Para os poucos telespectadores da Grã-Bretanha que assistiam à Fox News, terça-feira (29/08) foi um dia triste. A partir das 16h o canal foi retirado da lista de transmissões britânicas.
A razão? Pouca audiência.
Na terça, a matriz da Fox News anunciou que retirou o canal do ar na Grã-Bretanha por conta dos baixos números. “O canal tem em média apenas alguns milhares de telespectadores durante o dia”, disse a 21st Century Fox em uma declaração à CNN. O que não é surpreendente, observou a empresa, porque a maior parte dos programas da Fox News são focados em um público americano. “Nós concluímos que não está em nosso interesse comercial continuar transmitindo a Fox News no Reino Unido”, dizia a declaração.
O declínio de audiência não foi o único problema da emissora. O canal era regularmente criticado por violar o rigoroso código britânico de televisão.
Críticas e reclamações
Em 2015, as observações de um comentarista da Fox News sobre as ameaças de terrorismo na Europa geraram diversas reclamações. Steve Emerson, descrito pela Fox News como um especialista em terrorismo, disse que Birmingham, a segunda maior cidade britânica, era “totalmente muçulmana”, um lugar “onde não-muçulmanos simplesmente não entram”. Tais comentários, comprovadamente irreais, geraram chacota nas redes sociais.
Até mesmo o primeiro ministro David Cameron pronunciou-se, dizendo que Emerson era “claramente um idiota”.
A Fox desculpou-se, mas a Ofcom, a autoridade britânica reguladora das telecomunicações, decidiu que a emissora havia cometido uma “séria violação” do código britânico de televisão.
No ano passado, a autoridade reguladora acionou a emissora novamente por transmitir opiniões pró-Brexit no dia do referendo. (As regras proíbem as emissoras de transmitir quaisquer segmentos relacionados a eleições e referendos durante a apuração.) Também em 2016, a Ofcom mencionou que a Fox News repetidamente violou a exigência estabelecida de que programas de notícias deveriam oferecer cobertura imparcial e conceder tempo para diferentes opiniões sobre Donald Trump.
A reguladora apontou três episódios do programa noturno de Sean Hannity que “incluíram um número de declarações fortemente críticas” sobre a candidata Hillary Clinton. O programa se referiu a ela como “a rainha da corrupção” e como “irresponsável e desonesta”. Ele também transmitiu clipes de Trump chamando o programa de refugiados da candidata de “insano”.
“Nós consideramos que os programas apresentaram uma visão esmagadoramente unilateral [em favor de Trump] em uma questão de grande controvérsia política e uma questão importante relacionada à questão pública atual”, disse a Ofcom na época.
“Não havia nenhum apoio unânime expresso em favor de Donald Trump e sua campanha”, adicionou, mas havia “um alto nível de unanimidade nos pontos de vista expressos nos programas do canal”.
Recentemente, a Fox teve problemas na Grã-Bretanha por falhar em classificar claramente um segmento em “Fox & Friends” como propaganda.
Fusão com a Sky
No entanto, alguns críticos sugerem que há intenções desonestas por trás da retirada da Fox News da grade de canais britânica. O dono da 21st Century Fox, Rupert Murdoch, está tentando assumir o comando da Sky, empresa de transmissão por satélite que possui 22 milhões de consumidores na Europa.
Em junho, o acordo foi adiado por instituições regulatórias britânicas que queriam revisá-lo para verificar se ele não daria à família Murdoch controle excessivo sobre o cenário de mídia britânico. (A família já possui três jornais no Reino Unido: o The Sun, o Times e o Sunday Times.)
O “momento do anúncio é, claramente, o elemento interessante”, disse Toby Syfret da Enders Analysis ao Hollywood Reporter. “Ele não irá prejudicar a proposta – de fato, pode inclusive ajudar nesse quesito – da perspectiva regulatória em relação à questão dos padrões de transmissão; embora eu não consiga ver isso afetando o problema da pluralidade e as preocupações relacionadas com a concorrência”.
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