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Militância ambiental

Empregos verdes: por que eles não são economicamente sustentáveis

Indústria de painéis solares é dominada pela China
Indústria de painéis solares é dominada pela China (Foto: Bigstock)

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Durante o discurso de posse como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na última segunda-feira (6), Aloizio Mercadante declarou que “transitar para uma economia de baixo carbono, com empregos verdes e de baixa emissão é um imperativo que orientará a estratégia do Banco”, de modo a “enterrar de vez o obtuso negacionismo climático que nos tornou o grande vilão ambiental do planeta”. Embora as chamadas “habilidades verdes” já sejam exigidas em cerca de 10% dos anúncios de vagas no Linkedin (que tem cerca de 800 milhões de cadastrados), e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) fale em um ganho líquido de 18 milhões de postos até 2030, experiências nos Estados Unidos, União Europeia (UE) e até na Coreia do Sul mostram que os empregos verdes não são economicamente sustentáveis como o marketing da militância ambiental quer fazer crer.

A OIT classifica como empregos verdes aqueles “que protegem os ecossistemas e a biodiversidade; reduzem o consumo de energia, materiais e água através de estratégias de elevada eficiência; descarbonizam a economia; e minimizam ou evitam todas as formas de poluição ou produção de resíduos”. A agência da ONU para o trabalho também garante que “existe um enorme potencial de criação e manutenção de empregos em todo o mundo através de uma gestão ambiental sustentável”.

A matemática real, no entanto, parece bem menos favorável quando o assunto é criação de emprego. “Acreditar que derrubar grande parte da base sobre a qual nossa economia de mercado foi dirigida (e fazê-lo em um período relativamente curto) levará a uma bonança de empregos é ilusório ou muito, muito otimista”, assevera Andrew Stuttaford, que escreve sobre questões de capital na revista conservadora National Review. “É quase certo que a transição para longe dos combustíveis fósseis aumentará o custo da energia (e, com toda a probabilidade, diminuirá sua confiabilidade). Essa não é uma receita óbvia para a criação de empregos”, completa.

Essa mudança rápida de paradigma, acrescenta o analista, tem ligado um alerta de desemprego em massa na União Europeia. Até 2035, a Comissão Europeia quer eliminar 100% das emissões de carbono de carros novos, com a proibição da venda de veículos movidos a combustível fóssil após essa data. Em dezembro de 2021, o jornal econômico Financial Times noticiou que “meio milhão de empregos estariam em risco sob os planos da UE de banir efetivamente os carros com motor de combustão até 2035, de acordo com fornecedores europeus de automóveis, o mais recente de uma série de alertas sobre os custos de uma rápida transição para tecnologias livres de emissões”.

São 501 mil postos da indústria automobilística europeia fadados a desaparecer no período (sendo que dois terços já deixariam de existir até 2030), segundo 100 empresas ouvidas por uma pesquisa. Enquanto isso, 226 mil novos empregos seriam criados na fabricação de peças elétricas, o que resultaria em um déficit de 275 mil vagas até 2035. “Criar as condições necessárias para a proteção do clima significa não apenas acelerar a transformação, mas também prevenir o desemprego em larga escala”, afirmou Ariane Reinhart, membro do conselho de relações humanas e sustentabilidade da Continental, maior fornecedor de autopeças da Alemanha.

No Reino Unido, o Departamento Nacional de Estatísticas afirmou, em fevereiro do ano passado, que não houve “mudança significativa” no volume de negócios e empregos no setor de baixo carbono e energia renovável do país entre 2014 e 2020, apesar das promessas do governo de aumentar as oportunidades no segmento.

Em um golpe para a promessa do governo de aumentar as oportunidades líquidas de emprego, o disse que seus números mais recentes, cobrindo 2020, não mostraram “nenhuma mudança significativa” na rotatividade e no número de empregos no setor em comparação com seis anos antes. Uma reportagem do jornal The Guardian mostra que “o número de negócios verdes operando no Reino Unido caiu 13% durante o período de seis anos”. Embora os empregos tenham mais que dobrado no setor de veículos e infraestrutura de baixa emissão no período (totalizando 19 mil), o aumento não foi o suficiente para compensar o declínio de 32 mil vagas em outros lugares, como a fabricação de produtos energeticamente eficientes.

