Poucas imagens traduzem tanto o espírito do tempo quanto a da estátua de Winston Churchill, em Londres, completamente coberta por um caixote de metal para não ser atacada por aqueles que se autodenominam antifascistas, há duas semanas. Também por isso, talvez seja uma boa hora para assistir a “O Destino de Uma Nação”, o premiado filme que mostra o líder britânico em alguns dos momentos decisivos da Segunda Guerra Mundial.
Indicado a seis Oscars - venceu os de melhor filme e de melhor ator (para Gary Oldman, brilhante no papel principal) -, o filme do diretor britânico Joe Wright começa às vésperas da eleição de Churchill como primeiro-ministro no lugar do desmoralizado Neville Chamberlain, que fracassara ao apostar que Hitler poderia ser contido pela via diplomática. Toda a ação transcorre em maio de 1940, quando a Alemanha avançava rapidamente para completar a conquista da França e, presume-se, iniciar um ataque à Inglaterra.
O nome em inglês, “The Darkest Hour”, faz mais sentido do que a versão brasileira: o enredo se desenvolve em um momento sombrio na história da Europa e, particularmente, do Reino Unido. Com uma situação militar que beirava o colapso, Churchill precisa superar derrotistas dentro do próprio gabinete de guerra, que viam a rendição como única saída. A fotografia acompanha o clima de trevas. As cenas se passam sobretudo no quartel-general subterrâneo de Churchill, em cenas que retratam a solidão do grande líder inglês.
“O Destino de Uma Nação”, disponível para o público brasileiro na Amazon Prime Video, é uma ode à virtude da coragem. É a coragem do líder britânico, mais do que estratégias militares, que retira os britânicos de uma paralisia mortal.
O filme mostra Churchill com toda sua persistência, que por vezes beira a simples teimosia. E era disso que a Inglaterra precisava. O inimigo que se enfrentava não tinha nada em comum com os adversários de outrora, e qualquer método convencional fracassaria - como demonstrou a capitulação da França.
A persistência de Churchill parece irracional, mas era a única forma de convencer um adversário que só conhecia a linguagem da guerra. “Não se pode argumentar com o tigre quando sua cabeça está na boca dele”, diz o primeiro-ministro, em uma cena marcante.
Mas o filme não mostra apenas os momentos de força de Churchill. Ele chega a duvidar se, no fim das contas, a opção mais racional não é mesmo negociar um acordo de paz. Além disso,o primeiro-ministro britânico era muito mais do que um homem corajoso que calhou de estar no lugar certo. Era alguém de educação refinada, que àquela altura havia escrito 19 livros (inclusive uma obra de seis volumes sobre a crise que levou à Primeira Guerra Mundial), tinha experiência militar considerável e já havia ocupado, dentre outros, o cargo de Ministro de Assuntos Internos.
Para qualquer um que tenha um grau de conhecimento mediano sobre a história da Segunda Guerra Mundial, o filme não traz grandes surpresas. Mas, ao colocar o espectador dentro do bunker de Churchill em momentos cruciais da guerra, ajuda a colocar em perspectiva a grandeza do líder britânico, e a sorte que a Europa teve em contar com alguém como ele naquele exato momento.