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Fã de Viagra, maluco e assassino: Rodrigo Duterte, o homem forte das Filipinas

Duterte: “transtorno de personalidade narcisista” e “uma tendência constante de rebaixar e humilhar as pessoas, além de violar seus direitos” | Toto Lozano/Divulgação
Duterte: “transtorno de personalidade narcisista” e “uma tendência constante de rebaixar e humilhar as pessoas, além de violar seus direitos” (Foto: Toto Lozano/Divulgação)

Rodrigo Duterte projeta a imagem do assassino-salvador: vangloria-se de matar criminosos com as próprias mãos e, de vez em quando, sugere extermínios em massa.

Falando dos viciados em drogas que, segundo ele, estão destruindo as Filipinas, comentou: “Ficaria feliz em acabar com todos.”

Duterte e seus amigos há tempos cultivam histórias de suas atitudes sádicas, como a vez em que jogou um chefão do tráfico de um helicóptero em voo ou quando forçou um turista que violara a proibição de fumar a comer a bituca do próprio cigarro sob a mira do revólver.

É a imagem do brutamontes que Duterte faz questão de manter.

Se fez o que disse ter feito – é impossível confirmar a autoria dos assassinatos que alega ter cometido –, Duterte realizou sua visão sanguinária na política nacional. Primeiro como prefeito e agora como presidente das Filipinas, encorajou a polícia e os justiceiros a matar milhares de pessoas na impunidade.

Embora tenha horrorizado muita gente com seus comentários chocantes e comportamento irracional, continua incrivelmente popular. É um cruzado antidrogas; no entanto, ele mesmo lutou (luta?) contra o vício. E apesar de ter nascido com privilégios, como filho de um governador de província, era submetido a surras constantes.

Sua mãe lhe batia tão constantemente que acabou com um chicote, segundo conta o irmão, Emmanuel. Na escola paroquial, apanhava dos jesuítas e, como ele mesmo confessou, foi molestado por um dos padres. Já na adolescência era conhecido como arruaceiro.

“Violência em casa, violência na escola, violência no bairro. Não é à toa que está sempre com raiva. Se você sofre desde novinho, vai ficar revoltado o tempo todo mesmo”, diz Emmanuel.

Anos depois, um perfil psicológico traçado na ocasião da anulação de seu casamento, em 1998, concluiu que Rodrigo Duterte tinha “transtorno de personalidade narcisista” e “uma tendência constante de rebaixar e humilhar as pessoas, além de violar seus direitos”.

Apesar disso, sua ex-mulher participou da campanha presidencial que o elegeu, no ano passado.

Tamanho ato de devoção só revela o início do paradoxo que é Duterte. Por trás dessa caricatura abrutalhada, de acordo com entrevistas com dezenas de amigos, familiares, aliados e críticos, há um homem que pode ser charmoso e interessante. Tanto que tem muitos amigos leais e se comove com crianças doentes.

Como prefeito de Davao, ficou conhecido por ajudar os mais carentes com dinheiro do próprio bolso, a quem entregava valores vultosos. Para muitos, suas piadas vulgares apenas mancham sua boa-fé como homem do povo, mas quando aparece em público, é cercado pelos fãs afoitos.

Entretanto, a pilha de cadáveres não para de crescer. Desde que Duterte assumiu o poder, em junho passado, e declarou “guerra” às drogas, a polícia e assassinos desconhecidos mataram mais de 3.600 pessoas, de acordo com as autoridades, a maioria nas favelas das grandes cidades. Há quem diga que o número extraoficial pode ser o dobro disso.

“Talvez eu entre para a história como um carniceiro”, reconheceu, sem o menor pudor, em janeiro.

Em menos de nove meses, já superou o número de mortes de Ferdinand Marcos, cujas forças de segurança mataram cerca de 3.300 adversários políticos e ativistas durante os vinte anos em que governou com mão de ferro.

Apesar da truculência, o método conquistou muitos filipinos que sofrem com os altos índices de criminalidade e o veem como uma mudança bem-vinda em relação à elite sofisticada, mas totalmente isolada, que governou o país durante mais de trinta anos.

Justiceiro

Duterte foi criado em Davao, no sul das Filipinas, filho mais velho do governador da província de mesmo nome.

