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As ativistas feministas do início da Revolução Sexual diziam que a pornografia era um sinal de decadência e exploração. Hoje, essa visão é rara.
As ativistas feministas do início da Revolução Sexual diziam que a pornografia era um sinal de decadência e exploração. Hoje, essa visão é rara.| Foto: Pixabay

Desde a Revolução Sexual dos anos 1960, o movimento feminista busca condenar a ética sexual como algo repressivo, misógino e intolerante tradicional. À medida que os anos 2010 chegam ao fim, porém, talvez seja justo dizer que a cultura predominante chegou ao fim lógico dessa filosofia. Enquanto os norte-americanos mais velhos ainda se lembram de quando nossa sociedade defendia o autossacrifício mútuo no lugar do hedonismo, vivemos numa era em que até as crianças têm acesso à pornografia ilimitada na Internet.

Há uma ironia aqui. Os comportamentos exibidos e às vezes estimulados pela pornografia são os mesmos que as feministas da terceira onda amam odiar. Enquanto ativistas de esquerda acusam os campi universitários de darem as costas para a “cultura do estupro”, um estudo sugere que homens que assistem à pornografia têm muito menos chance de intervirem em situações levando à violência sexual e demonstram uma tendência maior ao estupro.

O consentimento não basta

Os conservadores há muito dizem que tratar o consentimento como único limite em assuntos sexuais é algo que despreza a questão do caráter, mas as feministas de hoje ignoram esse debate. Nem sempre foi assim. A feminista radical Andrea Dworkin foi a última intelectual importante de esquerda a falar publicamente sobre a imoralidade do consumo de pornografia e seu nexo com a violência sexual. Implorando para que os norte-americanos parasse de ignorar o assunto, Dworkin disse, num discurso de 1993:

Hoje em dia há uma comunidade de pessoas que têm expressado a experiência do que significa ser mulher, o que significa entrar para o mundo da pornografia, o que significa ser vendida e comprada (...) chame como quiser, diga que são apenas palavras (...) mas isso acontece na vida real, a vida das mulheres é transformada em algo bidimensional e morto (...) este é o crime da desumanização; não estamos falando da violência, não estamos nem perto disso; isso é o que significa ser desumanizada.

Hoje muitas feministas têm uma memória seletiva no que diz respeito à obra de Dworkin. Johanna Fateman, que recentemente foi a coautora de uma antologia da obra de Dworkin, disse ao New York Times que “Dworkin perdeu a guerra do sexo de uma forma tão decisiva que hoje podemos ver para além de sua retórica mais extremista. (...) Você não precisa ter medo de Andrea Dworkin acabar com sua pornografia”.

Em vez disso, o movimento da “positividade sexual” venceu. Desde pelo menos 2013, as universidades de todo os Estados Unidos organizaram centenas de seminários sobre sexo. Ainda que a opinião individual das feministas seja variada, um estudo de 2015 feito pelo U.S. General Social Survey com dados de 1975 a 2010 mostrou que homens e mulheres com atitudes pró-feministas têm mais chance de consumirem pornografia.

Emancipação feminina e libertinismo

Basta dizer que Dworkin ficaria horrorizada com isso. Ela desprezava sobretudo “homens progressistas que associavam o libertinismo sexual à emancipação feminina, vendo-as como desbravadoras com fantasias de aventureiras”, escreveu Jennifer Szalai numa retrospectiva sobre o trabalho de Dworkin publicada no New York Times. “Apesar de toda a crítica deles ao capitalismo esses homens pareciam bem à vontade quando a mercadoria eram as mulheres”, acrescentou Szalai.

Longe de boicotar a indústria da pornografia, contudo, os recantos mais progressistas do movimento feministas estimulam o consumo de pornografia. “O consumo disso está crescendo sobretudo entre as mulheres, algumas das quais estão mudando de ideia quanto a isso graças ao olhar da positividade sexual”, escreveu Lucia Graves no Guardian. (Sendo claro, algumas feministas solitárias ainda estão enfrentando a indústria pornô).

Acadêmicas como Madita Oeming, uma autointitulada “erudita do pornô” e “feminista inclusiva das trabalhadoras do sexo”, chega a dizer que a ideia de um vício em pornografia é uma falácia inventada pela “imprensa, igreja e indústria da autoajuda”. Como escreveu Oeming na Vice, “transformar certas identidades sexuais em doença é quase uma tradição para nós. O vício em pornografia dá continuidade a essa tradição”.

Exposição precoce à pornografia

Mas os números pintam uma imagem mais lúcida. Um estudo de 2014 mostrou que 79% dos homens norte-americanos entre 18 e 30 disseram ter consumido pornografia no mês anterior. Entre os meninos de 14 anos, 94% deles já consumiram pornografia. O mais alarmante é que, de acordo com Peter Kleponis, um psicólogo que trata pessoas viciadas em pornografia na Pensilvânia, “aos 15 anos, 80% dos adolescentes terão sido expostos à pornografia violenta”. Quanto mais novo o homem “ao assistir à pornografia pela primeira vez”, de acordo com a Associação Norte-americana de Psicologia, “maior a probabilidade de ele querer se impor sobre as mulheres”.

Mas talvez alguns progressistas estejam começando a repensar seu comportamento isento quanto à indústria pornográfica. A colunista progressista do New York Times Michelle Goldberg escreveu recentemente sobre o interesse renovado pela obra de Andrea Dworkin — “é um sinal de que”, disse ela, “para muitas mulheres, nossa cultura libidinosa não é nem agradável nem libertadora”. O próximo passo é investigar as raízes da nossa cultura marcada pela pornografia, que transforma homens e mulheres em escravos de seus instintos mais primitivos.

William Z. Nardi é bolsista na National Review.

© 2019 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês

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