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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva coordena reunião de balanço dos 100 dias de governo, com os ministros, em Brasília, dia 10/04/2023
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva coordena reunião de balanço dos 100 dias de governo, com os ministros, em Brasília, dia 10/04/2023| Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Nesta segunda-feira (10) o governo Lula completou 100 dias. Em editorial, a Gazeta do Povo afirmou que esse período foi perdido "em factoides, discussões desnecessárias, a volta do tradicional 'nós contra eles', a tolerância com ministros encrencados, o simples desmonte de uma série de avanços do governo anterior, o fim da tal 'frente ampla' costurada para levar Lula à vitória eleitoral e a ausência quase completa de projetos estruturantes para o país."

Perguntamos a vários de nossos colunistas qual a opinião sobre os 100 primeiros dias do governo Lula. Confira abaixo o que eles disseram.

Rodrigo Constantino

O desgoverno Lula completa cem dias, e muita gente se mostra assustada, mesmo entre aqueles que fizeram o L. Não deveriam. Não há surpresa para quem tem mais de dez anos de idade e não sofre de amnésia. Não tem como acusar o “descondenado” de estelionato eleitoral desta vez. Falam que Lula “dilmou”, mas esquecem que a desgraça do governo Dilma foi plantada ainda no governo Lula, cujo ministro da Economia era inclusive o mesmo.

Lula sequer apresentou um plano de governo, mas nem precisou: o ódio a Bolsonaro era tanto na elite tucana que isso foi o suficiente para se unir ao PT com o intuito de “salvar a democracia”. Nas poucas falas durante a campanha, Lula deu claros indícios de que faria exatamente isso: bagunçar a casa em ordem herdada de Bolsonaro, furar o teto de gastos, paralisar privatizações, reverter conquistas importantes da equipe de Paulo Guedes, aproximar-se de ditaduras socialistas companheiras etc.

Qual a novidade, então? No mais, era evidente que o terceiro mandato de Lula seria mais radical, pois o líder petista, após sua condenação e prisão, estava com sede de vingança, raivoso. A tal “frente ampla” nunca passou de uma piada de mau gosto. Lula quer ver todos aqueles que lutaram contra a corrupção pagando penitência, o que alimenta sua narrativa fajuta de perseguido político. Os tucanos que não foram capazes de enxergar isso são muito bobinhos mesmo.

Em suma, os cem primeiros dias da volta do lulismo ao poder são já uma catástrofe, mas não podemos aliviar a barra de quem colaborou com essa tragédia, pois ela era anunciada. Todos aqueles que demonizaram Bolsonaro são cúmplices dessa situação lamentável.

Agora é torcer para que o sistema podre e carcomido, dominado por tucanos e fisiológicos, consiga impedir o pior e ao menos preservar a galinha dos ovos de ouro. Pois o risco que corremos, claramente, é virarmos rápido demais a próxima Argentina.

Flávio Gordon

Em seus primeiros cem dias, o governo – ou como prefiro chamar, o regime – de Luís Inácio Lula da Silva III tem sido o que qualquer pessoa sensata já podia prever: um governo de destruição nacional. Na economia, temos retrocesso em todos os setores, com aumento de tributação, desprezo completo pela responsabilidade fiscal, ataques à independência do Banco Central, crescimento da inflação e do desemprego, queda da bolsa de valores, desestímulo ao investimento, sabotagem ao agronegócio etc.

Na política externa, o país volta a se aliar às piores ditaduras e autocracias do mundo, incluindo a de Daniel Ortega – condenada até mesmo pela leniente ONU, mas apoiada por Lula e o PT – e a do Irã, cujos navios de guerra puderam atracar livremente no país. Ademais, o regime coloca o Brasil em posição totalmente acadelada em relação à China, que avança com sua política externa agressiva e expansionista.

Sem nada de positivo a oferecer, o descondenado-em-chefe faz do Estado brasileiro instrumento de uma vingança pessoal contra aqueles que o condenaram, chegando a tratar com deboche o plano de uma facção criminosa de assassinar autoridades, notadamente o senador e ex-juiz Sérgio Moro.

Enquanto isso, os sinais de leniência com o crime organizado por parte de governo geram um estado de terror e anomia, com grupos terroristas tomando de assalto um estado como o Rio Grande do Norte, por exemplo, e agora os recorrentes ataques em escolas. Antes que preocupação com as vítimas, o regime busca extrair dividendos políticos da barbárie, lançando a culpa sobre opositores e, de maneira cínica e oportunista, criando instrumentos para a sua criminalização.

