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Em mais uma de suas campanhas tediosas, a Organização Mundial da Saúde estabeleceu em 2021 que até 2030 seria a Década do Envelhecimento Saudável. Prolongar a vida sem problemas é o sonho dos gerontologistas. Mas até agora ninguém chegou aos 122 anos. Será possível ultrapassar esse limite biológico?
O envelhecimento da população mundial já está se tornando um dos grandes desafios do século XXI: até 2050, uma em cada cinco pessoas terá mais de 60 anos. O aumento da expectativa de vida é um sucesso do progresso humano. No entanto, os avanços vitais do último século estão desacelerando. Agora, o objetivo é envelhecer sem muitos problemas.
No ano 2000, Steven Austad, então professor da Universidade de Idaho, apostou 150 dólares que alguém nascido naquele ano não apenas viveria para celebrar seu 150º aniversário, mas também estaria mentalmente são. O professor da Universidade de Chicago S. Jay Olshansky aceitou a aposta defendendo o contrário. Em 2016, ambos os cientistas dobraram suas apostas. O vencedor será determinado em 2150: o dinheiro, com juros, será recebido pelos descendentes do vencedor, ou até mesmo pelo próprio Steven Austad, se ainda estiver vivo.
Prolongar a vida ao máximo sem grande deterioração, e sem hibernação, é claro, tem sido o grande sonho do ser humano. Como Brandon Milholland, da multinacional de pesquisa farmacêutica IQVIA, e Jan Vijg, do Albert Einstein College of Medicine de Nova York, comentaram há dois anos na revista Nature Aging, esses desejos se refletiam nos deuses imortais e se inspiravam em pessoas lendárias muito longevas, como Noé ou Matusalém. A mortalidade era um castigo divino.
O biólogo alemão August Weismann, no final do século XIX, pensou, de forma mais evolutiva, que o envelhecimento estava programado para que os mais velhos pudessem dar lugar aos mais jovens. Depois de reproduzidos, não tinham sentido biológico. O fato é que até o momento não foi identificada nenhuma base para uma vantagem evolutiva do envelhecimento. Alguns o chamam de negligência evolutiva benigna, seja lá o que isso signifique.
Um limite insuperável
A evidência científica atual indica que romper os limites biológicos da vida humana — 120 a 130 anos — é impossível. Os avanços na expectativa de vida saudável foram espetaculares entre as décadas de 1940 e 1980, mas começaram a mostrar retornos decrescentes já na década de 1990. Assim, na década de 1950, a pessoa mais velha verificada tinha 113 anos no momento de sua morte; em 1997, a francesa Jeanne Calment quebrou o recorde de longevidade ao atingir os 122 anos e 164 dias, cega e surda, mas lúcida. Desde então, apesar do grande aumento de superidosos, o progresso estagnou. Nenhuma outra pessoa, documentada, viveu além dos 120 anos.
A expectativa de vida mundial ao nascer e aos 65 anos aumentou de 47 e 76 anos em 1950 para 73 e 82 anos na atualidade, e prevê-se que chegue a 77 e 84 anos em 2050, não muito além disso. Ou seja, os avanços do último século, graças à saúde pública, segurança alimentar, vacinas, antibióticos e cuidados médicos, causaram principalmente uma enorme redução na mortalidade infantil — que caiu de 200 por 1.000 nascidos vivos no meio do século XIX para menos de 10 por 1.000 atualmente — e um aumento gradual na expectativa de vida, que está desacelerando. E há fatores conjunturais, como a crise dos opioides (fentanil) nos Estados Unidos, guerras ou a pandemia de coronavírus, que estagnam ou reduzem esse aumento.
À parte quebrar recordes — apenas uma em cada 100.000 pessoas viverá mais de 110 anos —, o objetivo atual é alcançar uma longevidade saudável. Pelo menos essa é a intenção da Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030), instituída pela Organização Mundial da Saúde em outra de suas campanhas, mais teóricas do que práticas, que mantêm seus funcionários ocupados. Para a OMS, envelhecimento saudável significa desenvolver e manter, em idades avançadas, a capacidade funcional — física e mental — que possibilita o bem-estar.
E como se faz isso? Muito simples: dieta mediterrânea ou japonesa — lugares onde a expectativa de vida é mais alta —; exercício — pelo menos meia hora por dia —; dois litros de água por dia; oito horas de sono reparador; nada de toxinas no trabalho, em casa, no ambiente ou vícios; atividade cerebral constante — sudoku, idiomas e quebra-cabeças; uma genética tipo a da barata à prova de radiações, e muita sorte.
