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Impacto ambiental

Energia “limpa” coloca onças da Caatinga em risco de extinção

Onça parda, puma, suçuarana
Jovem macho de onça parda (conhecida também como suçuarana e puma) tratado em Brasília para reintrodução no Cerrado em 2017. Os felinos grandes da Caatinga enfrentam a nova ameaça dos parques eólicos. (Foto: EFE/Joédson Alves)

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Afastadas pelas turbinas eólicas dos poucos locais em que podem beber água, as onças estão em risco de extinção na Caatinga, vítimas da sede e da incompreensão da população afetada pelo êxodo felino. Apesar de estarem em área de proteção ambiental, uma exceção foi aberta a empresas chinesas, espanholas e francesas para fazer seus parques eólicos. As informações são do Wall Street Journal, na semana passada (17).

A Caatinga, um ecossistema semiárido que perpassa dez estados no Nordeste do país e inclui a ilha de Fernando de Noronha, é o único bioma que existe apenas no Brasil, sem cruzar fronteiras. Singulares também são as espécies de felinos que habitam a extensa área de mais de 730 mil quilômetros quadrados: mesmo quando transitando para outros biomas, as populações locais têm adaptações específicas para o local. São seis espécies: onça pintada, onça parda, jaguarundi, jaguatirica, maracajaí e gato maracajá. Todas, em especial as onças, estão agora sob ameaça de extinção no bioma por causa das turbinas eólicas e o investimento em energia dita “limpa”.

O alerta vem de especialistas como Claudia Bueno de Campos, pesquisadora do Instituto Chico Mendes e cofundadora do Programa Amigos da Onça, que falou ao jornal americano. Assim que começaram as construções das turbinas, as onças, muito sensíveis a perturbações em seu habitat, começaram a abandonar suas tocas. O principal efeito negativo das turbinas é que assusta os felinos nas poucas áreas em que eles encontram água para beber. Os bichos se aventuram para o sertão, onde podem morrer de sede.

Eles também são empurrados para áreas de habitação humana, onde a população, geralmente empobrecida, arma arapucas contra as onças para proteger sua criação, fonte de seu sustento. Um mal-entendido trágico na situação é que a população acredita que, porque estão aparecendo mais, os felinos estão aumentando em número — o contrário da realidade. “As onças estão em todo lugar agora”, declarou o pecuarista José Barros da Silva, de 72 anos, que perdeu cinco bezerros para os predadores no ano passado em sua propriedade em Laje dos Negros, comunidade quilombola do Norte da Bahia. Ele relata que tem vacas com marcas de garras nas costas. Poucos dos locais admitem armar arapucas contra onças.

“A energia eólica é uma proposta fantástica e o Nordeste certamente tem muito vento, mas os parques eólicos também precisam levar em consideração o que está acontecendo aqui no chão”, disse Campos. Ela conta que quem mata as onças também dá um sumiço nos corpos dos bichos, enterrando ou queimando, porque essa caça é crime.

O Boqueirão da Onça, que é um parque nacional desde um decreto de 2018, está em risco de não mais fazer jus a seu nome: o programa de conservação estima que sobraram por lá apenas 30 onças pintadas e 160 onças pardas. Desde 2009, isso representa uma queda de 40% e 20%, respectivamente. Além dos biólogos conservacionistas, também povos indígenas se manifestam contra as turbinas, o que tem garantia de se complicar no embate a respeito do marco temporal.

Os planos dos setores envolvidos é que o Brasil seja o quarto maior produtor de energia eólica até 2027, atrás apenas de China, EUA e Alemanha. No momento, é o sexto maior. O investimento vem de países como França, Espanha e China. Empresas francesas foram as que mais investiram em parques eólicos na Caatinga, como a Engie e a TotalEnergies. Elas têm parceiras nacionais como a Casa dos Ventos, que assegurou que está realizando projetos de conservação.

Ao sul do Boqueirão, uma usina eólica é da China General Nuclear Power Corporation. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) calcula que a China triplicou seus investimentos em energia renovável na América Latina e Caribe nos últimos cinco anos, chegando a R$ 19 bilhões em 2022.

Nem as baleias escapam da influência dos cata-ventos gigantes

Em uma série de reportagens em seu jornal independente Public, o ambientalista Michael Shellenberger tem denunciado o efeito de sons produzidos por navios da indústria eólica sobre os cetáceos (golfinhos e baleias) da costa Leste dos Estados Unidos. Desde 2016, cada vez mais desses mamíferos marinhos têm aparecido mortos na região.

Shellenberger promoveu o documentário do diretor e produtor Jonah Markowitz, “Thrown To The Wind” (“Jogados aos ventos”, em tradução livre), que “prova que as autoridades do governo americano mentiram” a respeito da segurança da construção das turbinas eólicas no litoral. O filme mostra que as embarcações usam sonares a altos decibéis, que perturbam os cetáceos, cuja comunicação por silvos, cliques e vocalizações é essencial para sua vida social.

“Agências do governo americano e os cientistas que trabalham para elas não fizeram mapeamento e pesquisa acústica básicos para sustentar suas alegações”, acrescenta o ambientalista, que se tornou um dos maiores nomes globais de oposição ao alarmismo climático e denúncia do que ele chama de “Complexo Industrial da Censura”.

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