Robert A. Pape, professor de ciência política na Universidade de Chicago, estuda há 30 anos a violência política. Ele lidera o Projeto de Chicago de Segurança e Ameaças, de onde saiu um novo relatório, no último dia 14, que mostra que os eleitores do Partido Democrata apoiam mais a violência como tática política que os eleitores do Partido Republicano.
O estudo foi realizado entre os dias 20 e 24 de junho, antes da tentativa de assassinato contra Donald Trump, o candidato republicano à presidência. Mais de duas mil pessoas foram ouvidas.
Pape e colegas perguntaram se o uso da força é justificado para restaurar Trump na presidência ou para impedi-lo de se tornar presidente mais uma vez. Enquanto 6,9% apoiaram a violência a favor do ex-presidente, mais gente (10%) apoiou o uso da violência contra ele. Extrapolando da amostra para a população americana, os acadêmicos calcularam que são 26 milhões de adultos americanos para quem o uso da força para evitar Trump na Casa Branca é justificado.
Desse total, calcularam os pesquisadores, nove milhões têm arma de fogo em casa, seis milhões acham que a polícia que tenta evitar ataques merece ser alvo de violência, cinco milhões participaram de protestos no último ano, três milhões são membros de milícias ou conhecem membros, e dois milhões têm experiência nas forças armadas.
“Os progressistas tendem a ter certeza de que são os pacíficos”, comentou Nicholas Kristof, colunista do New York Times. “Nós, do lado progressista, assim como os conservadores, precisamos tomar mais cuidado para evitar a retórica inflamada e metáforas belicosas”, afirmou. O articulista teme que a escalada da aceitação da violência pode levar a casos de policiais ignorando crimes porque concordam que a violência é justificada, e jurados dificultando condenações pelo mesmo motivo.
Precedentes de maior intolerância na esquerda
No ano passado, um estudo da Sociedade pela Investigação Aberta na Ciência do Comportamento (SOIBS, na sigla em inglês) descobriu que mais da metade dos universitários de esquerda concordam com frases de Hitler sobre judeus se o autor for anonimizado e o grupo demonizado for trocado por “brancos”.
Um estudo abrangente de setembro da Fundação pelos Direitos e Expressão Individuais (FIRE), que fez um ranking de 254 universidades americanas quanto à censura, sugeriu que um terço dos universitários das cinco piores instituições aceitam o uso da violência para silenciar opiniões conservadoras como “o aborto deve ser completamente ilegal”.
As cinco mais bem avaliadas universidades quanto ao ambiente de expressão não se saíram muito melhor: 21% dos universitários tinham essa posição. Os universitários de esquerda dominam as instituições: somente 19% se consideram conservadores em alguma medida.
“Desde o ano 2000, de acordo com dados de pesquisas, os democratas foram significativamente mais para a esquerda na maioria dos temas sociais polêmicos enquanto os republicanos foram só um pouco para a direita” do espectro político, resumiu em 2021 o escritor e analista político americano Kevin Drum.
“Não foram os conservadores que transformaram a política americana em uma batalha de uma guerra cultural. Foram os progressistas”, afirmou. Drum disse que pessoalmente até se contentava com a guinada dos democratas à esquerda, mas que era improvável que agradasse aos eleitores.
Se colocarmos numa escala de zero a 10 o espectro político, com o primeiro valor sendo o maior extremo possível da esquerda e o último sendo o maior extremo da direita, o acompanhamento histórico do Pew Research Center mostra que os democratas tinham uma média de 5 e os republicanos de 6 em 1994. Em 2004, os democratas foram para 4 e os republicanos para 5. Em 2017, primeiro ano de governo de Trump, os democratas saltaram para 2 enquanto os republicanos estavam em 6,5.
Com a radicalização vêm a demonização do outro lado, como aconteceu com repetidas comparações de Trump a Hitler até no mês anterior à tentativa de assassinato, e a aceitação da violência.
O estudo do extremismo de esquerda tem uma desvantagem, contudo: por décadas, sob influência da Escola de Frankfurt, muitos cientistas sociais insistiram que o autoritarismo é uma característica exclusiva da direita. Isso só começou a mudar nos últimos dois anos, com a proposição de um teste do autoritarismo de esquerda pelo psicólogo Thomas Costello (Universidade Emory em Atlanta) e colegas.
Os cientistas estabeleceram que um dos sinais mais indicativos de autoritários de esquerda é a agressividade anti-hierárquica: o uso de violência ou coerção antidemocrática contra pessoas percebidas como donas do poder ou no topo de hierarquias que progressistas querem derrubar.
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