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A bordo do navio Joides Resolution, pesquisadores perfurarão o fundo do oceano para buscar sinais do ponto onde América do Sul e África se separaram.
A bordo do navio Joides Resolution, pesquisadores perfurarão o fundo do oceano para buscar sinais do ponto onde América do Sul e África se separaram.| Foto: Reprodução/ Facebook

As águas da costa brasileira serão palco, em 2020, de uma grande expedição científica internacional que busca conhecer as profundezas dos oceanos e investigar as origens e a estrutura do planeta Terra. A bordo do navio norte-americano Joides Resolution, pesquisadores de vários países irão perfurar o fundo do Oceano Atlântico, a 300 quilômetros de Recife (Pernambuco), para buscar evidências do ponto onde a América do Sul se separou da África, 120 milhões de anos atrás.

"Costumo dizer que o homem foi à Lua, mas não conhece
os oceanos. O Atlântico tem muitos buracos, nas não conhecemos muito sobre sua história. Quanto ao Atlântico Sul, da linha do Equador para baixo, sabe-se menos ainda", afirma o geólogo Gerson Fauth, coordenador do Instituto Tecnológico de Micropaleontologia da Unisinos e um dos chefes da expedição.

Na Expedition 388 – Equatorial Atlantic Gateway, os pesquisadores estudarão a evolução tectônica climática e biótica do chamado Portal Equatorial do Atlântico, em três locais, próximos ao Platô Pernambucano. Será entre 26 de junho e 26 de agosto de 2020.

O trabalho é parte do International Ocean Discovery Program (IODP), programa internacional de pesquisas marinhas que reúne boa parte da comunidade científica atuante nas ciências do mar em águas profundas de diversos países usando avançada tecnologia em perfuração oceânica. O Brasil integra o consórcio desde 2013, enviando pesquisadores por meio de financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Estrutura

O Joides Resolution tem equipamentos de última geração
voltados à pesquisa geofísica, geoquímica, microbiológica e paleoclimática. Com 130 metros de comprimento, passa a maior parte do tempo percorrendo o mundo.

Cada expedição, a um custo de US$ 25 milhões, conta com grupos de pesquisadores diferentes, embarcados por dois meses. A embarcação tem capacidade para furar até 2 mil metros, após percorrer 5 mil metros de lâmina d’água (distância entre superfície e fundo do oceano). Por meio de um sistema de dutos, são extraídos sedimentos. São retirados grandes pedaços de 10 em 10 metros. Quanto mais profundo o trecho de sedimento, mais antiga é sua formação. Assim, é possível estudar componentes e estabelecer a idade de determinado pedaço de rocha.

A escolha da costa do Nordeste para perfuração não é por acaso. Os pesquisadores afirmam que ali seria o ponto exato da separação entre os continentes americano e africano. Companhias de petróleo têm algumas informações, mas, conta o professor, como elas fazem perfurações de forma rápida, não conseguem retirar amostras científicas em qualidade.

"A Terra funciona como um bolo, as fatias que ficam na parte
superior são as mais recentes. O que queremos é tentar chegar
ao momento exato em que a África e a América do sul se romperam", diz Fauth. Em um dos locais, o navio ficará parado durante um mês em um único ponto. A ideia é chegar a 1,2 mil metros nas entranhas da Terra, com lâmina d’água de 3,5 mil metros abaixo do navio. Depois, serão feitas perfurações em mais três pontos, esses buscando identificar rochas “mais recentes”, que contem a história do planeta há 66 milhões de anos.

Além de Fauth, integram o grupo de 27 pesquisadores internacionais os geólogos brasileiros Karlos Diemer Kochhann, também da Unisinos, e Carlos D’Apolito, Jr., da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMG).
Esta será a segunda vez que a expedição percorrerá a costa do
Brasil. Nos anos 1970, os cientistas perfuraram pontos a 500 quilômetros
da linha de São Paulo.

Teoria confirmada

Um dos mais importantes trabalhos do IODP foi confirmar nos anos 1960 a chamada teoria da Deriva dos Continentes, do meteorologista alemão Alfred Lothar Wegener, de 1912. Ele argumentou que há cerca de 200 milhões de anos, ainda na Era Paleozoica, havia um supercontinente “mãe” – Pangeia – e um gigantesco oceano chamado Pantalassa. O Pangeia começou a fraturar-se, primeiro se dividiu em dois grandes continentes, Laurásia e Gondwana.

"Ele propôs que, na Terra, os continentes viajavam. E na década de 1960, o IODOP descobriu que isso era verdade. Os pesquisadores saíram de Portugal até os EUA e fizeram perfurações e foram descobrindo que a medida em que chegavam próximos à cadeia oceânica, entre as Américas, a Europa e a África, no meio do Oceano Atlântico, as idades das rochas iam diminuindo", explica o geólogo Gerson Fauth.

Oceanos

À medida que os continentes se separavam, a água ia ocupando o espaço, e foram surgindo os oceanos. O professor conta que Oceano Atlântico e o Atlântico Sul em especial são “os mais jovens da Terra”, tendo se formado há 120 milhões de anos. Parece muito, mas, no tempo geológico, isso é bem recente.

"Quando a América do Sul se separou da África, mudaram as
correntes, o clima, muita coisa começou a acontecer na Terra", diz Fauth.

O supercontinente

Há 200 milhões de anos existia um único supercontinente: a
Pangeia. Ele se fragmentou há 130 milhões de anos em Laurásia (América do Norte e Eurásia) e Gondwana (América do Sul, África, Índia, Austrália e Antártica) e, há 84 milhões de anos, houve a separação entre a América do Norte e a Eurásia e
entre a América do Sul, a África, a Oceania e a Índia, que se tornou uma ilha no Oceano Índico. Por fim, a Índia colidiu com a Ásia, juntando-se ao continente.

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