Uma morte trágica catapultou para a fama a advogada e influenciadora Deolane Bezerra – presa na quarta-feira (4) em uma operação que investiga um esquema bilionário de lavagem de dinheiro, proveniente de jogos de azar.
Em maio de 2021, o funkeiro MC Kevin, com quem ela vivia, caiu do quinto andar de um hotel no Rio de Janeiro. O artista estava com uma prostituta quando foi avisado por um amigo que Deolane o procurava pelo prédio.
Sob efeito de álcool e drogas, ele achou que poderia se safar do flagra fugindo pela sacada. Mas caiu de cabeça e morreu horas mais tarde no hospital, vítima de um “traumatismo craniano contundente”.
Até então conhecida apenas pela comunidade do funk (Kevin era um dos nomes mais populares do gênero), Deolane chamou a atenção do grande público pela postura firme e fria que manteve após o incidente. E não parou mais de aparecer na mídia.
Lançou-se como cantora e DJ, virou garota-propaganda de marcas na internet e adotou o estilo ostentatório clichê das subcelebridades brasileiras.
Hoje dona de uma fortuna estimada em mais de R$ 50 milhões, a advogada também se reinventou fisicamente, por meio de dezenas de cirurgias e procedimentos estéticos.
O ano de 2022 marcou o auge de sua notoriedade. Além de participar, e “causar”, no reality show ‘A Fazenda’, ela dividiu opiniões entre seus 21 milhões de seguidores ao realizar um sonho antigo: conhecer o presidente Lula, seu ídolo confesso.
O encontro, estrategicamente promovido antes das eleições, contou com a presença da primeira-dama Janja Silva e registros de Ricardo Stuckert, fotógrafo pessoal do petista.
“Alô, mãe! Venci na vida!”, disse Deolane em suas redes. Em seguida, um post de Lula parafraseou o bordão da influenciadora: “O pai tá estourado”.
Em 2021, durante uma conversa de podcast, ela já havia revelado sua admiração pelo político. “Eu sou nordestina. Ver nordestino votando em Bolsonaro me dá dez ódios de uma vez. Ele é um canalha. Ganhou por causa da facada. Eu sou fã de Lula. Ele é o pai que eu não tive.”
Influenciadora é chamada de "advogada do PCC" pelos críticos
Deolane Bezerra tem 36 anos e é mãe de três filhos. Nasceu em Vitória de Santo Antão (PE), mas foi criada em São Paulo. De família pobre, trabalhou como sacoleira antes de se formar em Direito e abrir um escritório em sociedade com as irmãs, Danielle e Dayenne.
Especialista na área criminal, ela costuma ser chamada de “doutora” por seus seguidores e “advogada do PCC” pelos críticos.
“Eu advogo para clientes. Se eles fazem parte de alguma organização criminosa, o problema é deles. Quero ver algum advogado criminalista no Brasil que não advogue para bandidos”, afirmou, em julho de 2022, durante uma entrevista concedida para o jornalista Roberto Cabrini.
Na ocasião, Deolane havia sido alvo de um mandado de busca e apreensão na capital paulista por suspeita de ligação com a Betzord, uma empresa de apostas esportivas virtuais acusada de “crime contra a economia popular e associação criminosa”. Mas se defendeu alegando que apenas ganhava cachês para divulgar a marca em seus canais.
Sua prisão, na quarta-feira, ocorreu em Recife (PE), onde visitava parentes e cumpria compromissos de trabalho. Ela e a mãe – a ex-cozinheira Solange Bezerra, também levada pela polícia – são acusadas de participar de uma quadrilha que pode ter movimentado mais de R$ 3 bilhões num esquema de lavagem de dinheiro e prática de jogos ilegais.
Deolane negou os crimes e voltou a dizer que somente recebia dinheiro de uma casa de apostas por meio de contratos publicitários.
Em uma carta aos fãs divulgada em suas redes, ela garantiu ser vítima de “uma grande injustiça”. E, como Lula, brincou com seu bordão: “A mãe tá enjaulada”, disse.