‘Partida Fria’: o absurdo insustentável das tiranias| Foto: Divulgação
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Em meio à ameaça de uma guerra nuclear capaz de destruir metade do planeta, que importância pode ter simples uma partida de xadrez? Pelo menos no enredo do filme “Partida Fria”, disponível na Netflix, a resposta é: muita.

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Tendo como pano de fundo as horas decisivas da Crise dos Mísseis, que marcou, em 1962, o ponto mais tenso da disputa entre Estados Unidos e União Soviética, a obra conta a história fictícia de uma partida de xadrez entre o campeão russo Alexander Gavrylov e o americano Joshua Mansky, interpretado por Bill Pulmann. O evento, realizado na Polônia, é importante para a glória dos dois países. Mas, muito além disso, abre uma oportunidade para ações inteligência e contrainteligência. Os americanos precisam descobrir o quão séria é a ameaça russa, que decidira enviar navios militares para Cuba, supostamente com mísseis nucleares.

A partida de xadrez, uma óbvia metáfora para os jogos de poder e dissimulação entre as duas potências, vai perdendo importância conforme a trama se desenvolve. Mansky, um professor aposentado e alcoólatra escalado às pressas para a partida depois que o melhor enxadrista americano é envenenado pelos soviéticos, não exibe, em princípio, as virtudes que se espera de um herói. Mas nem tudo é o que parece.

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Além de garantir uma hora e meia de bom entretenimento, “Partida Fria” exibe a crueldade e o maquiavelismo dos regimes autoritários. Para os russos, os fins justificam os meios – quaisquer meios. E os fins, por si só, já são condenáveis. “A verdade só pode pertencer a nós”, diz, a certa altura, um líder soviético, em uma frase representativa do modo de pensar totalitário.

Lançado em 2019 como produção exclusiva da Netflix e direção do polonês Lukasz Kosmicki , “Partida Fria” traz um enredo intrincado, com personagens complexos. Como um bom filme de espionagem, a narrativa não tem pressa de elucidar mocinhos e vilões, nem explica cada detalhe.

Além disso, o filme começa com uma cena decisiva para depois avançar rumo ao passado, de forma que cada dia é sucedido, na narrativa, pelo dia anterior. Mais adiante, essa lógica se inverte. Isso, somado à complexidade da trama, pode fazer com que o espectador menos atento sinta-se perdido em alguns momentos.

No somatório, entretanto, “Partida Fria” oferece uma boa reflexão sobre o absurdo insustentável das tiranias. Além disso, também traz uma reflexão sobre o eterno dilema entre a liberdade individual e os deveres do Estado – inclusive do lado americano, já que o professor Mansky é cooptado a força para sua missão pelos Estados Unidos. Nem tudo é o que parece.

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