Mecanismos da caducidade humana
Por precaução, alguns gerontologistas e transumanistas, nada convencidos de que existe um limite biológico de morte, investigam avidamente para compreender os mecanismos da caducidade humana. Eles ficaram eufóricos quando, nos anos noventa do século passado, ficou demonstrado que no verme nematódeo Caenorhabditis elegans — um modelo clássico de pesquisa — uma única mutação genética dobrava sua expectativa de vida natural, especificamente a via de transdução de sinal do fator de crescimento da insulina (IGF1). Daí o motivo pelo qual muitos pesquisadores em longevidade decidiram tomar metformina, um conhecido antidiabético. A rapamicina, um inibidor da proteína mTOR, envolvida no câncer e no envelhecimento, e usada contra a rejeição de transplantes, é outro de seus medicamentos favoritos.
Desde então, foram descobertos novos biomarcadores, mutações e genes protetores que prolongam a vida de vermes, moscas e ratos. Também existem ensaios promissores com restrição calórica em macacos: eles coincidem com as observações paradoxais de sociedades mais saudáveis após períodos de fome ou crises econômicas, desde que sejam reversíveis. Os excessos alimentares, e a comida junk, por outro lado, aceleram a inflamação e a oxidação molecular, duas condições de rápido desgaste celular. Outros fatores envolvidos no envelhecimento biológico são o encurtamento dos telômeros — as extremidades dos cromossomos —, a metilação do DNA e a imunossenescência, um sistema imunológico "enrugado" que traz infecções e tumores.
Alcançada a aposentadoria e se os hábitos prejudiciais — álcool e tabaco, obesidade, sedentarismo e má dieta — foram evitados, em vez de 73 anos, pode-se aspirar a viver 83, uma década a mais. Cruzar esse limiar parece depender principalmente da genética individual e de um sistema de saúde moderno.
Bilionários em busca da "imortalidade"
Os avanços mais recentes têm sido mediados por melhorias no tratamento de condições específicas. Mas a biologia fundamental do envelhecimento não mudou, o que levou ao esgotamento das opções para continuar melhorando. Apesar das promissoras manipulações moleculares em vermes, não foi possível aumentar a vida máxima dos vertebrados.
"Nosso organismo — resumem Milholland e Vijg — é um sistema dinâmico, em estado de degradação e reparação permanente. O envelhecimento significa uma ruptura desse equilíbrio, quando a acumulação de danos ultrapassa a capacidade de reparação. No processo, intervêm fatores muito variados: influências genéticas, comportamentais e ambientais, que poderiam influenciar positiva ou negativamente em cada lado da balança".
Quebrar esse limite biológico, um tema recorrente na ficção científica, é o objetivo de algumas empresas impulsionadas por bilionários em busca da imortalidade terrena. A Fundação Matusalém, por exemplo, criou uma série de prêmios para pesquisar a longevidade em ratos; a Fundação SENS financia estudos sobre envelhecimento e rejuvenescimento; a Calico, subsidiária do Google, colabora com universidades e laboratórios farmacêuticos; a Human Longevity, fundada pelo geneticista Craig Venter, decodificador do genoma humano, assessora sobre genética da longevidade; a Altos Labs, participada por Jeff Bezos, dono da Amazon, tem US$ 3 bilhões para pesquisas científicas; e a Fundação Hevolution, criada pela família real da Arábia Saudita, planeja gastar US$ 1 bilhão por ano na busca de formas de retardar o envelhecimento.
Todos estão tentando aproveitar algumas das últimas ferramentas em biomedicina: CRISPR, inteligência artificial, fatores de Yamanaka, epigenética, proteômica, metabolômica etc. No entanto, se em organismos simples, como na mosca da fruta, o ganho foi uma extensão de 60 a 100 dias de vida, o que não é nada mal, dominar a imensidão de fatores biológicos do ser humano é presumivelmente prometeico. E tentar imitar a evolução e os mecanismos que tornaram as tartarugas ou as baleias longevas, o que envolve milhões de variantes genéticas, se torna uma busca impossível.
Viver mais ou viver melhor?
Há um ano e meio, o escritor científico Jonathan Weiner, em uma análise sobre a busca pela eterna juventude na Technology Review, concluiu que, em última análise, os idosos "apenas querem ajuda para aliviar sua artrose, sua doença renal crônica, sua degeneração macular, seus tumores, sua surdez, sua demência, seu diabetes e sua osteoporose". O objetivo deveria ser "adicionar anos bons às nossas vidas sem aumentar a quantidade de anos ruins no final".
E em um cenário onde, ao término da Década do Envelhecimento Saudável (2030), o número de pessoas com 60 anos ou mais terá aumentado em 34% — de 1 bilhão em 2019 para 1,4 bilhão, e será de 2,1 bilhões em 2050 (uma em cada cinco pessoas) —, com os custos e desgastes que isso implica, esse objetivo deveria ser prioritário.
Todos aspiramos a uma vida longa. Mas, programado ou não, o envelhecimento, com suas dores e aflições, nos prepara para a morte. Nosso arraigado instinto de sobrevivência tem dificuldade em reconhecer, como tantos filosofaram, que o importante não é quanto tempo se vive, mas como se vive, e que uma vida bem vivida vale a pena.