Não faz muito tempo que grande parte da elite global tinha decidido conclusivamente que a mudança climática era a prioridade do nosso mundo. Em seguida, veio uma enorme mudança de foco para uma pandemia global, da qual só vimos a primeira onda, juntamente com uma recessão global igualmente massiva. Serve como um lembrete oportuno de que um alarmismo que cultua um dos medos sobre todos os outros temores não presta para a sociedade.
Na era “AC” – antes do Coronavírus –, a Organização Mundial da Saúde havia chamado a mudança climática de “a maior ameaça à saúde global no século XXI”. Mesmo quando os tentáculos do Coronavírus já estavam se espalhando, os mais glamurosos se reuniram em Davos em janeiro deste ano e declararam que o clima era responsável pelas principais ameaças a longo prazo para o planeta.
A mídia alegremente mostrou um fluxo constante de cenários climáticos catastróficos. Os ativistas acharam nas distopias climáticas excelentes incentivos para a captação de recursos. Políticos em busca de votos prometeram nos salvar dos danos climáticos com regulamentos cada vez mais rigorosos de emissões de substâncias.
Não surpreende que essas histórias persistentes de medo tenham convencido muitos de que o fim do mundo climático está logo ali. Uma pesquisa feita em 28 países mostra que quase metade de todas as pessoas acreditam que as mudanças climáticas provavelmente levarão à extinção da raça humana.
O aquecimento global é um desafio real e um problema sério que precisamos enfrentar. Mas o alarmismo dificulta que pensemos com inteligência sobre as soluções climáticas, e isso afasta nossa atenção das muitas outras questões globais importantes.
Mesmo antes do Coronavírus, esse pânico já era muito exagerado. O próprio Painel Climático da ONU aponta que todos os impactos negativos provocados pelas mudanças climáticas causarão uma redução de 0,2% a 2% na renda média das pessoas lá pelos anos 2070. E esse cálculo é feito pela mesma ONU que estima que em 2070 a renda média das pessoas seja 363% maior do que é hoje. Assim sendo, o pior resultado do aquecimento global significará que seremos “apenas” 356% mais ricos do que hoje. Isso é um problema, mas não é o fim do mundo.
Pegue o problema real do aumento do nível do mar. Isso é frequentemente retratado em termos quase apocalípticos. Recentemente, temos sido alvo de relatos bastante genéricos de que os oceanos podem acabar subindo muito mais do que o Painel Climático das Nações Unidas nos diz, causando o deslocamento de incríveis 187 milhões de pessoas. A Bloomberg News declarou que cidades costeiras como Miami podem “ficar submersas em 80 anos”.
Na realidade, o número de 187 milhões de pessoas assume que, nos próximos 80 anos, ninguém no mundo fará nada para lidar com as águas em ascensão. Na vida real, é claro, as nações se adaptam. O próprio estudo que deu o número de 187 milhões também mostra que, com a adaptação, o número de pessoas que têm que se mover até o final do século é de apenas 305.000 – uma estimativa 600 vezes menor. A título de comparação, 305.000 pessoas se movendo nos próximos 80 anos é menos da metade do número de pessoas que se mudam da Califórnia a cada ano.
Outros desafios
Além disso, o foco exclusivo nas mudanças climáticas acaba por negligenciar outros grandes desafios que também precisam ser enfrentados, problemas com os quais poderíamos nos envolver de forma muito mais eficaz. De fato, isso também é a preocupação da grande maioria dos pobres do mundo. Quando a ONU perguntou a quase 10 milhões de pessoas o que eles consideravam como as principais prioridades do mundo, – especialmente as prioridades dos mais pobres do mundo – a grande maioria respondeu: melhorias na educação, saúde, empregos, governo e nutrição. O clima ficou em 16º lugar entre 16 prioridades – logo após o acesso telefônico e à internet.
Há uma incrível variedade de soluções eficazes para muitos dos males do mundo. A alimentação é uma das principais prioridades do mundo, e por uma boa razão. Alimentação eficaz nos dois primeiros anos de vida de uma criança ajuda a desenvolver o cérebro, melhora o impacto educacional e resulta em adultos dramaticamente mais qualificados. Embora a alimentação custe apenas US$ 100 por criança, ela aumenta a renda média da criança em US$ 4.500 em dinheiro de hoje. Essencialmente, ele oferece um retorno de 45 para um sobre o investimento.
O mesmo pode ser dito para muitas intervenções no campo da saúde. Embora obviamente precisemos continuar a lidar com a pandemia de coronavírus, precisamos lembrar também que o maior assassino entre as doenças infecciosas do mundo ainda é a tuberculose. A tuberculose é muitas vezes negligenciada, mas mata principalmente adultos no auge da vida e deixa muitas crianças sem pais. No entanto, por apenas US$ 6 bilhões por ano, o mundo poderia salvar quase 1,6 milhões de pessoas da morte por tuberculose. O filantropo Bill Gates, aconselhado sobre esse cenário por uma análise do meu think tank Consenso de Copenhague, chamou de “melhor investimento que já fiz” o dinheiro dedicado por ele na prevenção de tal doença.
Claro, ainda precisamos lidar com o clima. Pesquisas mostram que a maneira mais eficaz é aumentar drasticamente o investimento em pesquisa e desenvolvimento ecológico. Isso poderia inovar e trazer o preço de energia limpa para níveis abaixo dos custos dos combustíveis fósseis e fazer todos mudarem de matriz energética. Como isso também seria muito mais barato do que nossas políticas atuais e ineficazes, nossos orçamentos seriam capazes de resolver uma gama muito maior das principais questões do mundo.
Quando o falso alarme climático nos faz insistir em invocar o clima a cada momento, acabamos por não ajudar o mundo. Podemos – e devemos – fazer mais, melhor e mais rápido.
*Bjorn Lomborg é Presidente do Consenso de Copenhague e Bolsista Visitante da Hoover Institution, na Universidade de Stanford. Este artigo é adaptado de seu novo livro, “False Alarm - How Climate Change Panic Costs Us Trillions, Hurts the Poor, and Fails to Fix the Planet”.