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A East Side Community School de Nova York recentemente enviou uma carta pedindo que os pais brancos se tornem “traidores da branquitude” e defendem a “abolição branca”.
A mensagem, enviada pelo diretor Mark Federman, trazia um gráfico que mostrava os oito estágios do desenvolvimento da identidade branca – da forma mais baixa, o “supremacismo branco”, passando por formas intermediárias, como “branquitude confessional” e “traição da branquitude”, até a forma mais elevada, o “abolicionismo branco”. O objetivo do processo, de acordo com o criador do gráfico, o professor Barnor Hesse, da Northwestern University, é questionar o “regime de branquitude” e, por fim, “subverter a autoridade branca” e “não permitir que a branquitude se reafirme”.
Na carta aos pais, Federman se lança numa cruzada anticonversadora, dizendo que “o racismo e o ódio geralmente alimentam as crenças dos conservadores”. Ele chama o ex-presidente Donald Trump de “valentão mentiroso, racista, sexista, odioso e negacionista” e descreve os apoiadores de Trump que participaram dos atos de 6 de janeiro como “uma multidão de supremacistas brancos”. O surto mais recente de Federman não surpreende, como afirmou o pai de um aluno que não frequenta mais a escola. O pai, que pediu para permanecer anônimo, disse que Federman criou um ambiente progressista que dividiu alunos e pais.
A linguagem que Federman usa na carta traz incômodos ecos históricos. A Ku Klux Klan e os neonazistas usavam o termo “traidor da raça” para descrever os brancos que cruzavam os limites raciais para trabalhar, se casar e se tornarem amigos dos não-brancos. O uso do termo “abolição branca” também é problemático. Federman e Hesse dizem querer abolir a “branquitude” como uma construção cultural e social, mas eles também usam o termo para descrever uma essência racial imutável. Como observou o professor Geoffrey Miller, da Universidade do Novo México, “aplicado a qualquer outro grupo, isso soaria como um eufemismo monstruoso para o extermínio em massa e a aniquilação cultural”.
Não é a primeira vez que Federman envolveu a escola que administra numa controvérsia. Em 2007, um aluno da East Side deu um soco na cara de um policial e foi preso. De acordo com os registros da polícia, Federman pediu ao policial que levasse o aluno pela porta dos fundos, para evitar o constrangimento. O policial, contudo, recusou e Federman impediu que o policial deixasse a escola pela porta da frente, “se debatendo todo para evitar ser algemado e preso”. A polícia prestou queixa contra Federman por resistir à prisão e obstruir o trabalho da polícia (a justiça mais tarde arquivou o processo).
Em 2014, depois da morte de Eric Garner quando em custódia da polícia, Federman enviou uma carta aos alunos pedindo que eles se unissem num protesto que exigia que o a Procuradoria dos Estados Unidos abrisse um processo criminal contra um dos policiais nova-iorquinos envolvidos no caso. O Departamento de Educação o conteve, dizendo a Federman que o protesto era “perigoso, não tinha valor educativo e se mostrava tendencioso”. Relutante, Federman retirou o apoio da escola ao protesto, mas 70 de seus alunos deixaram a sala de aula e pegaram o metrô até o Brooklyn para protestar contra a polícia de Nova York.
Depois que contei a história desse material nas redes sociais, Federman enviou outra carta aos pais de seus alunos. “Quero deixar claro que não acredito que fiz nada de errado”, escreveu ele num e-mail para toda a escola. Federman, então, instruiu as famílias a não falarem com a imprensa. “Por favor, não deem entrevistas. Não queremos estimular essas pessoas. Se alguém lhe enviar um e-mail, por favor, me encaminhe”, escreveu ele.
“Fui surpreendida” pelas recentes mensagens sobre “abolição da branquitude”, disse um pai cujos filhos frequentavam a East Side Community School. Muitas famílias compartilham da opinião, de acordo com este pai, mas “temem se manifestar” e serem considerados racistas. O conselho desse pai é simples: “precisamos parar de doutrinar e radicalizar nossa juventude”.
Levando em conta a ascensão da teoria racialista nas escolas públicas, é mais fácil falar do que fazer.
Christopher F. Rufo é editor do City Journal e diretor do Discovery Institute’s Center on Wealth & Poverty.