“Os empregos 'verdes' são os primeiros a desaparecer quando os tempos ficam difíceis, porque não produzem energia ou valor suficiente”, assegura Andrew Follett, analista de pesquisa na Club for Growth, organização com foco em questões econômicas americanas, governo limitado e políticas públicas conservadoras. “Políticos de esquerda prometem que milhões de bons ‘empregos verdes’ estão chegando, mas as empresas continuam anunciando demissões nesse setor extremamente improdutivo”.

Empresas verdes são menos produtivas

Desde o governo Obama e mais recentemente com Joe Biden, os americanos têm ouvido que os investimentos em energia verde não só salvarão o planeta, como criarão muitos bons empregos. “Quando penso em mudança climática – e venho dizendo isso há três anos – penso em empregos”, declarou Biden (que já havia fracassado em políticas semelhantes quando foi vice de Obama), no mês de julho.

Em outubro, a General Electric anunciou a demissão de 20% de sua força de trabalho de energia eólica onshore baseada nos Estados Unidos. Em julho, a Ford Motor Company disse que precisaria demitir 8 mil funcionários para cumprir sua cota de veículos elétricos determinada pelo governo.

“A realidade é que, à medida que a economia entra em recessão, os setores improdutivos tendem a piorar. . . e empresas verdes são profundamente improdutivas”, afirma Follett. Ele explica que, em 2021, os EUA geraram apenas 163.703 mil megawatts-hora de eletricidade a partir de energia solar, empregando mais de 255 mil trabalhadores, enquanto 778.152 mil megawatts-hora foram gerados por energia nuclear, setor que empregou 66,8 mil trabalhadores.

“Assim, cada trabalhador solar gerou apenas 640 megawatts-hora de eletricidade (o suficiente para abastecer 57 residências), enquanto cada funcionário da indústria de energia nuclear gerou 11.648 megawatts-hora de eletricidade (suficiente para abastecer 1.059 residências), tornando o funcionário nuclear médio 18,2 vezes mais produtivo em gerar eletricidade livre de dióxido de carbono como o funcionário solar médio”, calcula.

As demissões em massa também abalam o setor de energia solar americano (profundamente dependente de painéis chineses, muitas vezes fabricados por trabalho escravo de uigures). Fabricantes ligados à energia eólica na Europa temem o mesmo problema, com o crescimento das turbinas chinesas oferecidas a preços mais baixos no mercado.

O executivo-chefe da Siemens Gamesa, Jochen Eickholt, disse ao Financial Times que há “definitivamente um risco” de que a indústria de turbinas eólicas se pareça com a de painéis solares, onde a China domina a cadeia de suprimentos. Uma das maiores fabricantes europeias de turbinas, a empresa sofreu um prejuízo de 1,2 bilhão de euros [equivalente a R$ 6,6 bilhões na cotação atual] em nove meses no ano passado e anunciou o corte de 10% de sua força de trabalho global.

Professor de Políticas Públicas na Universidade Duke (na Carolina do Norte) e membro do American Institute for Economic Research, Michael Munger argumenta que a alegação de que “estudos mostram” que a “energia verde cria empregos” é um exemplo da falácia da janela quebrada de Bastiat. Trata-se de paradoxo criado pelo economista francês Frédéric Bastiat para ilustrar que a destruição e o dinheiro gasto na recuperação não resultam em benefício líquido para a sociedade.

Assim, o estudioso admitia que “destruir riqueza cria empregos”: “mas havia um contexto mais amplo para as observações de Bastiat sobre o visível e o invisível: uma proposta séria de que toda Paris deveria ser incendiada. Sim, porque criaria empregos. Realmente. (...) quanto o comércio ganharia com o incêndio de Paris, do número de casas que seria necessário reconstruir?”, completa.

Na Coreia, empregos insustentáveis

A criação de “empregos verdes” tem sido um dos focos da atual política do Green New Deal da Coreia do Sul. O professor Taedong Lee, que leciona ciência política na Universidade de Yonsei, em Seul, explica que “no entanto, o governo fez pouco progresso no cumprimento de suas metas e ambições declaradas”.