Nos anos 80, sua mãe organizava marchas frequentes contra o regime ditatorial de Marcos – e depois que ele foi deposto, a substituta, Corazon Aquino, lhe ofereceu o posto de vice-prefeita. Segundo familiares e amigos, ela pediu que Rodrigo assumisse em seu lugar.

Dois anos depois, em 1988, ele disputou e ganhou as eleições municipais, começando uma carreira política na qual nunca perdeu um pleito sequer.

Logo depois de tomar posse, vários suspeitos de associação criminosa começaram a aparecer mortos nas ruas da cidade.

Duterte e seus defensores sempre negaram a existência de um grupo de justiceiros em Davao, mas, em setembro, Edgar Matobato, 57 anos, se apresentou e disse a uma comissão do Senado que trabalhou como assassino de um grupo organizado durante 24 anos, matando umas 50 pessoas.

Em fevereiro, o ex-policial Arthur Lascañas, 56 anos, confessou ter liderado a tal gangue; disse ter recebido ordens de matar diretamente de Duterte e que executara 200 pessoas.

Das mais de 1.400 que se acredita terem sido executadas pelo Esquadrão da Morte, pelo menos uma não era ligada ao crime: Jun Pala, jornalista e crítico visceral de Duterte, morto a tiros perto de casa, em 2003.

Segundo Lascañas, o prefeito ordenou a ação e o ex-membro da polícia ajudou a executá-la.

Depois do depoimento de Matobato, Duterte acusou a senadora líder da comissão de receber propina dos chefões do tráfico. Ela foi detida e presa no mês passado.

É difícil precisar por quantas execuções Duterte é responsável pessoalmente. Se esfaqueou alguém na praia, não há registros. Apesar de se vangloriar de perseguir criminosos à noite, não deu maiores detalhes.

Namorador

A verdade é que Duterte, 71 anos, ainda não se ajustou plenamente à presidência. Durante meses ele ainda se via e se referia a si mesmo como prefeito.

Prefere ficar em Davao a ocupar o palácio que abriga a sede do governo, em Manila.

Não há uma primeira-dama oficial, mas, ao longo da campanha, disse ter duas mulheres e duas namoradas. Depois disso, afirmou que a Pfizer merecia um prêmio por ter criado o Viagra.

Em 1973, ele se uniu a Elizabeth Zimmerman, uma ex-comissária de voo, depois de cortejá-la por um mês. O relacionamento durou até 2000, quando foi anulado.

Ainda casado, conheceu Cielito Avanceña, adolescente que participava de um concurso de beleza conhecida por Honeylet, 25 anos mais nova. E a descreve como sua segunda mulher, embora nunca tenham legalizado a relação.

Viciado

Talvez parte do comportamento errático do presidente seja consequência da dor constante que sente e dos narcóticos que consome para aliviá-la.

Duterte baseou sua carreira política no combate às drogas, mas reconheceu em dezembro que já fora viciado em fentanil, o opioide forte que matou o músico Prince, em abril passado.

Duterte começou a usá-lo para tratar as dores nas costas e enxaqueca resultante dos problemas na coluna, consequência de um acidente de moto que sofreu há alguns anos.

Porém, nunca revelou publicamente quando iniciou o hábito ou se já parou. Em dezembro, negou ser viciado.

Décadas atrás, descobriu ter duas doenças raras: esôfago de Barrett e tromboangeíte obliterante, que o fez parar de fumar e beber.

Talvez por isso não goste de ser questionado sobre sua saúde. Uma vez, depois que um repórter questionou suas condições físicas, ele se vingou, perguntando: “E como vai a vagina da sua mulher?”.

Maluco

Comentários grosseiros e escabrosos como esse fazem muita gente acreditar que Duterte seja maluco.

Chegou a dizer que Deus conversa com ele e o tornou presidente de um país de grande maioria católica. Já se comparou a Hitler. Utilizou uma expressão que se traduz como “filho de uma vadia” para descrever o Papa Francisco e Barack Obama.

O senador Antonio Trillanes conta que, quando os dois se encontraram, em 2015, para discutir uma aliança política, Duterte só queria falar sobre as pessoas que tinha matado e “de como as vísceras tinham se espalhado, bem no estilo de filme de gângster”.

A impressão é a de que ele nunca questionou se matar gente na rua é a melhor solução para o crime e o vício.

“Tenho uma filosofia política própria: não destrua meu país, senão eu te mato”, disse, recentemente.

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