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Em 1901, o diplomata Manuel de Oliveira Lima apresentou ao Ministério das Relações Exteriores um parecer a respeito do projeto de liberar a imigração de japoneses para o Brasil. Escreveu que era perigoso misturar o brasileiro com “raças inferiores” – não estava sozinho nesse raciocínio, dado que o decreto 528, de 1890, não permitia a migração de asiáticos e africanos sem expressa autorização do Congresso Nacional, num momento em que o governo estimulava a chegada de Europeus.
Em 5 de dezembro de 1908, a revista O Malho, do Rio de Janeiro, publicou uma charge ilustrando a chegada de imigrantes japoneses ao Brasil. O texto que acompanhava a imagem afirmava: “O governo de São Paulo é teimoso. Após o insucesso da primeira imigração japonesa, contratou 3.000 amarelos. Teima pois em dotar o Brasil com uma raça diametralmente oposta à nossa”.
Passaram-se 36 anos e, em maio de 1945, a revista O Cruzeiro, a mais lida do Brasil na época, publicou uma reportagem ensinando os brasileiros a diferenciar um japonês de um chinês. Assinado pelo jornalista David Nasser, o texto descrevia os japoneses por seu “aspecto repulsivo, míope, insignificante”.
O preconceito contra os japoneses surgiu, portanto, muito antes da Segunda Guerra – quando, de fato, as ações contra cidadãos nascidos em países que pertenciam ao Eixo se tornaram mais agressivas e chegaram ao ponto de haver confisco de bens e limitação à liberdade de ir e vir, e as descrições pejorativas para os japoneses se multiplicaram.
Jorge Amado contra os japoneses
A Assembleia Nacional Constituinte de 1946 chegou a debater uma proposta que proibia em definitivo a entrada imigrantes japoneses. Votaram a favor, por exemplo, todos os deputados do Partido Comunista Brasileiro, incluindo o escritor Jorge Amado e os políticos Carlos Marighella e João Amazonas.
Ainda assim, a comunidade japonesa alcançou grande sucesso no Brasil. Em meados dos anos 1930, os japoneses e seus descendentes eram responsáveis por 46% de todo algodão e 75% do chá produzidos no Brasil – isso apesar das dificuldades no relacionamento pessoal e comercial com os fazendeiros locais.
A partir da década de 1950, quando a comunidade começou a seguir para as cidades, os nipônicos e os descendentes passaram a ocupar grande espaço nas universidades – tradicionalmente, os filhos mais velhos trabalhavam na lavoura e os mais novos eram comprometidos com os estudos.
Em 1960, apesar de a população japonesa não chegar a 1% do total, 10% dos estudantes da Universidade de São Paulo eram japoneses ou descendentes. Em 2009, a USP identificou que 15% dos aprovados em seu vestibular eram japoneses ou descendentes, num momento em que eles representavam 1,2% da população.
Nas carreiras mais concorridas, como Medicina e Engenharia, eles chegavam a representar, em média, 15% e 20% dos estudantes matriculados.
De acordo com um levantamento de 2009 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 28% dos nipo-brasileiros tinham ensino superior completo, contra 8% da média nacional. Além disso, descendentes de avós e bisavós japoneses que residem no Brasil estão um ano à frente dos de ancestralidade ibérica em matemática. Os números levantados mostraram que o desempenho aritmético de alunos do terceiro ano é 35% acima da média. No quinto ano, a diferença em relação aos de sobrenomes ibéricos é de 22%.
O sucesso dos nipônicos no Brasil, o país que detém a maior colônia de imigrantes fora do Japão, se repete em outros locais. Nos Estados Unidos, onde fica a segunda maior colônia de imigrantes, os asiáticos são mais escolarizados (49% têm diploma universitário, contra 28% da média, em dados de 2012), e também têm renda média maior: US$ 66.000 anuais contra US$ 49.800.
Educação e família
Além da educação, os japoneses apostaram em valores pessoais para alcançar coesão social. Nos Estados Unidos, 54% dizem que um casamento bem-sucedido é fundamental, enquanto que a média nacional que pensa assim está em 34%. Dois terços dos adultos asiáticos acreditam que a educação em família é uma das coisas mais importantes da vida – na média, 50% dos americanos pensam assim.
“Os valores dos japoneses são família, propriedade privada, defesa dos direitos privados”, afirma Jorge Tomioka, engenheiro elétrico e professor adjunto da Universidade Federal do ABC. Por isso mesmo, os nipo-brasileiros não buscam ocupar espaços na política nacional, afirma o acadêmico, que é filho de pai japonês e mãe descendente de japoneses. “As práticas de política brasileiras não são vistas para os japoneses como honestas, os valores são diferentes”.
Da mesma forma, diz o professor Tomioka, os nipo-brasileiros são discretos na atuação no campo jurídico, mas ocupam postos expressivos em grandes empresas e no mundo dos esportes.
Apostam, portanto, no próprio esforço para alcançar o sucesso, sem depender de agentes externos. “Os japoneses entendem que educação é independência, é liberdade. E fazem grandes esforços para garantir que seus filhos carreguem essa visão cultural, que valoriza a formação e o esforço”.
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