Mark Zuckerberg, CEO da Meta, empresa mãe do Facebook, disse em uma entrevista recente que o establishment científico pediu ao site de mídia social para censurar “desinformações” relacionadas à Covid-19 que acabaram se revelando verdadeiras.
Zuckerberg falou sobre a tarefa “realmente complicada” de moderar o conteúdo no site quando algumas postagens podem ser falsas, mas não totalmente prejudiciais. “Então é mais ou menos assim: tudo bem, você vai censurar alguém apenas por estar errado, se não houver nenhum tipo de implicação ou dano no que eles estão fazendo?”, Disse Zuckerberg no podcast de Lex Fridman na semana passada.
“Basta pegar algumas das coisas sobre a Covid-19 no início da pandemia, onde havia implicações reais para a saúde, mas não houve tempo para examinar completamente um monte de suposições científicas e, infelizmente, acho que muito do establishment causou esse tipo de confusão a respeito de um monte de fatos”, disse Zuckerberg.
Ele continuou dizendo que pedidos de membros da comunidade científica para censurar informações na plataforma “minam a confiança” nas autoridades. O establishment, disse ele, pediu “que muitas coisas fossem censuradas e que, em retrospecto, acabaram sendo mais discutíveis ou verdadeiras”.
Em fevereiro de 2021, o Facebook anunciou que censuraria o que chamou de alegações de saúde falsas e enganosas, incluindo afirmações de que a Covid-19 havia sido “criada de forma artificial ou manufaturada”. O site mudou suas políticas apenas três meses depois que a ideia de que o vírus poderia ter se originado de um vazamento em um laboratório em Wuhan, na China, começou a se popularizar.
“À luz das investigações em andamento sobre a origem da Covid-19, e em consulta a especialistas em saúde pública, não removeremos mais de nossos aplicativos a alegação de que a Covid-19 foi criada pelo homem”, disse um porta-voz na época. “Continuamos a trabalhar com especialistas em saúde para acompanhar a natureza evolutiva da pandemia e atualizar regularmente nossas políticas à medida que novos fatos e tendências surgem.”
Lavar as mãos
Na entrevista da semana passada, Zuckerberg assumiu pouca ou nenhuma responsabilidade por sua plataforma ter atendido a esses pedidos do establishment. Ainda em 2021, Zuckerberg disse que o Facebook havia removido 18 milhões de postagens contendo supostas “desinformações” sobre a Covid-19.
Os procuradores-gerais dos estados do Missouri e da Louisiana alegaram em processos judiciais no ano passado que o Dr. Anthony Fauci, então diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, se comunicou diretamente com Zuckerberg para tratar “das mensagens públicas e do fluxo de informações nas mídias sociais sobre a resposta do governo à Covid-19.”
Zuckerberg se ofereceu para trabalhar com Fauci a respeito das mensagens sobre o vírus a fim de “garantir que as pessoas pudessem obter informações fidedignas e de fontes confiáveis”.
O CEO da Meta sugeriu que as informações pudessem ser compartilhadas em um único bloco, posicionado no topo da página do Facebook, uma ideia que Fauci chamou de “muito empolgante”.
Os procuradores-gerais alegaram que o Facebook escolheu designar as informações sobre a Covid-19 como “falsas” somente por estarem ou não em acordo com um conjunto de “fatos” adotados por Fauci e pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Em janeiro, e-mails divulgados como parte do processo revelaram que o governo Biden pressionou o Facebook para censurar um vídeo postado em 2021 pelo então âncora da Fox News Tucker Carlson. A publicação viralizou ao mencionar efeitos colaterais adversos da vacina da Johnson & Johnson.
Funcionários da Casa Branca telefonaram para representantes do Facebook a fim de discutir como abordar o conteúdo de Carlson. O Facebook disse ao diretor de mídia digital da Casa Branca, Rob Flaherty, que rebaixaria a exibição do vídeo em 50%, aguardando o período de sete dias para verificação dos fatos.
A princípio, o Facebook resistiu à insistência da Casa Branca de que o site removesse o vídeo completamente. A plataforma disse que o vídeo não violou suas políticas de desinformação porque a vacina da Johnson & Johnson foi associada ao risco de uma rara e perigosa condição de coagulação chamada trombose com síndrome de trombocitopenia (TTS).
“Após as decisões de ontem do governo, estamos permitindo alegações de que a vacina da Johnson e Johnson causa coágulos sanguíneos, mas ainda não permitimos alegações categóricas de que ela ou outras vacinas são inseguras ou ineficazes”, disse o Facebook ao então consultor sênior da Casa Branca para respostas sobre a Covid -19, Andy Slavitt.
O Facebook respondeu observando que o vídeo de Carlson não estava sendo recomendado aos usuários e incluiu um link para o centro de informações sobre a Covid-19 do Facebook que dizia: “As vacinas contra a Covid-19 passam por muitos testes de segurança e eficácia, e são monitoradas de perto”.
Flaherty não se impressionou: “Metade das pessoas está levantando teorias da conspiração sobre o governo esconder que todas as vacinas não são eficazes”. “Não é à toa que, da última vez em que tivemos essa 'contradança', terminamos em uma insurreição”, acrescentou Flaherty, referindo-se à invasão ao Capitólio de 6 de janeiro de 2022.
E embora Zuckerberg pareça colocar a responsabilidade pelas más decisões do Facebook nas mãos dos “especialistas em saúde”, ainda em outubro de 2022 parecia que o site não tinha aprendido sua lição. Segundo relatório do site The Intercept, naquele momento, o Facebook estava mantendo um portal comissionado, por meio do qual o Departamento de Segurança Interna dos EUA relatava diretamente alegações de “desinformação”.
Temáticas diversificadas
Embora o Departamento tenha fechado seu “Conselho de Governança da Desinformação”, continuou a fazer lobby junto a empresas de tecnologia contra “desinformações” sobre temas como “as origens da pandemia e a eficácia das vacinas contra a Covid-19, justiça racial, a retirada dos EUA do Afeganistão e a natureza do apoio dos EUA à Ucrânia”, disse o relatório.
Enquanto isso, um novo relatório do jornal The Telegraph revelou que o Facebook também estava recebendo pedidos para remover “desinformação” vindos de autoridades do outro lado do Atlântico.
A Unidade Contra Desinformação do Reino Unido estava em contato “de hora em hora” com sites de mídia social, de acordo com Sarah Connolly, a encarregada oficial pela operação. Uma das principais funções da unidade era repassar informações ao Facebook e ao Twitter para “incentivar… a retirada rápida” das postagens.
Mas a desinformação sobre a Covid-19 está longe de ser a primeira vez que o Facebook deixa cair a bola na moderação de conteúdo.
Em agosto do ano passado, durante entrevista ao podcast de Joe Rogan, Zuckerberg falou sobre a decisão da plataforma de suprimir histórias a respeito do laptop de Hunter Biden antes das eleições de 2020, dizendo que a decisão foi tomada depois que o FBI alertou o site para ficar de olho na “desinformação” russa.
A “distribuição” de conteúdos com esse tema foi suprimida por “cinco ou sete” dias na plataforma, disse Zuckerberg. Ele não soube precisar quantos usuários deixaram de ver a história como consequência dessa ação, mas afirmou que o impacto foi “significativo”.
Embora o FBI não tenha dito ao Facebook especificamente para censurar publicações sobre o laptop de Hunter Biden, o site decidiu que o tema “se encaixava no padrão” de propaganda russa sobre o qual havia sido alertado pela agência.
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