Kazimierz Piechowski, membro adolescente dos Escoteiros na Polônia que se tornou um dos primeiros prisioneiros de Auschwitz e liderou uma fuga corajosa do campo de extermínio nazista, ajudando a roubar o carro do comandante e se passando por um oficial furioso da SS, morreu em 15 de dezembro em Gdansk, Polônia. Ele tinha 98 anos de idade.
O Instituto da Memória Nacional, criado pelo governo polonês para investigar crimes cometidos durante a ocupação nazista e o governo comunista subsequente, anunciou a morte, mas não forneceu informações adicionais.
Piechowski tinha 19 anos quando o exército alemão invadiu a Polônia e começou a matar padres, intelectuais e membros da organização de Escoteiros no país em setembro de 1939, temendo – corretamente – que os escoteiros ajudariam a lançar as sementes da resistência.
A captura
Ele se lançou rapidamente para a França, buscando entrar para o exército polonês que estava afastado. Mas ele foi capturado perto da fronteira com a Hungria, preso e enviado em 20 de junho de 1940 para Auschwitz, que havia sido aberto um mês antes pela SS como um campo de concentração para criminosos e presos políticos.
Piechowski, que era chamado de Kazik, ganhou um novo nome – Prisioneiro 918 – e, sob ameaça de morte, assumiu um novo trabalho: trabalhar mais de 12 horas por dia na expansão do campo de trabalho forçado para o núcleo de um elaborado centro de extermínio. Cerca de 1,1 milhão de pessoas, a maioria delas judias, viriam a morrer em Auschwitz até o complexo ser liberado em 1945, de acordo com o Museu e Memorial Auschwitz-Birkenau.
Enquanto muitos eram mortos em câmaras de gás disfarçadas de chuveiros coletivos, alguns presos políticos, incluindo mulheres e crianças, eram deixados nus e mortos com tiros na cabeça do lado de fora de um “paredão da morte”. Mais tarde, Piechowski contou que durante seis semanas ele teve a tarefa de transportar corpos do paredão para o crematório.
Assassinato era muitas vezes visto como um esporte, ou até mesmo um jeito de conseguir férias. “Quando membros da SS estavam entediados, eles tiravam o chapéu de um prisioneiro e jogavam longe”, disse Piechowski ao jornal britânico The Guardian em 2011. “Eles então mandavam o prisioneiro buscá-lo. Quando ele estava correndo, os oficiais atiravam nele. Eles então alegavam que o prisioneiro estava tentando fugir e ganhavam três dias de folga por terem frustrado uma tentativa de fuga.”
Alguns prisioneiros eram espancados até a morte com cassetetes. Muitos morriam de fome. Apenas alguns – 196, de acordo com o museu de Auschwitz – conseguiram escapar com sucesso.
O plano
Piechowski organizou o seu próprio plano de escape improvável em 1942, dois anos depois do dia em que ele chegou a Auschwitz. Ele havia visto muitas tentativas de fuga serem frustradas pelas cercas elétricas e torres de vigilância ao redor do campo de concentração, e sabia que dez pessoas eram obrigadas a passar fome como retaliação a cada pessoa que tentou fugir.
Mas os cálculos mudaram abruptamente quando um amigo de Piechowski, Eugeniusz Bendera, descobriu que ele estava marcado para morrer e sugeriu que eles fugissem do campo de concentração em um carro da SS. Bendera, que era mecânico, tinha acesso ao veículo. Piechowski, que estava trabalhando no depósito, sabia onde encontrar um estoque de uniformes e armas que poderiam permitir que eles se disfarçassem de oficiais da SS.
Em uma tentativa de evitar que os seus colegas de cela sofressem represália, Piechowski elaborou um plano em que ele, Bendera e outros dois prisioneiros –Stanislaw Gustaw Jaster, ex-membro dos Escoteiros, e Jozef Lempart, padre – fugiriam da área principal do acampamento fingindo serem parte de uma equipe de trabalho de quatro membros. Se a unidade inteira desaparecesse, Piechowski deduziu que o supervisor do seu bloco seria considerado o único responsável pela fuga.
Se eles fossem pegos, eles concordaram que se suicidariam.
A fuga
Em uma manhã tranquila de sábado, eles empurraram um carrinho de lixo através do primeiro portão do campo de concentração, abaixo de uma placa que dizia “Arbeit Macht Frei” (“O Trabalho Liberta”). Três dos quatro homens apressaram-se através de uma escotilha de carvão dentro do depósito, e Piechowski levou-os para uma sala onde eles furtaram uniformes da SS, quatro metralhadoras e oito granadas, de acordo com o livro “Holocausto: Uma Nova História”, do historiador Laurence Rees.
Eles entraram em um veloz Steyr 220 – o carro mais rápido na base, pertencente ao comandante Rudolf Höss – e dirigiram em direção ao portão principal do campo de concentração, cumprimentando os oficiais da SS com um “Heil Hitler!” durante o caminho, segundo Piechowski contou. Eles tiveram sorte empurrando o carrinho de lixo e pegando os uniformes do depósito, onde os oficiais da SS não os identificaram, mas no portão mais externo do campo de concentração eles encontraram uma barreira fechada.
“Acordem, seus imbecis!”, Piechowski gritou em alemão para os homens no portão principal, conforme ele contou ao The Guardian. “Abram o portão ou eu vou abrir vocês!”
O portão se abriu, e os fugitivos dirigiram à liberdade.
Retaliação
Comandantes do campo de concentração foram alertados para se atentarem a novas fugas, de acordo com o relato de Rees, mas em Auschwitz apenas o kapo – o prisioneiro que ajudava a vigiar a unidade – de Piechowski foi punido.
Ainda assim, o episódio pareceu atormentar cada um deles por anos. Jaster, trabalhando com o líder da resistência, Witold Pilecki, emitiu um relatório sobre as condições horríveis de Auschwitz para a resistência polonesa, de acordo com o museu de Auschwitz, mas os seus pais foram mandados para campos de extermínio nazistas e morreram lá em represália à sua fuga.
Piechowski também trabalhou com o movimento de resistência conhecido como Exército Nacional. Ele nasceu no vilarejo de Rajkowy, no norte da Polônia, em 3 de outubro de 1919, e cresceu na região próxima de Tczew, onde o seu pai trabalhava na indústria ferroviária e para onde Piechowski retornou antes de entrar para a resistência.
Quando os comunistas consolidaram o poder na Polônia depois da guerra, Piechowski foi sentenciado a dez anos de prisão como um inimigo do estado, de acordo com o jornal de Londres, Mail on Sunday. Ele foi solto depois de sete anos. Depois disso, ele trabalhou como engenheiro no navio Gdansk.
Piechowski voltou a Auschwitz com a sua esposa, Iga, cerca de 30 anos depois da sua fuga. Uma lista completa de sobreviventes não estava imediatamente disponível.
Ele passou anos falando com grupos de estudantes e outros grupos sobre o Holocausto e a sua experiência em Auschwitz, descrevendo pesadelos com cães de guarda, problemas nervosos e um senso de obrigação que o levou a recontar as suas memórias apesar da dor que elas causavam.
“Eu sou Escoteiro, então eu tenho que fazer a minha obrigação – e ser alegre e agradável”, contou ele ao The Guardian. “E eu serei um Escoteiro até o fim da minha vida.”
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