Depois que mais de 3.000 foguetes foram disparados pelo Hamas contra Israel, o Partido Democrata parece paralisado, sem saber como reagir ao mais recente conflito no Oriente Médio.
O partido não teme apenas o fato de “O Esquadrão”, o Black Lives Matter, as tropas de choque dos Antifa e as instituições progressistas como a academia e a imprensa se mostrarem explicitamente anti-Israel. O partido morre de medo do fato de o anti-israelismo estar virando sinônimo de antissemitismo. Daqui a pouco, é possível que o Partido Democrata acabe tão desprezado quanto o Partido Trabalhista britânico sob o comando de Jeremy Corbyn.
O núcleo duro do Partido Democrata, representado pelas deputadas Alexandria Ocasio-Cortez, Ilhan Omar e Rashida Tlaib, já questionaram o patriotismo dos judeus norte-americanos que apoiam Israel, e até tiveram de pedir desculpas por discursos infantilmente antissemitas.
A esquerda em geral acredita que devemos julgar o passado com veemência, sem exceções. Por que, então, ela se atém hipocritamente a um país nascido com o Holocausto, defendendo os inimigos de Israel que estiveram ao lado dos nazistas na Segunda Guerra Mundial?
Não estou apenas falando do fato de o Grande Mufti de Jerusalém, Amin al-Husseini, ser um simpatizante nazista. O Egito, por exemplo, recebeu ex-nazistas porque eles odiavam os judeus e tinham conhecimentos militares, incluindo o infame médico Aribert Ferdinand Heim e o oficial da SS Otto Skorzeny. A declaração de princípios do Hamas parece tirada do “Minha Luta”, de Hitler.
A esquerda diz defender um governo consensual e acredita que os Estados Unidos devem usar seu poder diplomático para isolar autocracias. Mas a Autoridade Nacional Palestina e o Hamas se recusar a organizar eleições livres e regulares. Se uma autoridade israelense suspendesse as eleições livres e governasse por meio da brutalidade, a ajuda norte-americana seria interrompida.
Se a história e os valores democráticos não são suficientes para explicar completamente o aparente ódio da esquerda por Israel, talvez as violações dos direitos humanos sejam. Mas aqui, mais uma vez, temos um exemplo de uma assimetria radical. Os cidadãos árabes de Israel gozam de proteções constitucionais muito maiores do que os árabes que vivem sob a Autoridade Nacional Palestina ou o Hamas.
A esquerda se importa com os aliados do Hamas? Afinal, a maioria deles é formada por autocracias como o Irã e a Coreia do Norte.
Voltamos, assim, a outros motivos para o desprezo dos progressistas por Israel.
Em parte, a esquerda ocidental sempre despreza os bem-sucedidos – como se eles fossem beneficiários de um privilégio injusto. O azarão Israel não era tão odiado entre 1947 e 1967. Naquela época, ele era mais pobre, mais socialista e corria mais riscos de ser destruído por seus muitos inimigos próximos.
Depois das vitórias em 1967 e 1973, contudo, o exército israelense se provou invencível na região, por maiores, mais ricos e mais municiados que sejam seus muitos inimigos.
Para a esquerda, a força, confiança e sucesso atuais de Israel mostram que o país não pode mais ser visto como vítima, e sim como opressor. Enquanto o Iron Dome derruba os foguetes do Hamas e os aviões destroem instalações militares de onde os foguetes são lançados, a esquerda acredita que Israel vence as batalhas fácil demais e age “com força desproporcional”.
A esquerda também tem fala em “imperialismo” e “colonialismo”. A regra geral é a de que os ocidentais não podem ocupar o Oriente. Mas o contrário não se aplica.
Milhões de pessoas do Oriente Médio são recebidos na Bélgica, França, Alemanha, Reino Unido e EUA. E judeus habitam o que hoje é Israel desde os primórdios da civilização. E as fronteiras estabelecidas em 1947 só foram expandidas depois que Israel foi atacado e ameaçado de extinção.
A esquerda diz que o anti-israelismo não tem nada a ver com o antissemitismo. Mas é quase impossível hoje fazer essa distinção, já que a crítica progressista está obcecada por Israel, ao mesmo tempo em que ignora opressões muito mais poderosas por aí.
Por que não há demonstrações, nas grandes cidades ocidentais, condenando o governo chinês por encarcerar um milhão de muçulmanos Uighurs em campos de concentração? Por que os milhões de ex-refugiados do mundo — os alemães do Volga, os prussianos orientais, os cipriotas gregos — foram esquecidos, enquanto os palestinos são exaltados por serem perpetuamente deslocados?
Nossa aliada formal na OTAN, a Turquia, recebeu poucas reprimendas internacionais pela forma como trata os curdos ou por sua intolerância cada vez maior em relação às minorias religiosas. Por que só Israel é vítima de tanta calúnia?
Odiar Israel, um país sob ataque, não apenas reflete a nova esquerda progressista e eticamente falida. Isso é também sintoma de uma patologia mais grave, a da equivalência moral, relativismo amoral e auto-ódio.
Odiar Israel virou apenas uma desculpa para o Ocidente odiar a si mesmo.
Victor Davis Hanson é classicista e historiador no Hoover Institution da Stanford University.
© 2021 Daily Show. Publicado com permissão. Original em inglês
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