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Estudo acadêmico da história tem problema de infiltração ideológica progressista

História, metalurgia, negros
Confronto sobre um artigo acadêmico de história sobre metalúrgicos negros mostra o dano que o viés progressista causou aos historiadores, conta Mike Coté. (Foto: Eli Vieira com Dall-E)

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A história sempre foi um campo contencioso, refletindo os vieses tanto do historiador quanto da sociedade. É uma janela para o presente tanto quanto para o passado. Ainda assim, quem escreve a história deve fazer o seu melhor para verificar e superar seus vieses próprios. Nas palavras do historiador do século XIX J. A. Froude, “o primeiro dever de um historiador é estar em guarda contra suas próprias simpatias; mas ele não pode escapar totalmente de sua influência”. A influência das “próprias simpatias” não pode ser eliminada, mas o foco deve estar na evidência factual. Infelizmente, a profissão de historiador moderna quase abandonou essa busca pela objetividade em troca da ideologia progressista. Isso é mais óbvio em sua adoção da teoria crítica da raça e do profundamente falho Projeto 1619 [no New York Times, que insistia que os EUA não foram fundados em 1776, mas quando chegou por lá o primeiro navio negreiro]. Uma recente controvérsia no campo exemplifica esse foco na ideologia em vez da história.

Envolve um artigo amplamente divulgado de autoria de Jenny Bulstrode na revista History and Technology. Em seu artigo, "Metalúrgicos Negros e a Criação da Revolução Industrial", ela argumenta que uma crucial inovação do século XVIII na fabricação de ferro forjado creditada a Henry Cort foi roubada de seus verdadeiros desenvolvedores: 76 africanos escravizados em uma fundição na Jamaica. Imediatamente causou grande impacto na mídia, com cobertura elogiosa do Guardian, NPR, New Scientist e outras publicações. As alegações de Bulstrode de que uma das bases da prosperidade britânica foi usurpada de escravos negros oprimidos se encaixam perfeitamente na visão progressista da história ocidental como construída sobre a supremacia branca e a escravidão. Não só isso, o artigo foi escrito por uma palestrante universitária premiada e passou pela revisão por pares, e a autora reuniu uma grande quantidade de evidências para apoiar suas alegações.

O problema é que ela interpreta mal as fontes, chega a conclusões insustentáveis e falha em respaldar suas principais afirmações.

Historiadores, incluindo Oliver Jelf e Anton Howes, investigaram o artigo de Bulstrode e o consideraram deficiente. Usando as mesmas fontes citadas em "Metalúrgicos Negros", eles argumentam persuasivamente que suas acusações de roubo e afirmações de invenção negra não são sustentadas. Há três principais alegações feitas no artigo de Bulstrode, cada uma das quais deve ser provada verdadeira para que sua tese se mantenha:

  1. Uma fundição na Jamaica estava usando rolos com ranhuras para processar sucata de metal em ferro forjado vários anos antes de Henry Cort obter sua patente.
  2. Essa inovação foi a criação de 76 trabalhadores negros na fundição.
  3. Cort ouviu falar da fundição e conspirou para ter sua maquinaria inovadora enviada para Portsmouth, Inglaterra.

Infelizmente para Bulstrode, ela não comprova nenhuma dessas afirmações.

Primeiro, o registro histórico não apoia a ideia de que a fundição de John Reeder na Jamaica usava rolos com ranhuras para criar ferro forjado antes da patente de Cort em 1783. Bulstrode baseia a alegação em alguns fatos cuidadosamente escolhidos: que a fundição estava trabalhando com sucata de ferro, que colhia lucros excepcionalmente altos e que havia um moinho de rolos no local. Nenhum desses fatos prova que rolos com ranhuras foram usados para transformar sucata em ferro forjado. Fundições da época comumente trabalhavam com sucata de ferro e tinham rolos para formar chapas de metal — esses não são evidências de inovação. Os lucros da fundição são facilmente explicáveis: a Jamaica era rica em ferro-gusa e carvão vegetal, a ilha era um mercado cativo devido às políticas mercantilistas, e a contemporânea Revolução Americana forçou os britânicos a reabastecer e consertar seus navios na Jamaica. Também temos a questão do custo do trabalho. Bulstrode afirma que £7.000, que Reeder alegou ser o valor de seus trabalhadores metalúrgicos escravizados, era "equivalente a um custo de trabalho de £11,2 milhões em 2020". Este é um trabalho histórico falho, já que os £7.000 eram o valor de um ativo permanente — escravos como propriedade — enquanto os £11,2 milhões são apresentados como um "custo de trabalho" anual. A diferença entre estoques e fluxos é economia básica. É chocante que um erro tão elementar tenha passado pela revisão por pares.

