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Um conselheiro de alto nível de Anthony Fauci no Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID), um departamento dentro dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), parece ter tentado evitar a transparência usando seu e-mail pessoal e deletando correspondências relacionadas às origens da pandemia de Covid-19, mostram e-mails enviados em um memorando do Comitê Seletivo da Câmara dos EUA sobre a Pandemia de Coronavírus.
David Morens, conselheiro sênior do diretor do NIAID desde 1998, escreveu em 24 de fevereiro de 2021, que ele “aprendeu com a nossa moça do FOIA aqui como fazer a maioria dos e-mails desaparecerem depois que sou intimado, mas antes da busca começar, então acho que estamos todos seguros”, acrescentando que ele “deletou a maioria desses e-mails anteriores depois de enviá-los para o Gmail”. [Nota do Tradutor: FOIA significa Freedom Of Information Act, lei americana semelhante à Lei de Acesso à Informação brasileira. Ou seja, o assessor de Fauci está dizendo que burlou a lei americana para não enviar os emails requisitos via FOIA]
Em novembro daquele ano, Morens escreveu que “seu Gmail agora está seguro contra a FOIA” e pediu que “NADA seja enviado para mim, exceto para o meu Gmail”. Ele havia escrito anteriormente que “aprendeu os truques no ano passado com uma velha amiga, Marg Moore, que chefia nosso escritório de FOIA e também odeia FOIAs”.
Em um e-mail de 16 de junho de 2020, Morens escreveu que “somos todos inteligentes o suficiente para saber nunca ter armas fumegantes, e se tivéssemos, não as colocaríamos em e-mails e, se as encontrássemos, as deletaríamos”.
Muitas das comunicações divulgadas pelo comitê foram entre Morens e o presidente da EcoHealth Alliance, Peter Daszak, o líder da organização sem fins lucrativos que supervisionou a pesquisa sobre coronavírus em morcegos no Instituto de Virologia de Wuhan. Daszak testemunhou no comitê no início de maio em uma aparição amplamente escrutinada, após a qual o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos suspendeu o financiamento governamental para sua organização.
E-mails publicados no memorando do comitê mostram Morens ajudando Daszak a editar uma carta em resposta à notícia da primeira rescisão do subsídio da EcoHealth pelos NIH em 2020, escrevendo que ele havia “anexado algumas edições para consideração” e achava que a carta salientava “os pontos certos” e apresentava “um caso sólido”.
Mais tarde, Morens escreveu uma carta para a membro do conselho da EcoHealth, Nancye Green, em nome de Daszak, tentando garantir a segurança do emprego de Daszak. Ele escreveu que queria “colocar uma palavra a favor de Peter e da equipe da EcoHealth, e todo o grande trabalho que eles têm feito”, mas que ele e Green tinham “que manter todas as comunicações desse tipo em e-mails privados para que não possam ser recuperados via FOIA”.
Morens também escreveu sobre um “canal de comunicação secreto” para ajudar Fauci e Daszak a evitar que suas comunicações viessem à tona e disse que poderia “ou enviar coisas para Tony em seu Gmail privado, ou entregá-las a ele no trabalho ou em sua casa”, acrescentando que Fauci era “inteligente demais para permitir que colegas lhe enviassem coisas que poderiam causar problemas”.
Em agosto de 2020, uma vez que o subsídio da EcoHealth pelos NIH foi restaurado, Morens perguntou a Daszak se ele receberia um “retorno” por defender Daszak, ao que o presidente da EcoHealth respondeu: “é claro que há um retorno”. Muitas das correspondências entre os dois envolviam Morens fornecendo a Daszak informações sobre o status do subsídio dos NIH para a EcoHealth.
Morens testemunhou na frente do Comitê Seletivo da Câmara sobre a Pandemia de Coronavírus nesta quarta-feira (22) à tarde, alegando que suas referências ao “canal de comunicação secreto” e ao “retorno” eram meramente piadas e dizendo que ele não percebeu que os e-mails que enviou de sua conta pessoal constituíam negócios oficiais do governo.
Ele disse que a menção de um “retorno” era simplesmente “humor negro típico entre pessoas como Peter e eu e outras pessoas que aparecem nesses e-mails”.
“Eu não fiz nada que achasse que fosse um negócio oficial”, Morens disse ao comitê. “Entendo agora que há alguma discrepância entre o que eu pensava e o que vocês podem pensar sobre o que é um negócio oficial” e que ele “pensava que todas essas coisas [que] estava fazendo a partir de [seu] e-mail privado – Gmail privado – estavam fora do domínio do meu trabalho oficial como cidadão privado”.
Quando a deputada Jill Tokuda (Partido Democrata, Havaí) perguntou diretamente a Morens se ele já havia “conduzido negócios governamentais através de suas contas de e-mail pessoais”, Morens sustentou que não tinha entendimento de que essas comunicações estavam dentro de sua capacidade como funcionário do governo.
“Alguns dos e-mails que vi que vocês forneceram parecem bastante incriminadores”, Morens disse ao comitê. “Eu não sei o que são. Não me lembro deles. Mas sim, parece que cometi um erro em mais de uma ocasião, mas certamente não era minha intenção fazer isso.”
A deputada Debbie Lesko (Partido Republicano, Arizona) então leu uma lista de e-mails de Morens e perguntou se ele gostaria de mudar seu depoimento anterior de que ele não usou intencionalmente seu e-mail pessoal para conduzir negócios governamentais.
“O contexto é que esta comunicação por Gmail foi configurada puramente para lidar com coisas pessoais que não eram negócios do governo”, respondeu Morens, para a incredulidade de Lesko.
“Com todo o respeito, como você pode dizer isso quando claramente sabe que todos esses e-mails estavam intencionalmente evitando o FOIA?” Lesko perguntou. “Você disse isso com suas próprias palavras, senhor.”