HTML, CSS e JavaScript. Estas três linguagens de programação estão sendo o segredo para diminuir a reincidência criminal em uma prisão na Califórnia, nos Estados Unidos. “O programa The Last Mile começou como um projeto intensivo de seis meses voltado ao empreendedorismo na prisão de San Quentin, no qual homens aprenderam a aproveitar sua paixão para criar uma empresa que inclua um componente tecnológico e uma causa social”, conta Chris Redlitz, em entrevista à Gazeta do Povo.
Redlitz é empresário e co-fundador da The Last Mile, uma ONG criada em 2010 para abordar o impacto societal do encarceramento, uma gigantesca máquina de drenagem de recursos humanos e fiscais. Somente no estado da Califórnia, o custo médio das despesas com prisões é cinco vezes maior do que os recursos destinados ao ensino superior, conta Redlitz.
Os Estados Unidos lideram a lista de países com o maior número de encarceramento em massa: mais de dois milhões de pessoas estão atualmente em prisões e cadeias do país – e a população carcerária cresceu 500% nos últimos 40 anos, segundo dados de junho de 2017 do relatório The Sentencing Project.
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“O programa de empreendedorismo começou com um grupo pequeno, mas determinado, de cinco homens. Após essa primeira experiência, contávamos com mais de 70 participantes e uma comunidade crescente dentro da prisão. Com o apoio da administração e da população carcerária, nós desenvolvemos o primeiro programa de codificação dentro de uma prisão dos EUA em 2014”, diz Redlitz, que por muitos anos trabalhou com aspirantes a empresários no Vale do Silício.
Atualmente, o chamado Code.7370 se expandiu para outras cinco prisões californianas, incluindo duas femininas, e conta com uma lista de espera de mais de 25 estados e países para sua implementação.
Hoje, as taxas de reincidência no estado da Califórnia ultrapassam os 45%. Até o momento, nenhum dos graduados nas turmas do The Last Mile retornou à prisão, conta o empresário.
Fim de um ciclo perverso
Incubadora para inicialização de tecnologia dentro de presídios, o primeiro curso de programação de software tem como principal objetivo fornecer habilidades tecnológicas empregáveis e necessárias para alavancar o crescente setor de tecnologia, como, por exemplo, o de engenheiros de software.
“Nosso programa fornece treinamento de codificação de computador para preparar homens e mulheres para o ambiente da alta tecnologia de hoje. Uma escassez projetada de cerca de um milhão de trabalhos de engenharia de software até 2020 mostra que os graduados da TLM estarão bem posicionados para muitos desses empregos”, diz o empresário.
A princípio, os presos aprendem as linguagens de codificação front-end (HTML, CSS e JavaScript). Depois, mergulham em noções básicas de informática e entram em assuntos mais avançados.
Na visão de Redlitz, a chave para romper o ciclo de encarceramento é garantir a reinserção social pelo emprego remunerado. “Ao quebrar o ciclo e reduzir as taxas de reincidência, os recursos fiscais podem ser redistribuídos de gastos com presídios para a educação. Nos concentramos em reabilitação e oportunidade, em vez de punição. Os programas que proporcionam acesso à educação e tecnologia estão superando a lacuna entre encarceramento e liberdade.”
Brasil
No Brasil, dados do relatório da ONG Human Rights Watch apontam que o número de pessoas no sistema prisional brasileiro aumentou 85% entre 2004 e 2014. Questionado sobre a viabilidade de implementar seu programa de codificação no país, Redlitz não descarta a possibilidade.
“Ele tem sido procurado por instituições correcionais em todo o mundo. A The Last Mile está atualmente desenvolvendo um Sistema de Gerenciamento de Aprendizagem que nos ajudará a atingir esse objetivo”.
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