A segunda afirmação de Bulstrode, de que metalúrgicos negros escravizados descobriram esse processo industrial revolucionário, é tão suspeita quanto a primeira. Ela passa muitas páginas descrevendo a rica história da metalurgia em ferro na África Ocidental, bem como sua importância social e espiritual lá. Ela fala sobre as ligações entre açúcar e ferro na sociedade escrava sincrética da Jamaica e sobre o uso de rolos com ranhuras no processamento de cana-de-açúcar. Essas são discussões interessantes, mas sem provas conectando-as ao desenvolvimento do processo de laminação com ranhuras para ferro, elas são sem significado.

A suposta evidência que Bulstrode traz para mostrar que o processo de Cort foi o produto de escravos jamaicanos é deficiente. Ela explica que Reeder, inicialmente um novato na indústria do ferro, contratou "60 artífices brancos" para treinar seus trabalhadores escravizados na fabricação, dizendo que seus serviços foram "rapidamente" considerados desnecessários, dadas as habilidades dos "metalúrgicos negros". Aparentemente, "alguns anos" de treinamento contam como rápido. Ao mesmo tempo, Reeder, o proprietário da fundição, supostamente não aprendeu nada com os homens que contratou durante esse tempo. Isso é difícil de acreditar, dado o investimento de Reeder em sua instalação e sua engenhosidade atestada na época.

Bulstrode faz muito de uma linha nos documentos de Reeder, na qual ele descreve seus trabalhadores escravizados como "perfeitos em todos os ramos da Manufatura de Ferro". Na seção que Bulstrode cita em seu artigo, ela omite o restante da frase da carta de Reeder. Lá ele declara as tarefas específicas — e limitadas — que seus escravos eram capazes de realizar. Com este contexto adicional, está claro que esses trabalhadores são "perfeitos" apenas nos processos específicos que ele detalha. Bulstrode cita seletivamente Reeder, obscurecendo deliberadamente esta lista de proficiências discretas, puramente porque enfraquece seu argumento. Duas questões adicionais minam sua alegação. Uma é que Bulstrode sugere que os rolos com ranhuras para a cana-de-açúcar foram usados no ferro, mas estes eram orientados de forma diferente daqueles no processo de Cort, tornando-os inadequados para esse propósito. Segundo, a ideia de que um proprietário de fundição jamaicano do século XVIII permitiria que seus escravos desenvolvessem um novo processo de fabricação — um esforço extremamente caro e demorado — é improvável. Bulstrode apresenta essa evidência insuficiente e depois, sem citações adicionais, escreve que

“os metalúrgicos negros que administravam a fundição de John Reeder viram sua antiga tecnologia europeia à luz de suas experiências presentes e histórias vivas. Eles não estavam presos às convenções classificatórias europeias e suas práticas e propósitos eram próprios. Eles amarravam sucata de ferro em feixes como cana-de-açúcar, aqueciam os feixes no forno reverberatório e depois os passavam por rolos ranhurados como os encontrados em um engenho de açúcar. Ao fazer isso, eles transformaram sucata de metal em valioso ferro em barra.”

Esta é uma especulação que não se baseia em fatos históricos. Não deveria estar em um periódico acadêmico.

Finalmente, a alegação de Bulstrode de que Cort ouviu falar dessa suposta inovação e a roubou deliberadamente, chegando ao ponto de desmontar a fundição de Reeder sob falsos pretextos e enviá-la de volta à Inglaterra, é completa bobagem. Bulstrode argumenta que Cort deve ter ouvido sobre o novo processo através de seu irmão, um capitão de navio que lhe teria contado a história do assassinato de Jack Três-Dedos, um rebelde anteriormente escravizado, por um trabalhador da fundição de Reeder. Não apenas o assassino do rebelde estava apenas tangencialmente envolvido com a propriedade de Reeder, é altamente improvável que tal conexão remota garantisse que a descrição do processo de laminação ranhurada fosse transmitida ao proprietário da fundição. O principal problema com a afirmação de que Cort soube do processo por seu irmão, quando este chegou a Portsmouth da Jamaica, é que o irmão de Cort nunca desembarcou em Portsmouth. O ponto principal do artigo se baseia em uma má interpretação das fontes primárias, que se referem a um navio completamente diferente.

