O estudo da economia depende da compreensão do comportamento humano.
Por algum tempo, os modelos que tentavam sistematizar e prever as reações das pessoas em diferentes contextos partiam do pressuposto de que os indivíduos têm vasto acesso a informações e, com base nelas, tomam as melhores decisões possíveis.
Nas últimas décadas, porém, vários pesquisadores têm se dedicado a mostrar que, no mundo real, os seres humanos não são tão racionais em suas escolhas.
Seu desafio é transportar essas conclusões para a construção de modelos alternativos que deem conta da complexidade do processo decisório humano em situações como compras de bens de consumo, investimentos pessoais e planejamento de longo prazo.
Por pesquisas que apontam algumas soluções nessa direção, o acadêmico norte-americano, Richard H. Thaler, 72, professor da escola de negócios da Universidade de Chicago, recebeu o Prêmio Nobel de Economia nesta segunda-feira (9).
Ao anunciar a premiação, a Academia Real Sueca de Ciências, em Estocolmo, destacou que o pesquisador mostrou como traços da personalidade dos indivíduos -como racionalidade limitada, preferências sociais e falta de autocontrole- afetam tanto decisões pessoais quanto do mercado como um todo.
"Richard H. Thaler incorporou hipóteses psicologicamente realistas na análise das tomadas de decisões", diz um trecho do comunicado.
A premissa básica da teoria do vencedor do Nobel é que, "para fazer boa economia você precisa ter em mente que as pessoas são humanas", disse o economista ao jornal "The New York Times".
Segundo a Academia, ao ser perguntado se agiria humanamente ao usar o dinheiro recebido como prêmio (o equivalente a R$ 3,5 milhões), o economista brincou: "Tentarei gastá-lo o mais irracionalmente possível".
Não é a primeira vez que o Nobel de Economia é concedido a expoentes da chamada economia comportamental.
Em 2002, o psicólogo Daniel Kahneman, cujas pesquisas mostram como nosso cérebro é capaz de ignorar informações, como estatísticas, e nos guiar a tomar decisões com base nos chamados vieses cognitivos, recebeu o prêmio. Segundo Thaler, Kahneman exerceu grande influência sobre seu trabalho.
Em 2013, foi a vez de Robert Shiller ser escolhido. Ao lado de Thaler, de quem é co-autor em vários trabalhos, Shiller é considerado precursor do estudo de comportamento na área de finanças.
O reconhecimento de Thaler agora vem do fato de que seus estudos reforçaram as evidências de que as pessoas, ao tomar decisões econômicas, não consideram todas as alternativas possíveis e -em parte por isso- não conseguem vislumbrar todas as consequências de longo prazo de suas ações.
Por isso, suas escolhas nem sempre trazem o melhor retorno econômico possível para elas próprias e para a sociedade como um todo.
Um exemplo dos muitos experimentos que Thaler fez com seus co-autores, citado pela Academia, mostra que os taxistas costumam estabelecer que suas jornadas terminarão quando atingirem metas monetárias que cada um deles estabelece individualmente. Com isso, param de trabalhar mais cedo em dias de maior procura por seu serviço quando atingem seu objetivo mais cedo.
Se a regra fosse outra, eles poderiam ganhar mais e as cidades teriam menos gargalos em dias mais movimentados.
'Empurrões'
Como solucionar questões como essa sem constranger a liberdade de escolha de cada um? Segundo Thaler, pequenos "empurrões" seriam a resposta.
Ele trata disso no livro "Nudge: o empurrão para a escolha certa" (Elsevier - Campus), em co-autoria com Cass Sustein.
Entre as sugestões dos pesquisadores, está, por exemplo, a formulação de contratos de trabalho nos quais a adesão a planos de pensão seja a escolha padrão. O funcionário manteria a liberdade de desmarcar essa opção se não estivesse mesmo interessado, mas seria guiado a escolher esse caminho.
O trabalho de Thaler o aproximou do ex-presidente norte-americano Barack Obama, a quem assessorou na campanha de 2008.
Diferentemente dos prêmios em áreas como Química, Física e Medicina, o Nobel de Economia não foi criado por vontade do empresário sueco Alfred Nobel -conhecido por inventar a dinamite-, logo após sua morte em 1896. A premiação foi criada em 1968 pelo banco central da Suécia.
No ano passado, o prêmio foi entregue ao finlandês Bengt Holmström, 67, e ao britânico Oliver Hart, 68, por trabalhos na área de contratos.
A Academia Real Sueca de Ciências destacou que "economias modernas são ligadas por inúmeros contratos" e que os trabalhos de Hart e Holmström "criaram uma base intelectual para o desenho de políticas e instituições em muitas áreas, da legislação de falência a constituições políticas".
