Quando as pessoas pensam em países polarizados, elas raramente mencionam a Suécia. Ao menos era assim antes de 2020.
A decisão sueca de “levar com leveza” a pandemia de coronavírus – ignorando os lockdowns rígidos e se baseando sobretudo na responsabilidade social para estimular o distanciamento — fez do país um alvo de muitas críticas.
Muitos analistas diziam que a Suécia estava sendo irresponsável e egoísta ao se recusar a impor um lockdown econômico como a maioria dos outros países ao redor do mundo.
Ainda que a taxa de mortalidade per capita permanecesse bem abaixo de vizinhos europeus como o Reino Unido, a Bélgica e a Espanha – países que impuseram lockdowns rígidos – a Suécia se tornou, nas palavras de um repórter da CBS, “um exemplo de como não lidar com a Covid-19”.
Como observado anteriormente, contudo, o fato de a Suécia ter sido atacada tem menos a ver com os resultados das medidas e mais com o caráter dessas medidas. Havia exemplos “de advertência” como a Bélgica, país com uma população semelhante, mas cuja taxa de mortalidade per capita é 50% maior do que a da Suécia.
Ao contrário da Suécia, contudo, a Bélgica impôs um lockdown restrito que, como relatou a BBC em maio, foi fiscalizado “com drones em parques e multas para todos os que burlavam as regras de distanciamento social”. Mas ninguém se importava com a Bélgica porque eles tinham seguido o roteiro dos lockdowns.
Meses mais tarde, a decisão sueca de ignorar lockdowns se mostra a mais acertada. Enquanto boa parte da Europa está sofrendo uma segunda onda da doença, os números da Suécia vão no sentido contrário. Enquanto isso, a Organização Mundial da Saúde e milhares de médicos e autoridades de saúde pública hoje se posicionam contra os lockdowns como forma de conter o vírus.
O motivo para isso é óbvio. Enquanto os prejuízos causados pelos lockdowns são claros — trilhões de dólares em perdas, deterioração da saúde mental e decadência social — não há provas de que essas medidas tenham reduzido as mortes por Covid-10 ou a disseminação do vírus.
Musk: a Suécia estava certa
Os resultados da estratégia sueca se tornam mais evidentes a cada dia que passa. E cada vez mais pessoas estão começando a notar isso.
“A Suécia estava certa”, tuitou recentemente o fundador da Tesla, Elon Musk.
Musk, claro, suspeita da eficácia dos lockdowns há meses.
Ainda em maio, ele ousou retomar a produção na fábrica da Tesla em Fremont, na Califórnia, desafiando as ordens do governo para que a instalação permanecesse fechada.
“A Tesla está retomando a produção hoje, contra as regras do condado de Alameda”, tuitou na época Musk. “Eu estarei na linha de produção com todo mundo. Se alguém for preso, peço que seja apenas eu”.
O ato de desobediência civil de Musk valeu a pena. As autoridades de saúde do condado de Alameda recuaram da decisão, revogando a ordem de fechamento da fábrica e aprovando temporariamente a reabertura do complexo.
As consequências dos lockdowns
A Covid-19 é grave. Até meados de outubro, quase 1,1 milhão de pessoas no mundo todo haviam morrido, de acordo com dados da Johns Hopkins University. Entre eles, havia 216 mil norte-americanos.
Ao contrário de pandemias anteriores, contudo, os custos humanos foram acompanhados por uma recessão mundial e um colapso econômico sem precedente na história contemporânea. (Isso parece confirmar a análise anterior de Musk de que o perigo do pânico era uma ameaça maior do que o vírus em si).
Como notam o economista de Harvard David M. Cutler e o ex-economista-chefe do Banco Mundial Lawrence H. Summers , os custos da Pandemia de 2020 são diferentes de qualquer coisa que o mundo contemporâneo já viu.
“As perdas de produção dessa magnitude são imensas. A perda de produção na Grande Depressão foi 75% menor”, escrevem os autores. “A perda econômica é duas vezes maior do que o custo monetário de todas as guerras que os Estados Unidos travaram desde 11 de setembro de 2001, incluindo as guerras no Afeganistão, Iraque e Síria”.
As consequências econômicas dos lockdowns são inegáveis. Enquanto isso, são escassos os indícios de que eles tenham salvado vidas. Na verdade, novas pesquisas sugerem que os lockdowns ampliaram a disseminação do vírus.
Infelizmente, muitas pessoas ainda querem negar os dados e a ciência. Como disse recentemente um analista do Washington Examiner, quanto mais promissores os números da Suécia parecem, mais furiosas as pessoas ficam.
Esse é o perigo de se politizar o vírus. Ele esconde a realidade. Muitos parecem dispostos a defender o lockdown porque ele foi criado para ajudar as pessoas (ou talvez porque o presidente Trump tenha resistido a esse tipo de medida), mas esse tipo de raciocínio deveria ser evitado.
“Um dos maiores erros possíveis é julgar medidas e programas por suas intenções, não resultados”, disse o economista ganhador do Prêmio Nobel Milton Friedman.
Em vez de rejeitarmos a Suécia e estados como a Dakota do Sul, que expuseram as falhas dos lockdowns, deveríamos agradecê-los.
Sem eles, talvez jamais tivéssemos descoberto a verdade que está se tornando mais óbvia a cada dia: os lockdowns fracassaram.
Jonathan Miltimore é editor-gerente do site FEE.org. Seus textos já aparecerem na revista TIME, The Wall Street Journal, CNN, Forbes, Fox News e Star Tribune.