Apesar dos esforços do “aparato de publicidade” da Casa Branca de tentar promover os primeiros 100 dias do presidente como um sucesso, a nova administração, na verdade, como declarou um editorial do New York Times, se vê atormentada por “muitos passos em falso”, o que inclui, como sua primeira grande iniciativa, um “fiasco” na tentativa de vender um dos seus pacotes legislativos e um processo de confirmação “aleijado”. Tudo junto, isso produziu uma “enxurrada de artigos lamentando a falta de foco da Casa Branca”. Os primeiros 100 dias, declarou o Times, são um período que o presidente “poderia preferir esquecer”.
Mas o presidente em questão não é Donald Trump. Foi assim que, em abril de 1993, o Times descreveu os primeiros 100 dias da presidência de Bill Clinton. Não havia com o que se preocupar, no entanto, garantia o jornal aos seus leitores: “Ainda está cedo, e cem dias, na realidade, não significam muita coisa”.
E o Times tem razão: Os primeiros 100 dias, a bem da verdade, não significam quase nada.
Trump realizou algo mais significativo nos seus primeiros 100 dias do que fez qualquer outro presidente recente: a confirmação de Neil Gorsuch na Suprema Corte
No momento, a Casa Branca do governo Trump parece estar em pânico, conforme se aproxima esse primeiro marco da sua administração, procurando desesperadamente por qualquer coisa no último minuto para mostrar serviço. Ela vem fazendo pressão no Congresso para votar o cancelamento do “Obamacare” [o sistema de saúde instaurado pelo governo anterior] e arrisca um “fechamento” (shutdown) do governo numa tentativa de forçar os democratas a pagarem pelo muro na fronteira com o México, em vez de aprovar uma extensão direta dos níveis orçamentários atuais. E o presidente anunciou (para a aparente surpresa da sua própria equipe) que revelaria seu plano de reforma tributária já na quarta-feira, antes de ele estar totalmente pronto.
A isso tudo eu digo o seguinte: calma, senhor presidente. Não tem por que ter pressa. Ignore os críticos. Você está se saindo bem.
Trump realizou algo mais significativo nos seus primeiros 100 dias do que fez qualquer outro presidente recente: a confirmação de Neil Gorsuch na Suprema Corte. As primeiras realizações dos antecessores de Trump tiveram, todas, efeitos muito fugazes. O estímulo econômico do presidente Barack Obama (com sua falsa promessa de que iria chover empregos) já foi há muito esquecida. Os cortes fiscais de George W. Bush só foram assinados em junho e em parte anulados por seu sucessor. Mas o sucesso de Trump em colocar Gorsuch, de 49 anos, na Suprema Corte irá afetar a direção do nosso país ao longo de uma geração inteira. De fato, pelas próximas três décadas, na qual os conservadores terão um peso maior, Trump poderá contar a sua decisão, aprovada com 5 votos contra 4, como uma das suas conquistas dos primeiros 100 dias. Nenhum outro presidente moderno dos EUA pode alegar ter tido um impacto tão duradouro como esse num período de tempo tão curto.
Trump também fez algo nos seus primeiros 100 dias que o seu antecessor não conseguiu em todo o seu segundo mandato: Colocar em prática os limites que Obama havia traçado contra o uso de armas químicas na Síria
Trump também fez algo nos seus primeiros 100 dias que o seu antecessor não conseguiu em todo o seu segundo mandato: Colocar em prática os limites que Obama havia traçado contra o uso de armas químicas na Síria. Quando o regime de Assad aparentemente usou um agente neurotóxico contra homens, mulheres e crianças inocentes, Trump não se fez de rogado, mas agiu de forma rápida e decisiva. Nesse processo, ele conseguiu restaurar a nossa credibilidade no palco mundial, que havia sido desperdiçada pelo governo Obama.
O presidente enfatizou essa mensagem lançando ainda a “Mãe de Todas as Bombas” (MOAB, na sigla em inglês) contra um esconderijo do Estado Islâmico no Afeganistão e despachando o grupo de porta-aviões de ataque USS Carl Vinson para a Península da Coreia (após um breve desvio na costa australiana). E a decisão de Trump de atacar o regime Assad justo enquanto estava se reunindo com o presidente chinês pode ter colocado os EUA no caminho para conseguir algo que os três presidentes anteriores não conseguiram: Convocar a China para que ela faça parte dos esforços reais para fazer pressão contra a Coreia do Norte e seu programa nuclear.
Ele também poderia apontar para outras realizações, como ter sancionado um projeto de lei de estímulo econômico, na forma de 13 resoluções que revogam regulamentações impostas pela administração Obama
Essas coisas, por si só, já fazem com que os primeiros 100 dias de Trump tenham sido um sucesso. Mas ele também poderia apontar para outras realizações, como ter sancionado um projeto de lei de estímulo econômico, na forma de 13 resoluções que revogam regulamentações impostas pela administração Obama.
Os críticos afirmam que desfazer as ações de uma administração anterior não é nenhuma conquista legislativa. Mas, na verdade, é, sim. Tirar essa tampa de regulamentações que sufoca a nossa economia é um gesto crucial para restaurar a geração de empregos nos Estados Unidos – e Trump está agindo de forma decisiva para isso.
A história não julga seus presidentes pelo que eles fizeram nos seus primeiros 100 dias, mas pelo que foi feito ao longo das suas presidências. No assunto da reforma tributária, Trump deveria aprender a lição a ser tirada com seu fracasso em anular o “Obamacare”: Ele tem maiores chances de sucesso se aproveitar melhor seu tempo para fazer tudo bem feito.
Trump deveria parar de tentar mostrar serviço antes de darem os 100 dias. Nada acontece quando baterem os 100 dias. No 101º dia, ele ainda vai ser presidente
George W. Bush só foi assinar a lei de responsabilidade educacional Nenhuma Criança Deixada para Trás (NCLB, na sigla em inglês) em janeiro de 2002, quase um ano após tomar posse, e Obama não assinou a Lei de Proteção e Cuidado ao Paciente (PPACA) até março de 2010, cerca de 14 meses após a posse.
Em outras palavras, não há por que ter pressa. Por isso, Trump deveria parar de tentar mostrar serviço antes de darem os 100 dias. Nada acontece quando baterem os 100 dias. No 101º dia, ele ainda vai ser presidente. Os republicanos ainda controlarão ambas as câmaras do Congresso.
Ele fez algumas coisas bem grandes já e tem muito tempo para fazer outras ainda.
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*Marc A. Thiessen, pesquisador no American Enterprise Institute e ex-redator de discursos para o presidente George W. Bush, é autor de uma coluna online semanal para o Washington Post.
Tradução de Adriano Scandolara
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