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Opinião

Ela disse que é “loucura” trans competirem contra mulheres. A militância quer calar sua voz

Martina Navratilova gesticula antes da final feminina entre Serena Williams e Jelena Jankovic durante o US Open de 2008. (Imagem: AFP) (Foto: )

As opiniões recentes da lenda do tênis Martina Navratilova quanto a homens biológicos que competem contra mulheres em eventos esportivos geraram uma reação furiosa por parte de ativistas que acusam a vencedora de 59 Grand Slams e há muito tempo porta-voz dos direitos LGBT de tentar “desumanizar os transexuais”.

Ela foi expulsa do conselho da Athlete Ally, grupo que defende os interesses LGBT nos esportes, e tem enfrentado críticas duras por ter expressado a opinião de que obrigar atletas mulheres a competir contra homens biológicos é “uma loucura” e “uma trapaça”, por causa das diferenças físicas em força, musculatura e densidade óssea entre homens e mulheres.

“Antes de mais nada, mulheres são mulheres, ponto final”, disse a Athlete Ally em sua resposta ao artigo de Navratilova. “Elas não escolhem sua identidade de gênero, assim como ninguém escolhe ser gay ou ter olhos azuis”.

A questão de como uma pessoa chega a uma situação de não-conformidade com seu gênero é motivo de debate, mas fazer a transição pública de um gênero para outro é, sem dúvida, uma escolha.

Ninguém está dizendo que muitas pessoas se submetem a cirurgias ou tratamentos hormonais a fim de competir contra o sexo oposto, mas não há dúvidas de que algumas vantagens da anatomia masculina permanecem em mulheres transgênero – algo que Navratilova aprendeu depois de se comprometer publicamente a “estudar melhor” o assunto.

“Prometi não me manifestar quanto a isso até ter pesquisado o bastante. Bom, fiz isso e, se alguma coisa mudou, é que agora minhas opiniões ganharam mais força”, escreveu ela no Sunday Times, reiterando que é um absurdo que “centenas de atletas que trocaram de gênero por autodeclaração ou tratamento hormonal limitado tenham alcançado glórias como mulheres, glórias essas que vão muito além das capacidades deles enquanto homens”.

Justiça, e não intolerância, é o problema quando se fala em mulheres trans competindo em esportes femininos. As competições atléticas acontecem entre semelhantes, divididos por peso, idade e experiência. Os esportes infantis são organizados por faixas etárias, porque se sabe que crianças de idades diferentes têm habilidades diferentes.

Na verdade, muitos esportes infantis são mistos porque as diferenças físicas entre as crianças de gêneros diferentes de certa idade são desprezíveis quanto ao seu desempenho no esporte. Não há motivo para separar times infantis de futebol por sexo, uma vez que meninas e meninos, aos oito anos de idade, competem em condições iguais.

Para os adultos, contudo, as diferenças são gritantes, e um atleta homem que já tenha passado pela puberdade terá uma vantagem física básica sobre as mulheres, por mais hormônios femininos que ele tenha tomado.

Esse problema é evidenciado pelo fato de que não há controvérsia quanto a homens trans competindo em esportes masculinos, e houve esforços positivos no sentido de permitir que mulheres participem desses esportes.

Ann Meyers recebeu 50 mil dólares para tentar entrar para o time de basquete Indiana Pacers em 1980, como personagem de uma campanha publicitária; Manon Rhéaume tentou se tornar goleira do time de hóquei Tampa Bay Lightning em 1992 e disputou 24 jogos profissionais numa liga menor de hóquei. E a ex-namorada de Navratilova, Nancy Lieberman, jogou num time de basquete profissional masculino, o Springfield Fame, em 1986.

Mas permitir que homens biológicos disputem prêmios em dinheiro ou troféus contra mulheres é algo que distorce a competição em favor dos homens; é algo antidesportivo.

Ouvir Navratilova sendo chamada de transfóbica é até uma ironia, já que ela foi uma das primeiras pessoas a darem apoio, no circuito profissional do tênis, a Renée Richards.

Richards, que nasceu Richard Raskind, era oftalmologista e um bom tenista amador. Ele passou por uma cirurgia de mudança de sexo, ganhou um processo em 1977 contra a USTA (Associação dos Tenistas Norte-americanos) e, já com mais de quarenta anos, disputou campeonatos internacionais femininos, chegando a ser a 20ª do ranking.

Em seu primeiro U.S. Open, aos 43 anos, Richards perdeu a final feminina de duplas para a equipe de Martina Navratilova, então com 21 anos. As duas ficaram amigas e Navratilova contratou Richards como técnica depois que ela se aposentou do circuito.

Até a própria Renée Richards, pioneira dos atletas trans, recuou de sua crença na validade da causa. “Acho que transexuais têm todo o direito de jogar, mas talvez não profissionalmente, porque não é uma disputa justa”, diz ela agora. “Sei que, se tivesse passado por uma cirurgia aos 22 anos e aos 24 tivesse entrado para o circuito, nenhuma mulher conseguiria me vencer. E por isso mudei de opinião”.

É improvável que Navratilova, lésbica que saiu do armário numa época em que uma decisão desse tipo certamente lhe custou patrocínios e outras oportunidades, que contratou uma mulher transgênero como técnica num tempo em que praticamente não se ouvia falar de transgêneros na esfera pública e que há décadas defende as causas LGBT seja uma ativista antitrans. Antiperseguição, sim. Ao longo de toda a sua carreira, ela jamais se deixou levar por pressões.

Tradução de Paulo Polzonoff Jr.

©2019 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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