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Marido e mulher têm uma vida tranquila em uma casa confortável de um bairro de classe média alta, na Itália, quando descobrem que vão ter um bebê. De repente, a tragédia se abate: a mulher é diagnosticada com um câncer agressivo que não lhe deixa muito tempo de vida. Como um ato de amor para a filha, ela decide deixar um presente para aniversário até que a garota atinja os 18 anos. Esta é a história real de Elisa Girotto, que morreu em 2017, e também o mote do filme “18 Presentes”, produção italiana recém-lançada pela Netflix. A protagonista carrega o nome e o sobrenome da mulher que inspirou a história.
O enredo do filme tem o mesmo ponto de partida da história de Elisa Girotto (o viúvo dela até mesmo participou ativamente da elaboração do roteiro). Mas o diretor Francisco Amato (41 anos, em seu quarto filme) se permite um elemento de criatividade que pode surpreender o espectador mais convencional.
A narrativa é conduzida por Elisa (interpretada por Vittoria Puccini), a garota Anna (Benedetta Porcarolli) e o pai, Alessio (Edoardo Leo). A obra aborda o tema da ausência materna em uma narrativa delicada e tocante. O filme, centrado nas (por vezes instáveis, mas indispensáveis) relações familiares, sobretudo em expressões comoventes do amor entre mãe e filha, transcorre num ritmo suave, com uma agradável simplicidade na construção das cenas.
Desde seu diagnóstico, Elisa exibe um certo estoicismo – a crença de que não se pode mudar o próprio destino, mas sim a forma como se reage a ele. Apesar do seu diagnóstico de câncer, ela se preocupa em tomar decisões práticas pela filha. Daí a ideia dos presentes. Mas, conforme Anna cresce, também surge a rebeldia juvenil diante do ritual anual que a faz relembrar a ausência materna.
A história de “18 Presentes” transcorre no ambiente doméstico: é uma história de intimidade. O ato de heroísmo de Elisa não é feito em busca de glória, mas para, de alguma forma, estender o seu amor materno até que a própria filha atinja a maioridade. A salvação, portanto, está na família e no seu reino de ternura. Apesar do seu estoicismo, e de não conseguir evitar o fim abrupto da própria vida, a protagonista acaba mudando o destino da filha.
A suavidade na interpretação de Vittoria Puccini, uma das musas do cinema italiano, é um destaque do filme, que, mesmo não sendo um clássico para a posteridade, vale a audiência como um testamento à imortalidade do amor materno.
Não é o primeiro filme, nem será o último, com base no binômio filho rebelde versus pais incompreendidos. Mas Amato encontrou uma maneira de contar, de forma original, uma história que demonstra como o amor materno consegue ultrapassar barreiras temporais e superar a própria vida – ainda que sem recorrer ao sobrenatural.