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Em Top Gun: Maverick, Tom Cruise vai contra a ortodoxia de Hollywood

Tom Cruise posa em frente a um avião militar do tipo caça na promoção de seu novo filme Top Gun Maverick
Tom Cruise posa em frente a um caça em Londres em 19 de maio de 2022, promovendo seu novo filme Top Gun: Maverick em um evento filantrópico para trabalhadores da indústria do cinema britânicos. (Foto: EFE/EPA/TOLGA AKMEN)

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O momento não poderia ser mais estranho para a chegada da continuação Top Gun: Maverick. Atrasado pelo confinamento da Covid, o filme se apresenta para um público de filmes de super-heróis de quadrinhos que sequer havia nascido quando original do “I feel the need — the need for speed” [“sinto necessidade — necessidade de velocidade”] estreou em 1986 e lançou Tom Cruise ao estrelato. A franquia de ação mostra coragem, glória e engenho militares na contramão do apoio de Hollywood à irritação e humilhação do regime atual — de tal forma que o clima de torcida do filme quase pode ser confundindo com manifestações do tipo America First [“EUA em primeiro lugar”, expressão patriótica usada por Donald Trump]. Meu palpite é que o disfarce patriótico é oco e que Maverick, fraco e formulaico, é um teste.

Tom Cruise reemerge no papel do aviador naval popular Capitão Pete Mitchell, trazendo-lhe uma maturidade envelhecida inevitável. Mitchell, agora não mais um jovem imaturo e inconsequente, mas ainda com sorriso ávido, mostra as rugas da idade e da experiência — e a sinceridade moral das performances memoráveis mais recentes de Cruise, especialmente em Minority Report e A Guerra dos Mundos. Arrogante demais para a hierarquia militar (“Você já deveria ser no mínimo um almirante de duas estrelas agora, ou ao menos um senador”), Mitchell também conjura o que sabemos das atribuições e persistência na carreira do pop star.

As cenas com Mitchell e o desdenhoso Almirante Simpson (Jon Hamm) são culturalmente reveladoras — enquanto o juvenil Cruise é uma estrela; Hamm, à sua sombra, que atuou na série Mad Men, é um clichê televisivo. Torcemos pela perseverança de Mitchel como se ela própria fosse sucesso. Depois de uma cena espantosamente empolgante de voo em que Mitchell desobedece a uma ordem e ultrapassa a velocidade Mach 10 [dez vezes a velocidade do som], ele é rebaixado para uma posição de ensinar a nova geração de recrutas tudo o que ele sabe sobre voos, brigas e camaradagem. Essas qualidades antiquadas (aplaudidas por personagens menores negros que estão ali para cumprir cota) são tão forçadas quanto o Universo Cinemático Marvel.

Seguindo a onda de sequencite de Hollywood, o Maverick praticamente repete o enredo do primeiro Top Gun. Mas o diretor Joseph Kosinski não faz só replicar a superficialidade enfática de Tony Scott. Tudo é otimizado: as cenas de ação em voo; o reencontro de Mitchel com Penny Benjamin (Jennifer Connelly), uma barista madura e sensual de seu passado; e seu ex-colega “Iceman” Kazansky (Val Kilmer). Todos são reduzidos a koans publicitários que Scott deixava passarem por drama. (A cena com Kazansky é tocante de fraterna, mas também é a cena do futebol de praia sem camisa — versão obrigatória da montagem semi-homoerótica do vôlei de Scott, que por sua vez foi uma reinterpretação de Olympia de Leni Riefenstahl como se fosse um comercial de cerveja.)

Já que a nossa cultura absorveu o trabalho medíocre de Scott, que foi definidor para a pura trivialidade da Paramount dos anos 80 (da qual Cruise é um perfeito exemplo), não podemos negar que o produtor-estrela Cruise entende essa manipulação talvez até melhor que qualquer outro profissional do cinema contemporâneo. Em Maverick, Cruise e Kosinski inovam sobre a assinatura visual de Scott — na verdade, a melhoram. Kosinski (que astutamente transformou as confissões pessoais de Cruise na ficção científica e fantasia de Oblivion) evita a “imersão” de videogame a favor do espetáculo 2D e beleza aérea — os rachas são mais divertidos e com mais suspense que em enlatados da Paramount-80 tais como Caçada ao Outubro Vermelho. A “emoção” de assistir a aviadores 2D mostrando as coisas certas para uma missão perigosa completa a barganha comercial. É familiar e reconfortante — especialmente diante da recente perda de dignidade militar americana e equipamento para o Talibã no Afeganistão.

***

Tom Cruise sabe que, se Hollywood vai recuperar a sua ligação com o autorrespeito dos Estados Unidos depois da maré da década passada de pedidos de desculpas internacionais e protestos raciais domésticos, a resposta pode estar no entretenimento que satisfaça a necessidade de velocidade. A velocidade é algo básico para o cinema — que vem do grego “kinesis” (movimento), tendo a ver com o exercício visceral e emocional conhecido como catarse. Maverick não é entretenimento sensacionalista como Carga Explosiva 3, Fúria em Duas Rodas, Transformers: O Lado Oculto da Lua ou qualquer coisa com a direção de Zack Snyder, mas a sua simplicidade é um desafio aos hits ruins recentes (isto é, à Marvel). A combinação de arte cinética e poder americano cria o teste que Cruise faz com os espectadores cínicos mais jovens.

Não é necessariamente um teste político: a missão de voo que leva os jovens pilotos a uma usina nuclear em algum lugar do leste europeu construída em violação a um tratado unilateral da OTAN, e o desafio de “mostre-me do que você é feito”, não vão significar muita coisa para o público. A ameaça de Simpson ao comportamento rebelde de Mitchell é mais típica: “Eu tenho tudo que eu preciso para te levar à corte marcial e à dispensa desonrosa” evoca as alegações e acusações ouvidas do [Secretário da Defesa Lloyd] Austin, do [ex-Secrátrio da Defesa Mark] Esper, do [General Mark] Milley e dos emissários do Deep State na mídia. [N. do T.: o autor se refere a investigações a respeito da saída dos Estados Unidos do Afeganistão no governo Biden. Deep State, literalmente Estado profundo, é um termo utilizado por Trump para se referir a setores do governo que não respondem à vontade do eleitorado e tramam coisas pelas costas dos pagadores de impostos.]

Maverick é uma distração dessa realidade política desmoralizante, sem precisar consertá-la, ainda assim ilustra o faro de showman de Cruise que talvez os americanos estejam ansiosos por acreditar em si mesmos mais uma vez. Enquanto os filmes mais recentes do James Bond falham no heroísmo, os filmes de ação de Cruise apresentam um senso crível de bravura. Isso é sugerido de um jeito inteligente quando Mitchell se ejeta do caça e depois entra no que parece uma cafeteria dos anos 80 e pergunta “onde estou?” Uma criança espantada responde “na Terra”. É um momento De Volta para O Futuro — como as referências a um passado estável do filme com música pop de Jerry Lee Lewis e David Bowie a “Won’t Get Fooled Again” da banda The Who.

Tanto Maverick quanto o último Missão Impossível de Cruise apresentam um produto comercialmente consistente e neo-Hollywood. Maverick é só entretenimento mediano, mas é um gesto significativo na direção de recuperar uma virtude perdida — a nostalgia americana. Cruise entende isso — os pilotos jovens com diversidade étnica e de gênero meramente concedem o que ele já sabe que de fato eleva o público para longe do mal-estar. Nossa mídia orientada por hype, ao tratar este filme banal como se fosse um feriado nacional, tem pouca chance de tirar Hollywood de seu estupor.

©2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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