A reação dos militantes de esquerda à divulgação de mensagens do gabinete de Alexandre de Moraes foi da agressividade à tentativa de minimização.
Nesta terça (13), o jornal Folha de S. Paulo publicou conversas nas quais a equipe de Moraes parece atropelar os trâmites normais de investigação para obter informações sobre alvos específicos — geralmente, pessoas ou grupos vistos como simpáticos a Jair Bolsonaro.
Os diálogos ocorreram sobretudo durante o período eleitoral de 2022, quando Moraes acumulou o posto no STF com a presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Ao comentar o caso nesta quarta-feira, o ator petista José de Abreu foi direto: ele pediu que o ministro do STF aproveitasse a oportunidade para fechar as portas de um dos principais jornais do Brasil. “O Alexandre deveria mandar fechar a Folha”, ele escreveu.
O blogueiro Thiago dos Reis, que tem mais de 400 mil seguidores na rede social X e já se encontrou com o presidente Lula, também optou por pedir uma reação agressiva de Moraes: "O bolsonarista Glennn [Greenwald] soltou matéria na Folha pra atacar o Alexandre de Moraes e tentar salvar o Bolsonaro. Pode prender o genocida e jogar a chave fora!". Em seguida, ele tentou arregimentar apoiadores para Moraes: "Quem tá com Alexandre comenta aí: Xandão eu autorizo".
Outro influenciador popular entre os governistas, Vinicios Betiol lançou uma hipótese diversionista para explicar as revelações, embora a Folha de S. Paulo não tenha qualquer proximidade com o bolsonarismo.
"Um detalhe importante sobre essa fofoca do Glenn Greenwald é que vem no exato momento em que o STF cobra transparência no Orçamento Secreto. Ou seja, o central quer emparedar o STF por causa da grana e os bolsonaristas por causa da anistia", Betiol especulou.
Tentativa de minimização
Outras figuras de esquerda preferiram minimizar o impacto das revelações sobre Moraes, feitas pelo jornal paulista. “Não tem nada. Só gente desocupada e juridicamente ignorante fazendo marola para tentar livrar o Bolsonaro da cadeia”, assegurou o cientista político Christian Lynch. “Não estou entendendo o escândalo em torno do Moraes. O problema é que seus assessores, como Ministro do STF, pediram por WhatsApp informações aos assessores dele mesmo, como Ministro do TSE, para instruir o inquérito?”, ele indagou.
Na verdade, um dos problemas é o possível uso, pela equipe de Moraes, de subterfúgios para fugir do rito adequado de investigação e mirar pessoas previamente selecionadas pelo ministro.
O advogado Augusto de Arruda Botelho adotou um tom semelhante ao de Lynch: "A comunicação e a troca de informações entre TRIBUNAIS é completamente diferente da comunicação e da troca de informações entre PARTES", ele escreveu, sem diferenciar a comunicação institucional, pelas vias legais, da articulação em conversas sigilosas no Whatsapp.
As revelações
Na terça (13), a Folha de S. Paulo revelou parte das mensagens trocadas pela equipe de Alexandre de Moraes no período eleitoral de 2022. O jornal afirma que, sob a alegação de que era preciso enfrentar as "fake news" e a "desinformação", o gabinete do ministro descumpriu as normas que ditam o trâmite processual.
Em nota, o gabinete de Moraes negou que tenha atuado fora das normas e disse que o TSE tem "poder de polícia" para produzir relatórios a respeito de "atividades ilícitas, como desinformação, discursos de ódio eleitoral, tentativa de golpe de Estado e atentado à Democracia e às Instituições".