Foragido da Justiça, o médium João de Deus informou às autoridades que deve se entregar amanhã (16), em Goiás. A data foi fixada há pouco, em negociação com a defesa. Ele é acusado de ter abusado sexualmente de mulheres durante atendimentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola.
João de Deus é considerado foragido e seu nome foi incluído na lista da Interpol. A classificação é dada pelo Ministério Público e pela Justiça. O prazo para que ele se entregasse terminou às 14 horas deste sábado, 15.
A Polícia Civil suspeita que ele esteja fora de Goiás. Nas negociações realizadas hoje, uma das hipóteses era de que agentes fossem até o local onde ele está para fazer a prisão e o transporte até Goiás. Em virtude da idade e da natureza do crime de que é acusado, a expectativa é de que ele fique em uma cela individual. A prisão preventiva contra o líder espiritual foi decretada no fim da manhã de sexta-feira, 14.
Integrantes do grupo destacado para fazer a investigação e as negociações, no entanto, ainda colocam em dúvida se o acerto será de fato cumprido. Para eles, a defesa do médium deverá aguardar o resultado do pedido de habeas corpus. Se a medida for concedida antes de ele se apresentar, seria possível evitar um desgaste ainda maior para o médium, que atrai anualmente para a cidade goiana de Abadiânia 120 mil fiéis - 40% deles estrangeiros.
O advogado de defesa de João de Deus, Alberto Zacharias Toron, no entanto, assegurou em entrevista que seu cliente vai se entregar antes da apresentação do habeas corpus. A ação será proposta segunda.
Segundo o jornal O Globo, investigadores identificaram movimentações recentes nas contas bancárias em nome dele. Segundo esses investigadores, na quarta-feira passada (12), quando as denúncias já eram conhecidas, foram retirados cerca de R$ 35 milhões de contas bancárias em nome de João de Deus.
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Para tentar cumprir o mandado policiais chegaram a procurá-lo em Goiás, Anápolis e Abadiânia - cidade onde ele prestava os atendimentos -, mas não tiverem êxito. Mais de 20 locais foram visitados em busca do paradeiro do suspeito. A defesa de João havia dito que o médium iria apresentar-se voluntariamente ainda na sexta, o que não aconteceu.
O médium nega as acusações. Nesta sexta, seus advogados afirmaram que a ordem de prisão preventiva é ilegal e injusta. Segundo eles, "apenas alguns depoimentos, de poucas vítimas, acompanham o pedido de prisão preventiva, ainda assim, sem os seus nomes".
Os casos de abuso sexual vieram a público após 13 mulheres relatarem as denúncias no sábado (8) durante o programa Conversa com Bial, da TV Globo, e ao jornal O Globo.
Na segunda (10), Aline Saleh, 29 contou sua história à Folha de S.Paulo: "Quem tem de sentir vergonha é ele, e não eu". Ela diz que, em 2013, esteve na casa e que foi levada para um banheiro, posta de costas e que João de Deus colocou a mão dela em seu pênis.
No início da semana a Promotoria chegou a criar uma força-tarefa para recolher as inúmeras denúncias de abusos sexuais contra o médium. Segundo a Promotoria, 335 contatos já foram recebidos, com mensagens principalmente por e-mail, incluindo também outros seis países (Alemanha, Austrália, Bélgica, Bolívia, Estados Unidos e Suíça).
Também foram colhidos os depoimentos de 30 pessoas nos Ministérios Públicos de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Espírito Santo. Em comum, a maioria das mulheres diz que recebeu um aviso para procurar o médium em seu escritório ao fim das sessões em que ele atende aos fiéis.
No local, segundo as vítimas, João de Deus dizia que elas precisavam de uma "limpeza espiritual" antes de abusá-las sexualmente. Entre as vítimas estariam mulheres adultas, crianças e adolescentes.
O promotor Luciano Miranda Meireles afirmou que os depoimentos podem ser a úncia forma de comprovar as acusações, já que crimes como estupro não ocorrem à luz do dia nem têm testemunhas.
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