Leonardo Coutinho

O governo Lula 3 completou cem dias, mas a sua política externa é muito mais longeva. As ações do presidente no atual mandato são a continuação do que ele sempre fez, mesmo estando fora do Planalto e, até mesmo, na prisão. Luiz Inácio Lula da Silva se especializou na diplomacia paralela (quase paraestatal). Quando era presidente, participou, por exemplo, das maquinações que levaram o ex-guerrilheiro Mauricio Funes a ser eleito em El Salvador, em 2009, com recursos desviados pela Odebrecht.

Fora do governo, fez o mesmo por Hugo Chávez, em 2012; e por Nicolás Maduro, em 2013. Depois do Impeachment de Dilma Rousseff ele encampou uma campanha de difamação do Brasil para salvar a própria biografia e de seus companheiros. Muita gente acreditou que a democracia havia morrido com a queda de Dilma. O Papa Francisco, por exemplo, virou as costas para o Brasil em protesto pela “situação difícil” que o país vivia depois do impeachment.

Da prisão, Lula e sua turma seguiram remando. Pintando o país com as cores do fascismo e ditadura. O mundo, pouco a pouco, foi acreditando. Com Jair Bolsonaro no poder foi uma avenida. Temas como a destruição da Amazônia, extermínio indígena, racismo e o genocídio durante a pandemia ajudaram a pintar um Brasil horrendo.

Lula voltou e achou que seu carisma bastava para colocar o Brasil de volta no mapa. O tal “O Brasil voltou”. Os europeus e americanos, por exemplo, acreditaram na tragédia amazônica de tal forma que não há Marina Silva que dê conta de convencê-los do contrário. O agronegócio foi fatalmente demonizado e o país vai pagar caro pela propaganda negativa.

Lula e o PT ganharam a simpatia da administração Biden durante a campanha, mais por antibolsonarismo que por qualquer outra coisa. Até os mais sonsos dos assessores da Casa Branca sabem do antiamericanismo. Lula e seu partido têm um lado. Estão fechados China, Rússia e as ditaduras bolivarianas de Ortega e Maduro. Sem falar de Cuba, o paraíso da turma. Os primeiros cem dias mostraram o previsto. Lula não mudou. Seu compromisso com a democracia é periférico. Ele se molda conforme a ideologia, amigo ou ocasião. Sempre foi assim e parece que assim será.

Francisco Escorsim

Nesses 100 primeiros dias nada me chamou mais a atenção do que o posicionamento retórico do presidente, diferente de seus outros governos. Uma postura, por incrível que pareça, sincera. Nunca antes na história deste país Lula precisou mentir tão pouco. Quase tudo o que tem falado é o que realmente acredita. Na prática, não houve tempo suficiente para se avaliar pelos frutos, bons ou ruins, as medidas implementadas (bem poucas, na verdade), mas o posicionamento simbólico é muito claro, indicando o abismo para onde o governo deseja conduzir o país.

Há que se destacar também o trabalho da assessoria de imprensa de Lula, quase toda a antiga “mídia tradicional”, que nos quatro anos anteriores não deu uma notícia sem adjetivar os fatos e, agora, parece ter guardado todos os adjetivos na carteira.

Luciano Trigo

Acredito que o problema maior do governo é estar preso à mentalidade e ao discurso de 2003. É como colocar um processador Pentium em um computador de 2023: não vai rodar direito, toda hora vai travar. Muita coisa mudou em 20 anos, a sociedade amadureceu e o contexto internacional é bem menos favorável, mas a narrativa permanece a mesma, inclusive na aposta do “nós contra eles” que tanto mal faz ao Brasil. Como o tempo não anda para trás, esse descompasso entre discurso e realidade já começa a gerar uma percepção de inércia e um sentimento de frustração na parcela moderada dos eleitores do PT e no próprio sistema que se uniu para derrotar o ex-presidente. As incertezas na economia e a frequente relativização da liberdade de expressão são altamente preocupantes.

Bruna Frascolla

Estes cem dias de governo foram marcados por três ismos: o antibolsonarismo histriônico, o antiamericanismo de fachada e o globalismo adotado em subserviência às megacorporações ocidentais.

O primeiro consistiu naquela canetada que revogou todos os decretos de Bolsonaro. Não interessa que o brasileiro tenha respondido “não” ao desarmamento em 2005, quando foi chamado a votar no referendo: os bem-pensantes pagos por Soros decidiram que isso é bolsonarismo e pronto.

O antiamericanismo de fachada existe para satisfazer as alas mais velhas da esquerda, que, após décadas de brados contra o imperialismo, de repente têm que engolir que Biden e o capital internacional são bondosos, enquanto que os reais vilões do Brasil são os porteiros evangélicos e os pescadores amazônidas. Para esse satisfazer segmento, Lula fica dando declarações lacradoras em defesa de um ditador irrelevante como Ortega.

