Matheus de Araújo Moreira Silva tirou 980 na redação do Enem e agora cursa medicina na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia| Foto: Arquivo pessoal
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“Mãe, um dia vou ser médico!” é a frase que resume o começo de uma história de muita disciplina e sacrifícios de um jovem de Feira de Santana, no estado da Bahia. Não foi nada fácil. Para se tornar estudante de medicina na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Matheus de Araújo Moreira Silva, 25 anos, prestou mais de 15 vestibulares e fez o Exame Nacional do Ensino Médio por oito vezes.

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“Ele sempre teve esse sonho de cursar medicina, chegou até a fazer enfermagem aqui na Universidade de Feira de Santana. Foi quando ele decidiu trancar e se dedicar por completo ao curso de medicina”, afirma a amiga Fabiana Lobo Barros, uma das mãos amigas com que Matheus contou.

Matheus terminou o ensino médio em 2013 e foi aprovado no curso de enfermagem na Universidade Estadual de Feira de Santana, em 2015. Dois anos depois, trancou o curso e decidiu estudar para passar em medicina. “Se você plantar um feijão não vai nascer do dia para noite. Tudo na vida precisa de esforço”, ressalta o estudante.

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Além dos esperados percalços na luta para entrar no curso de medicina, a pandemia adicionou mais alguns problemas. Matheus costumava passar horas na Biblioteca Municipal da cidade até ela ser fechada por causa do novo coronavírus. “Ele ficou sem espaço para estudar”, afirma a amiga Fabiana. Sem um lugar para se concentrar nos estudos, Matheus até pensou em desistir. “Tentei estudar em uma associação aqui do bairro, tentei estudar em casa e era impossível. Aí eu pensei em parar. Poxa, depois de quatro anos estudando, falei pra mim mesmo, ‘esse vai ser meu último Enem’.”

Foi quando Fabiana ofereceu uma pequena casa para que ele pudesse se dedicar ao objetivo. “Como a casa estava vazia, ofereci esse espaço de estudo pra ele ficar lá pelo tempo que achasse necessário”, diz Fabiana, complementando: “Mas a casa não tem luz elétrica. Não tinha nem cadeira para ele sentar”.

Sem luz, internet e ventilação adequada, Matheus estudava de segunda a sábado, seis horas por dia. Nessas condições, ele se preparou também fisicamente para a prova, que passou por adaptações em virtude da Covid-19. “Naquele calor de quase quarenta graus, eu estudava com a máscara. Era uma maneira de eu conseguir controlar minha respiração para o Enem. No dia da prova eu ia fazer com máscara, então tudo o que eu fazia tinha como finalidade o Enem”, destaca.

Sem eletricidade, quando anoitecia Matheus tinha que usar a lanterna do celular para enxergar as apostilas.

Aprovação

Matheus foi aluno de escola pública e seus pais são analfabetos. Vai ser o primeiro médico da família. O segredo é o esforço. “Eu era um aluno comum que ficava de recuperação em matemática. Mas era bem tranquilo, estudava certinho, fazia o dever de casa, nada de espetacular”, afirma.

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“Ele teve que começar praticamente do zero todo o processo de estudo dele, tanto que foram oito anos fazendo o Enem e quatro dedicados integralmente para tirar uma nota boa e conseguir passar em medicina”, afirma a amiga Fabiana Lobo Barros.

Enquanto estudava para o vestibular, ele também trabalhava para conseguir se manter. “Desde 2013 eu trabalhava em um turno e estudava no outro”, diz. Antes da pandemia, Matheus dava aula de reforço no bairro onde mora.

Ele tirou 980 na redação do ENEM e ficou em segundo lugar na Universidade Federal da Bahia (UFBA), mas o curso de medicina só tinha uma vaga disponível. Decidiu então se inscrever na Federal do Recôncavo Baiano e passou em primeiro lugar. As aulas começaram de forma on-line no mês passado.

Matheus sonha em ser Ministro da Saúde

Matheus já pensa no futuro. “Pretendo me especializar em Saúde da Família ou neurologia, fazer um mestrado em saúde pública, construir um bom currículo e ainda ser ministro da saúde do Brasil.”

Ele também criou uma conta no Instagram para ajudar outras pessoas com dicas para a aprovação no Enem. “O objetivo é poder ajudar as pessoas que são como eu, que me vêem como inspiração, que se identificaram comigo”. Matheus também busca recursos (link de doação para Matheus) para se manter na nova cidade, Santo Antônio de Jesus, assim que as aulas presenciais forem retomadas.

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Para Fabiana, a história de superação do amigo deve ser exemplo para outros jovens. “Eu não costumo romantizar esse processo porque eu acho que o Mateus não tem que ser uma exceção e sim a regra. Eu acho que ele é um exemplo de força, de superação e eu acho que ele está só no começo”, completa.

Apesar dos obstáculos, Matheus se tornou um exemplo para todo o Brasil. “Eu falava para minha mãe: antes de eu morrer eu vou fazer algo de grande pra todo mundo lembrar de mim. Agora fiz algo de grande”.