Os eleitores franceses acordaram nesta segunda-feira (24) com uma disputa pelo segundo turno de discursos bem antagônicos: um candidato prega a esperança por uma nação mais aberta e sua adversária adverte sombriamente que a globalização destruirá a França.
Seis coisas para você saber sobre o segundo turno na França
Eleições francesas: o que pensam Macron e Le Pen, os candidatos que vão para o 2.º turno
As vitórias de Emmanuel Macron, de 39 anos, um centrista que nunca ocupou um cargo eletivo, e Marine Le Pen, de 48 anos, uma figura nacionalista que quer retirar sua nação da União Europeia, deixaram claro que os eleitores franceses estão cansados dos políticos tradicionais. Nunca, na história de seis décadas do moderno Estado francês, os dois principais partidos políticos de esquerda e direita haviam sido excluídos da disputa.
À medida que líderes de todo o espectro político começaram a se unir em apoio ao candidato centrista, a fim de negar a presidência do país ao populismo de direita de Le Pen, o sentimento dominante não era o otimismo ensolarado do discurso de Macron, mas o simples medo de que uma vitória da sua rival possa abalar profundamente a França, a União Europeia e o Ocidente.
Os partidários de Macron já reconhecem a dinâmica arriscada do segundo turno, mesmo quando lembram as pesquisas de opinião que o mostram com uma liderança folgada para a votação de 7 de maio. “É preciso ser humilde, a eleição não está ganha, devemos nos reagrupar”, disse Richard Ferrand, secretário-geral do partido político de Macron.
Ferrand se disse “decepcionado” com o candidato da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, que chegou a entusiasmar eleitores jovens com uma abordagem parecida à de Bernie Sanders nas primárias dos Estados Unidos, mas recusou-se a endossar Macron na noite de domingo. Mélenchon disse que seus eleitores – 19,6% dos votos totais – precisavam tomar sua própria decisão sobre o que fazer em seguida.
Le Pen advertiu nesta segunda-feira que as elites políticas da nação estavam se unindo para conspirar contra ela. “A velha e decrépita Frente Republicana, que ninguém quer mais, e que os franceses expulsaram com muita força, está tentando unir-se ao redor do sr. Macron”, disse Le Pen, referindo-se ao esforço bem sucedido de 2002, quando políticos de todo o espectro se juntaram para impedir que seu pai, fundador do partido de extrema-direita Frente Nacional, chegasse à presidência.
Le Pen demonstrava confiança durante um passeio por um mercado em Rouvroy, cidade do norte do país, dizendo que os eleitores franceses não seriam enganados. “Este é um referendo sobre ser a favor ou contra a globalização selvagem”, disse Le Pen, ao distribuir panfletos que diziam “Erradicar o terrorismo islâmico” para vendedores de utensílios de cozinha.
Muitos que abraçam Macron o fazem por preocupação, não por entusiasmo.
“A abstenção não está no meu DNA, especialmente quando um partido extremista se aproxima da tomada do poder”, disse o candidato de centro-direita, François Fillon, em um discurso no domingo à noite, no qual pareceu emocionado. “Não tenho outra opção senão votar contra a extrema-direita, por isso vou votar em Emmanuel Macron”.
Estava longe de ser um apoio retumbante a Macron, cujo discurso de “melhores dias estão à nossa frente” parece muitas vezes desconectado do humor sombrio na França. O desemprego permanece em 10%, nível que perdurou durante o governo do presidente socialista François Hollande, cuja desaprovação popular bateu todos os recordes. O terrorismo e a crise dos refugiados deixam muitos cidadãos sentindo-se amedrontados. Nos resultados finais da eleição de domingo, 49,8% dos eleitores franceses optaram por candidatos que querem “destruir o sistema”.
Em vez de destruí-lo, Macron diz que quer melhorá-lo. Seus objetivos centristas, “nem da direita, nem da esquerda”, em suas palavras, incluem que as nações mais fortes da União Europeia gastem esforços para apoiar as mais fracas. Ele está aberto a receber imigrantes e refugiados e também promulgaria reformas que tornariam mais fácil contratar e demitir trabalhadores.
A questão que se apresenta é se Macron conseguirá converter o apoio de má vontade em apoio entusiasmado. Mesmo vitorioso, ele ainda precisará reunir uma base de apoio no parlamento francês, um grande desafio, dado que seu partido político tem apenas um ano de idade e nenhum legislador.
Se Macron ascender ao palácio de Élysée mas falhar, Le Pen pode retornar mais forte do que nunca em 2022. Ela já superou seu desempenho de 2012 bem como aquele de seu pai, Jean-Marie Le Pen, em 2002.
Enquanto isso, os dois principais partidos da França enfrentam seus fracassos. O candidato socialista, Benoît Hamon, conquistou apenas 6,4% dos votos, um naufrágio notável dado que tinha o apoio do atual presidente.
“Sem dúvida, é o fim de um ciclo, o fim de uma história”, disse o ex-primeiro-ministro socialista Manuel Valls, que rompeu com o partido para endossar Macron.
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