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Relembre os vencedores do prêmio:
- 2016 - Oliver Hart (Grã-Bretanha) e Bengt Holmström (Finlândia), 67, por estudos na área de contratos
- 2015 - Angus Deaton (EUA), por estudos sobre consumo, pobreza e bem-estar social
- 2014 - Jean Tirole (França), devido a pesquisas sobre o poder de mercado de grandes empresas
- 2013 - Eugene Fama, Robert Shiller e Lars Peter Hansen (todos dos EUA), por estudos de análise sobre preços de ativos
- 2012 - Alvin Roth e Lloyd Shapley (ambos dos EUA), por trabalhos sobre como otimizar oferta e demanda
- 2011 - Thomas J. Sargent e Christopher A. Sims (ambos dos EUA), por pesquisa sobre causas e efeitos na macroeconomia
- 2010 - Christopher Pissarides (Chipre) e Peter Diamond e Dale T. Mortensen (ambos dos EUA), por estudos sobre demandas dos mercados e a dificuldade em correspondê-las
- 2009 - Elinor Ostrom e Oliver Williamson (EUA), pela demonstração de como propriedades podem ser utilizadas por associações de usuários e pela teoria sobre resolução de conflitos entre corporações, respectivamente
- 2008 - Paul Krugman (EUA), pela análise dos padrões do comércio e da localização da atividade econômica
- 2007 - Leonid Hurwicz, Eric S. Maskin e Roger B. Myerson (EUA), pela aplicação das bases da teoria do desenho dos mecanismos
- 2006 - Edmund S. Phelps (EUA)
- 2005 - Robert J. Aumann (Israel e EUA) e Thomas C. Schelling (EUA), por estudos sobre conflito e cooperação em negociações por meio da análise da teoria dos jogos
- 2004 - Finn E. Kydland (Noruega) e Edward C. Prescott (EUA), por pesquisa sobre o desenvolvimento da teoria da macroeconomia dinâmica e seus estudos sobre os ciclos de negócios
- 2003 - Robert F. Engle 3º (EUA) e Clive W.J. Granger (Reino Unido)
- 2002 - Daniel Kahneman (EUA e Israel) e Vernon L. Smith (EUA)
- 2001 - George A. Akerlof, A. Michael Spence e Joseph E. Stiglitz (EUA)
- 2000 - James J. Heckman e Daniel L. McFadden (EUA)
- 1999 - Robert A. Mundell (Canadá)
- 1998 - Amartya Sen (Índia)
- 1997 - Robert C. Merton e Myron S. Scholes (EUA)
- 1996 - James A. Mirrlees (Reino Unido) e William Vickrey (EUA)
- 1995 - Robert E. Lucas Jr. (EUA)
- 1994 - John C. Harsanyi (EUA), John F. Nash Jr. (EUA) e Reinhard Selten (Alemanha)
- 1993 - Robert W. Fogel e Douglass C. North (EUA)
- 1992 - Gary S. Becker (EUA)
- 1991 - Ronald H. Coase (Reino Unido)
- 1990 - Harry M. Markowitz, Merton H. Miller e William F. Sharpe (EUA)
- 1989 - Trygve Haavelmo (Noruega)
- 1988 - Maurice Allais (França)
- 1987 - Robert M. Solow (EUA)
- 1986 - James M. Buchanan Jr. (EUA)
- 1985 - Franco Modigliani (EUA)
- 1984 - Richard Stone (Reino Unido)
- 1983 - Gerard Debreu (EUA)
- 1982 - George J. Stigler (EUA)
- 1981 - James Tobin (EUA)
- 1980 - Lawrence R. Klein (EUA)
- 1979 - Theodore W. Schultz (EUA) e Sir Arthur Lewis (Reino Unido)
- 1978 - Herbert A. Simon (EUA)
- 1977 - Bertil Ohlin (Suécia) e James E. Meade (Reino Unido)
- 1976 - Milton Friedman (EUA)
- 1975 - Leonid Vitaliyevoch Kantorovich (Rússia) e Tjalling C. Koopmans (EUA)
- 1974 - Gunnar Myrdal (Suécia) e Friedrich August von Hayek (Áustria)
- 1973 - Wassily Leontief (EUA)
- 1972 - John R. Hicks (Reino Unido) e Kenneth J. Arrow (EUA)
- 1971 - Simon Kuznets (EUA)
- 1970 - Paul A. Samuelson (EUA)
- 1969 - Ragnar Frisch (Noruega) e Jan Tinbergen (Holanda)