A despedida de Hugh Jackman como Wolverine nos cinemas gerou boas críticas, superou a expectativa na estreia e, até o momento, assume a segunda posição no ranking de bilheteria em 2017, atrás de “A Bela e a Fera”, com renda de US$ 585.422.644,00 segundo o site Box Office Mojo. “Logan”, em cartaz há um mês, conseguiu bater a arrecadação de estreia do filme anterior da série dos mutantes, “X-Men: Apocalypse” (US$ 65,7 mi) nos Estados Unidos, mas não chegou nem perto do maior sucesso da Fox em 2016, “Deadpool” (US$ 132,4 mi contra US$ 88,4 mi).
Será este um indício de que o público está perdendo o encantamento com as adaptações dos comic books de super-heróis para as telonas? A reportagem checou dados de bilheteria desde 1989 para saber o que, de fato, está acontecendo com este gênero.
Ciclos de vida no cinema: exemplo das comédias românticas
Há quase dois anos o diretor de cinema Steven Spielberg fez uma previsão nada animadora para os filmes de super-heróis ao comparar o gênero com os faroestes. “Nós estávamos por perto quando o Faroeste morreu e vai haver um tempo em que os filmes de super-heróis vão seguir o mesmo caminho”, disse em entrevista à Associated Press, em setembro em 2015, justificando sua opinião ao afirmar que a indústria do cinema é cíclica.
“Nós estávamos por perto quando o Faroeste morreu e vai haver um tempo em que os filmes de super-heróis vão seguir o mesmo caminho”
Usando o mesmo raciocínio e analisando os dados da bilheteria mundial, é possível perceber que recentemente as comédias românticas encerraram um ciclo de vida. Elas tiveram sua fase de ouro entre a década de 90 e os anos 2000 com produções que fizeram boas bilheterias, como “Uma Linda Mulher” (1990), “Quem vai ficar com Mary?” (1998), “Um lugar chamado Notting Hill” (1999), “Do que as mulheres gostam” (2000), “Casamento grego” (2002), “Hitch” (2005) e “Sex and the city” (2008). Em 2002 a renda com produções de comédias românticas teve seu ápice nos Estados Unidos (US$ 878 mi) e no ano seguinte começou uma trajetória de queda, atingindo o menor valor arrecadado no ano passado: US$ 81 milhões (considerando apenas a renda nos EUA). Desde 2009 uma comédia romântica não aparece entre os 20 filmes com maior bilheteria.
Bons resultados até agora
Mas será que o mesmo está para acontecer com as produções das histórias dos super-heróis, assim como previu Spielberg? Os dados de bilheteria coletados mostram que este gênero é um pouco mais complicado de analisar do que as comédias românticas. Primeiro porque eles sempre renderam boas bilheterias: em 1989, por exemplo, o primeiro filme do Batman, da Warner Bros., conquistou o segundo lugar em arrecadação no mundo todo — algo que é explicado pelo alto valor das produções e pelo público-alvo.
“Esses filmes já tem uma audiência fiel: os consumidores de HQ’s. E boa parte destes espectadores vão ao cinema mais de uma vez, seja porque gostou ou para ter certeza de que não gostou”, afirma o crítico de cinema do site Cinemarden, Marden Machado.
Os números de bilheteria passaram a se destacar em relação aos demais gêneros quando os estúdios começaram a investir mais neste filão. Em 2008 quatro produções, incluindo “Batman: o cavaleiro das trevas”, arrecadaram US$ 2,5 bilhões no mundo todo, mostrando à indústria cinematográfica o gênero que seria a galinha dos ovos de ouro dos próximos anos. Foi logo após esse período, em 2009, que a Disney comprou a Marvel e reestruturou suas operações.
“Vai chegar o momento em que o formato dos filmes de super-heróis como conhecemos hoje vai se desgastar”
“A Marvel já vinha com uma estratégia legal a partir de 2000, mantendo-se fiel aos comic books, como visto no “Homem Aranha” em 2002, e isso foi ganhando uma sinergia que acabou desembocando em outros trabalhos, como os filmes do “Homem de Ferro”, que passaram por várias reformulações pra criar o que hoje conhecemos como universo cinematográfico Marvel”, explica o crítico de cinema Luiz Gustavo Vilela.
E foi com essa sinergia que, em 2012, já sob o guarda-chuva da Disney, a Marvel lançou o maior sucesso de bilheteria do gênero, “Os Vingadores”, que teve uma renda global de US$ 1,5 bilhão e hoje se posiciona em quinto lugar no ranking dos filmes com maior arrecadação em todo o mundo.
Reinvenção do formato
De lá até hoje, as produções de histórias de super-heróis para o cinema se tornaram mais frequentes. Nasceram grandes sucessos e fracassos (como “Esquadrão suicida”). Mas o fato é que, mesmo com algumas decepções, até o ano passado, os filmes do gênero continuaram rendendo super-receitas para os estúdios — em 2016 foram arrecadados US$ 4,7 bilhões, somando-se a renda mundial dos filmes “Capitao América: Guerra civil”, “Batman VS. Superman: a origem da justiça”, “Deadpool”, “Esquadrão Suicida”, “Doutor Estranho” e “X-Man: Apocalipse”.
“Acho que o grande cinema tende a implodir por uma questão cíclica, como já aconteceu com os grandes musicais no fim dos anos 1960, que quebraram estúdios com orçamentos cada vez mais inchados e produções ambiciosas, mas que as pessoas já estavam cansadas de assistir”
“Um dos fatores imprescindíveis para este sucesso se deve ao fato de que as culturas pop e nerd se tornaram mais comuns, não estão tão restritas a um grupo específico”, avalia Vilela. Porém o crítico de cinema não descarta a possibilidade de que os super-heróis sejam vistos cada vez menos nas telonas. “Acho que o grande cinema tende a implodir por uma questão cíclica, como já aconteceu com os grandes musicais no fim dos anos 1960, que quebraram estúdios com orçamentos cada vez mais inchados e produções ambiciosas, mas que as pessoas já estavam cansadas de assistir. A tendência é que isso aconteça para que novos cenários possam surgir. A sobrevivência vai depender de que os estúdios entendam a demanda do público e consigam se conectar com a audiência de alguma forma”.
Enquanto isso não acontece, os estúdios continuam investindo neste segmento: mais cinco filmes serão lançados ainda este ano e existem estreias previstas até 2020. “Marvel (BV) e Warner (DC) já tem um planejamento estabelecido até o início da próxima década, até mesmo pelo tempo de produção destes filmes. Por exemplo, um filme que será lançado em 2019, já está em pré-produção. E se eles forem bem sucedidos, teremos mais quatro ou cinco anos com filmes desse filão”, estimou Marden.
“Vai chegar o momento em que o formato dos filmes de super-heróis como conhecemos hoje vai se desgastar. Mas já podemos perceber que as produtoras estão atentas a isso e procurando caminhos diferentes para contar as histórias destes personagens, como já aconteceu em “Deadpool”, e agora com “Logan”, que é mais pesado em termos de conteúdo e violência, e aponta que há público para fazer algo mais consistente”, arremata Marden.
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