Quanto ao globalismo, esse nos legou os piores momentos do governo até então: a expulsão maciça dos brasileiros de uma área do território nacional fronteiriça e cheia de riquezas minerais (a área da Raposa Serra do Sol) e a ida do Ministro da Justiça e Segurança Pública, sem segurança, à sede de uma ONG bancada por Soros numa favela dominada pelo narcotráfico internacional, em meio a uma crise de segurança pública.

Guilherme Macalossi

Na prática, Lula está governando há mais tempo do que apenas os 100 dias oficiais. Quando Bolsonaro se recolheu aos porões do Palácio da Alvorada depois de sua derrota no 2° turno, abriu espaço para o protagonismo de seu adversário, já eleito mas ainda não empossado. Ainda que sem a caneta na mão, o capital político estava com Lula, e este o colocou em prática para a aprovação da PEC da transição. Era necessária, ainda mais considerado a impraticabilidade do orçamento deixado pelo antecessor, que se evadiu do país como forma de não se submeter ao rito institucional da alternância de poder.

Lula quase não sentou na cadeira. Havia quem, dentro do governo anterior, e também acampados na frente dos quarteis, desejasse uma intervenção militar. A súcia que atacou os três poderes em Brasília queria revogar a soberania da voto. O fatídico 8 de janeiro também faz parte dos 100 dias de governo, uma vez que ali se tentou abreviá-lo a força. Derrotado o golpismo, é preciso governar, sem esquecer da necessária punição aos partícipes da tentativa de ruptura.

Nesses três primeiros meses, o lulopetismo usou o novo governo para reerguer o que entende ser seu legado. Uma ponte para o passado.

Lula fez uma série de anúncios, reciclando programas sociais de seu mandato anterior. Só faltou o PAC, cuja mãe ele despachou para a China, sem PT e muito menos saudações. Mas os anúncios são isso: discursos e intenções. Há uma fila da Medidas Provisórias a serem votadas no Congresso Nacional, onde ainda não há base de apoio estruturada. Lula não teve o teste de fogo das votações. Arthur Lira já alertou que o governo não tem votos, mesmo turbinado o Ministério das Relações Institucionais com um orçamento secreto para chamar de seu.

Na falta de ações concretas, para além da referida PEC da Transição, sobram declarações destrambelhadas de rematados terraplanistas econômicos. Lula também lidera um insano ataque o Banco Central, que lhe serve adequadamente como inimigo a ser combatido. Ilustra teorias conspiratórias variadas fazendo de Roberto Campos Neto um obstáculo ao seu plano de fazer o Brasil crescer, como se os juros não fossem consequência estrutural das condições do país, muitas delas herdadas, outras produzidas por ele e seus apoiadores.

Lula tenta voltar para 2010, quando a realidade era outra e quem lhe fazia oposição era o insosso PSDB. A nomenclatura brasileira mudou. Ele não tem, nem nunca mais terá, os índices de aprovação daquela época. Assumiu sob uma polarização que, no passado, ele mesmo tratou de parir, e que vai consumi-lo na medida em que ignorar os extratos políticos de centro e prestar tributo apenas aos seus próprios minions. Se esse for o caminho, terminará seus quatro anos fazendo demagogia sobre escombros.

Ilona Becskehazy

Em 100 dias de Governo do Lula Verdadeiro, o que precisa da militância da extrema esquerda (o lado do espectro que não respeita propriedade privada, liberdades individuais e a legislação vigente) para ser eleito e se manter no poder, nenhuma surpresa… Seus apoiadores trabalhando firme para derrubar normativas que podem melhorar o desempenho e/ou resultados dos imensos investimentos que se faz na educação no País.

Seja de forma histérica para derrubar a reforma do ensino médio, seja ainda de forma subterrânea, para derrubar a Resolução que deixa os cursos de Pedagogia mais exigentes e restritos à atuação nas primeiras etapas escolares, ou escancarada com o apoio majoritário da grande imprensa para derrubar a política nacional de Alfabetização, o petista e suas hordas de gafanhotos institucionais querem destruir tudo de bom que foi feito antes deles, mas, principalmente, o que lhes limita a sede por poder.

Na educação, a esquerda tem muito mais poder que em outros setores. Provavelmente, vão estragar ainda mais que na economia ou no agronegócio. Sim, ainda há o que possa ser piorado no setor educacional, por pior que ele já seja, com a ajuda dos sempre companheiros dos sindicatos.

Conteúdo editado por:Jones Rossi
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