feitas por contas antivacinas no Facebook e mapear os dados. De acordo com ela, a descoberta foi que a plataforma do Facebook foi desenvolvida sob medida para que pequenos grupos de pessoas ampliassem suas vozes, especialmente se as ideias enveredassem pelo caminho da conspiração. 

"Esse foi um ótimo caso para estudar a informação errada entre usuários", disse DiResta. Através de uma conta que criou para monitorar os grupos antivacina no Facebook, ela rapidamente percebeu que estava sendo levada a outras contas antivacina, criando uma câmara de eco na qual parecia que opiniões como "vacinas causam autismo" era preponderantes. 

"Então, ao divulgar todas essas contas, o Facebook estava criando um redemoinho onde ideias conspiratórias poderiam proliferar", disse DiResta. 

As conclusões que publicou sobre os movimentos antivacina chamaram a atenção do governo Obama, que entrou em contato com ela em 2015, quando autoridades examinavam o uso de desinformação on-line por grupos radicais islâmicos.  

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Ela se lembrou de uma reunião com várias empresas de tecnologia na Casa Branca em fevereiro de 2016, onde chefes-executivos, líderes políticos e oficiais do governo receberam a informação de que as plataformas de mídia social dos Estados Unidos eram a chave da disseminação da propaganda do Estado Islâmico. 

Foi naquela época que conheceu Jonathan Morgan, colega pesquisador de desinformação em redes sociais que havia publicado artigos sobre como o Estado Islâmico espalha sua propaganda on-line. 

"Vimos que não era um caso isolado. Eram ferramentas que qualquer um poderia usar. Dissemos às empresas de tecnologia que elas haviam criado uma forma de atingir os americanos massivamente", contou ela. 

Um ano e meio depois, eles esperam que todos estejam finalmente prestando atenção. "Acredito que essa seja a hora da verdade, quando a sociedade se pergunta qual a responsabilidade dessas empresas de garantir que suas plataformas não estejam sendo manipuladas, e que nós, como seus usuários, não estejamos sendo levados à desinformação", finalizou DiResta. 

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