Em um evento organizado por Lee, em outubro de 2020, jovens relataram suas experiências na busca por uma vaga do tipo no mercado de trabalho. “É irônico que empregos verdes não sejam sustentáveis. Essa é a razão pela qual não gosto do termo 'emprego verde'. Suas vidas pessoais e carreiras são a prioridade para os jovens que buscam empregos verdes. No entanto, as propostas atuais de empregos verdes são posições de curto prazo, como estágios de seis meses; esses são empregos insustentáveis”, contou um deles.

Em 2020, a administração do então presidente Moon Jae-in anunciou um pacote de incentivos de US$ 10 bilhões [R$ 52 bilhões] para criar 1,9 milhão de empregos por meio do K-New Deal até 2025. O objetivo do plano é a transição verde da infraestrutura e do setor de energia, além da inovação da indústria verde. No total, são US$ 3,9 bilhões [R$ 20,3 bilhões] destinados à criação de 659 mil empregos.

“Infelizmente, não há evidências claras de que as políticas de estímulo do governo tenham aumentado empregos e indústrias ecologicamente corretas”, explica Lee.

Para ele, o contexto de crescente desemprego entre jovens, decorrente da pandemia, exige soluções econômicas urgentes e eficazes. “A criação de empregos verdes trará mudanças reais para a economia dependente de combustíveis fósseis e aliviará a desigualdade econômica e a injustiça, ou isso é simplesmente uma promessa vazia apresentada como fachada para a política do governo? Se o governo leva a sério o Green New Deal e a criação de empregos verdes, ele deve desenvolver um sistema eficaz para monitorar e avaliar a eficácia dos empregos verdes”, sugere o especialista.

A experiência da Califórnia

Em agosto de 2015, uma investigação da agência de notícias Associated Press (AP) revelou que uma medida aprovada por 60% dos eleitores da Califórnia três anos antes havia falhado em criar empregos verdes. A Proposição 39 aumentou impostos corporativos sobre empresas de fora do estado, com o objetivo de “criar eficiência energética e empregos de energia limpa” e financiar projetos de “energia verde”.

Metade das receitas fiscais da medida foram destinadas pelo Legislativo ao financiamento de projetos de energia limpa em escolas. A promessa era gerar mais de 11 mil empregos por ano, mas apenas 1,7 mil foram criados no triênio. A receita também ficou além do previsto. Segundo a AP, “os proponentes disseram aos eleitores em 2012 que enviariam até US$ 550 milhões [R$ 2,8 bilhões] anualmente para o Fundo de Empregos de Energia Limpa. Mas arrecadou apenas US$ 381 milhões [R$ 1,9 bilhão] em 2013, US$ 279 milhões [R$ 1,4 bilhão] em 2014 e US$ 313 milhões [R$ 1,6 bilhão] em 2015”.

A agência de notícias levantou ainda que, naquele momento, a Califórnia não era capaz de mostrar quanto do trabalho havia sido realizado desde 2012 ou quanta energia foi economizada. Além de o dinheiro chegar a um ritmo mais lento do que o previsto, mais da metade dos US$ 297 milhões [R$ 1,5 bilhão] destinados às escolas públicas foi para o bolso de consultores e auditores de energia. Além disso, o conselho criado para supervisionar o projeto e apresentar relatórios sobre o progresso ao Legislativo nunca chegou a se reunir.

Durante o período, o estado alocou US$ 12,6 milhões [R$ 65 milhões] em projetos escolares no Distrito Escolar Unificado de Los Angeles, que conta com quase mil escolas, mas nenhum deles foi concluído. A estimativa do escritório do então líder do Senado, o democrata Kevin de Leon, era de que a Proposição economizaria US$ 27 milhões por ano em custos de energia, mas o montante de economia efetivo dos projetos propostos havia sido de US$ 1,4 milhão.

“A Proposição 39 foi ideia do bilionário dos fundos multimercado Tom Steyer, que por acaso fez uma parte substancial de sua fortuna com carvão e outros investimentos em ‘energia suja’. Steyer despejou US$ 29,6 milhões [R$ 140 milhões] de seu próprio dinheiro na campanha”, revela John Seiler, do jornal californiano Orange County Register. Em um artigo no City Journal, o analista afirma que “Leon e Steyer estão supercolados ultimamente”. O investidor estaria despejando dinheiro na Califórnia e em contrapartida “Leon está apresentando projetos de lei que ecoam a agenda ambiental de Steyer”.

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