A Covid-19 mostrou que muitos políticos e autoridades públicas acreditam na ideologia da segurança acima de tudo. Eles focam obsessivamente em manter-nos seguros, elevam essa ideia única acima de seu lugar apropriado e obrigam a todos a se curvar a ela.
Negócios, igrejas e escolas apregoam a segurança à medida que mudam políticas de longa data. O Estado implementa restrições e força negócios a fecharem em nome da segurança pública. É o objetivo sagrado, e espera-se dos cidadãos que obedeçam e aceitem quaisquer meios que forem necessários para alcançá-lo.
Mas por que a segurança deveria superar todas as outras preocupações, como parece ter acontecido às vezes durante a pandemia?
Um homem que abandona um campo de batalha porque teme a morte é considerado um covarde, não um herói. Se a segurança é o objetivo principal, por que vemos a ação desse soldado dessa forma?
O argumento começa com a ideia de que é melhor viver do que não viver. Mas por quê? Qual o fim de nossa vida? Vivemos para estarmos seguros?
Se homens são apenas animais, isso faria sentido porque a segurança permite aos animais a satisfação de seus desejos e a propagação da espécie.
Mas como disse Aristóteles, “A alma tem uma parte irracional e uma parte racional.” Compartilhamos a parte irracional com o reino animal, mas a parte racional distingue a humanidade do restante das criaturas. Temos capacidades adicionais e necessidades que devem ser exercidas e atendidas para que os seres humanos floresçam.
A própria presença de uma mente indica a capacidade de aprender e a necessidade de nos educarmos. Nossa capacidade de discurso implica que fomos criados para falar com outros, sugerindo outra necessidade humana, a amizade.
O homem possui o poder para discernir o bem e o mal, mesmo que de maneira imperfeita. Essa capacidade, comumente chamada de consciência, confia ao homem a responsabilidade de escolher o que é certo e então agir de acordo com essa escolha.
Essa existência humana que não é completamente material - que a experiência humana é mais do que comida e autopreservação - sugere que algo não-material também existe para além de nosso mundo.
A mente humana, o discurso humano, a consciência humana apontam todos para algum ser inteligente, relacional e bom. Os cristãos acreditam que a nossa procura humana por verdade, amor e bondade converge em Deus e seu filho, Jesus Cristo. Uma vez que o descobrem, os seres humanos designam-se a cultuar esse ser transcendente.
Educação, amizade, virtude e culto surgem todos de nossa identidade única como humanos. Desde que Deus nos criou dessa maneira, uma vida humana próspera deve conter cada uma dessas facetas. A segurança deve atuar como meio em direção ao florescimento humano e não como um fim em si.
Por outro lado, um desprezo desnecessário pela segurança é chamado corretamente de tolice. Como os líderes e cidadão deveria proceder em um mundo perigoso?
A prudência demanda que consideremos nossas ações, se nosso objetivo é bom e nosso meio para alcançá-lo é possível e moral. A justiça requer que “o que quer que deseje que os outros façam a você, faça também a eles”.
Portanto, nós devemos proteger a nós mesmos e aos outros, especialmente aqueles mais vulneráveis a esta doença, mas essas precauções não devem eliminar as atividades que constituem distintamente a vida humana. E devemos compreender que não podemos proteger completamente a nós mesmos, nossas famílias e a outros da doença, das catástrofes e do sofrimento.
Infelizmente, o seres humanos vivem em um mundo decaído que nunca será seguro. Em Learning in Wartime [Aprendizagem em tempo de guerra], o apologista cristão C. S. Lewis observa que “100% de nós morremos, e esta porcentagem não pode ser alterada”.
Nós não podemos escolher não morrer, mas podemos escolher como viver. Como criaturas racionais e responsáveis, podemos considerar a segurança mas não entronizá-la como o propósito da vida.
Em vez de se perguntar o que é seguro, é melhor se perguntar o que é bom.