Quanto à alegação da demolição e realocação, Bulstrode também está equivocada. Ela argumenta que os britânicos declararam lei marcial como pretexto para desmontar a fundição de Reeder e impedi-la de cair nas mãos de rebeldes negros. Na realidade, a lei marcial foi declarada para proteger a Jamaica contra uma invasão franco-espanhola aparentemente iminente, e a fábrica de Reeder não foi enviada de volta a Portsmouth para o benefício de Cort. Foi, segundo as próprias petições de Reeder ao governo britânico, não enviada de volta, mas parcialmente destruída no local original. Mesmo assim, Bulstrode reafirmou essas alegações em entrevistas.

Bulstrode recebeu um apoio importante da imprensa progressista, bem como dos editores de History and Technology, que deram o passo incomum de publicar um editorial expressando seu "apoio irrestrito" ao artigo. Isso é bizarro para um periódico acadêmico, pois os editores raramente intervêm para defender um autor ou se recusam a publicar uma discordância legítima contra um artigo publicado. Neste caso, é uma escolha ainda mais marcante, dado que o periódico já publicou uma correção ao artigo em relação às alegações sobre o irmão de Cort. Os editores ignoram esse grande erro factual, acadêmicos discordantes são ridicularizados como não sérios, e os argumentos problemáticos feitos por Bulstrode são apoiados sem nenhuma evidência adicional. Por que um passo tão forte seria dado para defender um artigo claramente carente de rigor histórico? A resposta está na política.

O editorial de History and Technology foca na utilidade do artigo em "descentralizar atores brancos nos desenvolvimentos tecnológicos formativos da era industrial britânica inicial" e na problematização dos "conceitos de modernização e industrialização… [que] ajuda a mostrar os laços estreitos entre esses objetivos e as afirmações de supremacia geopolítica, racial e religiosa dos colonizadores". O trabalho de Bulstrode é valioso em seu argumento contra "um esquema que valoriza intelectos euroamericanos e não permite povos não europeus como criadores de práticas tecnológicas inovadoras", ajudando a deslocar "narrativas que centralizam as agências e experiências de capitalistas brancos". De acordo com os editores, "ela traz para esta literatura uma análise ágil pela qual 'invenção' e 'inovação' devem ser desvinculadas de ideias preexistentes de onde uma tecnologia específica começa e termina". Isso é política, não erudição.

Bulstrode é uma progressista respeitada, focando seu trabalho em "perspectivas históricas sobre questões de justiça social" e buscando "destacar e centralizar histórias de ciências marginalizadas". Seu artigo foi elogiado por acadêmicos de esquerda. Sheray Warmington, um "especialista jamaicano em desenvolvimento e reparações", põe as cartas na mesa:

“Isso não trata apenas de açúcar, tabaco e algodão. Trata do intelecto e inovação negros que foram roubados das colônias e usados para construir a riqueza do norte global de hoje. Vez após vez vemos histórias da revolução industrial apresentando pessoas negras como máquinas. Esta história mostra que o intelecto negro foi o motor da inovação e prosperidade. Intelecto negro, que foi roubado. É hora desse roubo e das inúmeras outras inovações que foram roubadas dos países colonizados serem reconhecidas por seus antigos colonizadores como um princípio-chave do movimento de reparações.” [Nota: O autor errou a ortografia da palavra "princípio" (tenet), escrevendo no lugar "inquilino" (tenant).]

Este artigo e sua defesa veemente por progressistas na imprensa e na academia são puramente instrumentais. A precisão das reivindicações históricas é secundária ao objetivo primário, que é criar uma impressão falsa do passado para alcançar objetivos políticos no presente. Os editores de History and Technology dizem isso abertamente, atacando os críticos que representam um "desafio ao que vemos como responsabilidade histórica significativa" ao insistirem em uma história apolítica baseada em evidências. Continua:

“Se quisermos confrontar o antinegrismo das tradições intelectuais euroamericanas, como foram explicadas no último século por DuBois, Fanon e estudiosos das gerações subsequentes, devemos entender que o que é experimentado por atores dominantes nas culturas euroamericanas como 'empirismo' é profundamente condicionado pelas lógicas preditivas do colonialismo e do capitalismo racial. Fazer de outra forma é reinstaurar formas mais antigas de historicismo profundamente seletivo que apoiam a dominação branca.”

Este é um apelo direto para politizar o estudo da história e pendê-lo para uma visão específica — a progressista. Se os historiadores estão focados em "confrontar o antinegrismo das tradições intelectuais euroamericanas" em vez de delinear a verdade do passado, a profissão está perdida. Isso é exatamente o que a história não deveria ser. Infelizmente, em 2023, é exatamente isso que ela é.

©2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

Conteúdo editado por: Eli Vieira

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