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As Escolas Públicas de Portland [no estado do Oregon, Estados Unidos] lançaram uma guerra contra o “gênero binário” e adotaram um novo currículo radical ensinando os alunos a subverter a sexualidade dos “colonizadores brancos” e começar a explorar “o espectro infinito de gênero”.
Eu obtive um arquivo com documentos de uma fonte dentro das Escolas Públicas de Portland que expõem a natureza deste currículo. As aulas buscam transformar os princípios da teoria acadêmica queer em um programa de formação de identidade para alunos do ensino fundamental, adotado em muitas das salas de aula K-5 ["kay through five", termo americano para o período de educação do jardim de infância à quinta série] do distrito.
A premissa é simples: heterossexuais brancos privilegiados criaram um sistema de gênero opressor para dominar minorias raciais e sexuais. Como o currículo explica, “o gênero é colonizado”, e as sociedades ocidentais usaram a linguagem para apagar sexualidades alternativas. “Quando os europeus brancos colonizaram lugares diferentes, eles trouxeram suas próprias ideias sobre gênero e sexualidade”, diz o currículo. “Quando os Estados Unidos foram colonizados por colonos brancos, suas opiniões sobre gênero foram impostas às pessoas que já moravam aqui. Centenas de anos depois, as formas como pensamos e falamos sobre gênero ainda são impactados por essa mudança.” (Quando contatadas para comentar, as Escolas Públicas de Portland escreveram: “Garantimos que nosso currículo seja LGBTQ + inclusivo para alunos que se identificam como transgêneros, não conformes de gênero, de gênero queer, e queer para criar um ambiente seguro e inclusivo para todos os nossos estudantes”.)
O currículo começa no jardim de infância com uma aula de anatomia com desenhos gráficos da genitália infantil. A lição evita os termos “menino” e “menina” em favor das variantes de gênero neutro “pessoa com pênis” e “pessoa com vulva”, porque, de acordo com o currículo, algumas meninas podem ter pênis e alguns meninos podem tem vulvas. “Qualquer gênero e criança podem ter qualquer tipo de corpo”, diz uma apresentação relacionada.
Na primeira e na segunda série, os alunos são apresentados aos princípios-chave da teoria da identidade de gênero. “Gênero é algo que os adultos inventaram para classificar as pessoas em grupos”, afirma o currículo. “Muitas pessoas pensam que existem apenas dois gêneros, meninas e meninos, mas isso não é verdade. Há muitas maneiras de ser um menino, uma menina, ambos ou nenhum. A identidade de gênero é sobre como você se sente por dentro.” Em seguida, os alunos trabalham em uma lição chamada “Nossos nomes, gêneros e pronomes”. A lição diz a eles que “gênero é como o espaço sideral, porque há tantas maneiras de ser de gêneros diferentes quanto há estrelas no céu”. Os alunos, explica o currículo, podem “mudar seu nome para corresponder a quem são, como gênero, cultura ou apenas ao que gostam mais”. Eles podem ser “meninos”, “meninas”, “cisgêneros”, “transgêneros” ou “não-binários” e experimentar pronomes como “elu/delu” e “ile/dile” [N. do T.: no inglês, eles propõem o uso do plural “they/them” (que serve para eles e elas) para pessoas individuais, e os pronomes inventados (à semelhança de elu/ile em português) são “ze/zir”.], de acordo com suas preferências pessoais. “Só você pode saber qual é o seu gênero”, eles dizem.
Do terceiro ao quinto ano, o distrito começa aulas sobre ativismo “LGBTQIA2S+”. O currículo apresenta as categorias de “homem” e “mulher” como manifestações da “cultura dominante” que tem usado normas sexuais para oprimir minorias. “A cultura, os sistemas e os pressupostos de que todos são heterossexuais são chamados de heteronormativos. A cultura, os sistemas e os pressupostos de que todos são cisgêneros são chamados de cisnormativos”, afirma o currículo. “Portanto, a cultura, os sistemas e as suposições de que todos são heterossexuais e cis são chamados de cis-heteronormatividade”. Esse sistema, de acordo com o plano de aula, é uma forma de “opressão” destinada a beneficiar “meninos cis héteros brancos” e punir pessoas “LGBTQIA2S+”.
A solução, de acordo com as Escolas Públicas de Portland, é obliterar a concepção de sexualidade do “colonizador branco”, com seu rígido binário masculino-feminino, e encorajar os alunos a habitar “o infinito espectro de gênero”. Isso significa destruir o sistema de “cis-heteronormatividade” e promover identidades “queer” e “trans”. Os professores são instruídos a eliminar os termos “meninas e meninos”, “senhoras e senhores”, “mamãe e papai”, “senhora, senhor, senhorita” e “namorado, namorada”, em favor de termos como “pessoas”, “pessoal”, “guardiens” [N.t. no inglês a palavra “guardians” pode se referir a feminino ou masculino], “Srx.” [o “neutro” de senhor ou senhora] e “elusamigue” [N.t. trata-se de uma tentativa de adaptação ao português da expressão “themfriend”, que é “neutra” no inglês]. Os alunos recebem fotografias de indivíduos “não conformes de gênero” e são incentivados a celebrar as bandeiras para identidades “não-binárias”, “gênero queer”, “gênero fluido” e “Dois-espíritos”. Para alguns alunos, a subversão do binário de gênero também pode envolver uma transição de gênero.
Ao final da quinta série, o currículo pede explicitamente aos alunos que assumam um “compromisso com a mudança”, de acordo com os ditames da ideologia de gênero. Os alunos recebem uma lista de seis compromissos, incluindo: “Eu me comprometo a aprender mais sobre o significado das palavras LGBTQIA2S+ e como elas mudaram ao longo do tempo”; “Eu me comprometo a aprender sobre a história e a liderança das mulheres negras trans”; “Eu me comprometo a praticar pronomes e me corrigir TODAS as vezes”; “Eu me comprometo a frequentar o QSA/GSA [N.t.: sigla em inglês para Aliança Gay-Queer-Hétero, que são clubes de afirmação LGBTQI+, geralmente em escolas, cujo papel é fornecer espaço seguro e solidário, além de organizar ações coletivas sobre a temática] e ser um líder na minha escola”; e “Eu me comprometo a assistir e ler livros, filmes e programas de TV que tenham personagens LGBTQIA+”. Em outras palavras, eles se comprometem a se tornar ativistas políticos da teoria queer e da revolução sexual mais ampla.
Este tipo de pedagogia está, surpreendentemente, se tornando comum nos sistemas de escolas públicas dos Estados Unidos. Mas haverá um ponto final. A teoria queer é uma teoria acadêmica fundamentalmente fraca. À medida que se tornar prática nas escolas públicas, começará a prejudicar os alunos, levando-os a uma série de promessas quebradas, incluindo, para alguns, tratamentos hormonais desastrosos e procedimentos cirúrgicos. Eventualmente, à medida que os pais entendem a ideologia e o que ela espera realizar, eles vão se revoltar contra ela – um dia que pode não chegar cedo o bastante.
Christopher F. Rufo é membro sênior do Manhattan Institute e editor colaborador do City Journal.
©2022 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês.