“Com relação à questão de falar inglês, sinceramente não acho que seja indispensável, de forma alguma” – Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, sobre a exigência do inglês para quem presidir a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Muita coisa é dispensável neste governo: inglês, impessoalidade, moralidade, gramática...
“Graças a Deus, meu marido é independente, o meu dinheiro é só para fazer as minhas vaidades. Graças a Deus! Só para os meus brincos, minhas pulseiras e os meus sapatos” – Carla Fleury de Souza, procuradora da Justiça de Goiás, reclamando de um salário de R$ 37 mil. Comovente.
“Minha posição nunca foi defender um humor racista. Eu sempre tentei defender um humor que não causasse dor, que não machucasse” – Fábio Porchat, humorista em desconstrução, recuando da defesa da liberdade de expressão para seu colega Léo Lins após a censura judicial. O que causa dor e machuca é humorista sem graça e sem coragem.
“Eu me conscientizei ainda nas eleições. Mas não sei se um dia vou conseguir me perdoar. Mais uma vez, me desculpe, Flávio [Bolsonaro]. Me desculpe, direita. Me perdoe, Brasil” – Fernando Holiday, o Fábio Porchat de direita. Não custa lembrar que o vereador de São Paulo foi um crítico do governo Bolsonaro até outubro do ano passado – quando não se elegeu para deputado federal.
“O tom jocoso e anedótico das afirmações ofensivas à honra de magistrado [Gilmar Mendes] é interpretação particular do acusado [Sergio Moro] que, a toda evidência, não encontrou ressonância na vítima que, ciente da grave ofensa e do crime praticado em seu desfavor, imediatamente, representou ao Ministério Público Federal” – Lindôra Araújo, vice-procuradora-geral da República, querendo insistir em tornar Moro réu por uma piada. Eu culpo humoristas invertebrados que pedem desculpas enquanto o humor é criminalizado no país.
“Um trote de telefone é uma falsidade ideológica? Claro que não” – Pedro Serrano, advogado, na defesa de seu cliente, o juiz Eduardo Appio, que teria feito uma ligação em tom de ameaça para o filho de um desembargador. Se no Brasil juiz faz lei, por que não pode passar trote?
“O Twitter deixou o Código de Prática voluntário da União Europeia contra a desinformação. Mas as obrigações permanecem. Você pode correr, mas não pode se esconder” – Thierry Breton, comissário da UE, deixando bem claro o que significa “voluntário” para a burocracia europeia.
“Folha lança campanha para incentivar furo de bolhas e diversidade de ideias. Publicidade conta com colunistas da casa, de Mônica Bergamo a Itamar Vieira Junior” – Folha de S. Paulo, jornal. É aquela mesma diversidade do guarda-roupa de cada personagem da Turma da Mônica.
“A declaração anual de IRPF é um convite para refletirmos sobre nossos próprios privilégios” – Bruno Carazza, colunista de economia, insinuando que paga pouco imposto. Ele pode sempre imprimir um boleto do governo e pagar, para aliviar a consciência.
“Dói no meu coração a gente ser citado fora de contexto [como camelódromo digital]” – Felipe Piringer, diretor de marketing da Shopee, descobrindo que a verdade machuca.
“Você pensa que pensa? Pensa mal. Quem pensa por você é a rede social. Quem vota por você é a rede social. Resolvemos que o faroeste digital vai ser bom? O faroeste digital em uma sociedade vai dar em um estado democrático de direito?” – Cármen Lúcia, ministra do STF. Como ela disse há poucas semanas que liberdade não é um direito, mas ‘um sentimento, uma emoção’, agora precisa dizer quem é que pensa por ela.
“Povos originários bloqueiam totalmente a Rodovia dos Bandeirantes [SP] em protesto contra o marco temporal. Marco temporal não!” – Orlando Silva, deputado federal comunista. Em novembro de 2022, o mesmo Orlando disse: ‘O choro é livre. O bloqueio de estrada é CRIME!’.
“O Brasil é terra indígena!” – Erika Kokay, deputada federal petista. Na eleição passada, ela declarou que tem um apartamento avaliado em R$ 370 mil no Setor Hoteleiro Norte de Brasília. Já doou seu lote para os índios, Erika?
“Se a imprensa, à época da Lava Jato, tivesse mostrado esse Dallagnol que hoje se vê no Roda Viva, a história poderia ter sido diferente. Intelectualmente, é desonesto. Um fanático, de extrema-direita” – Ricardo Noblat, que, intelectualmente, é jornalista.
Cantinho da democracia madura
“Eu acho, companheiro Maduro... você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela, da antidemocracia, do autoritarismo... é preciso que você construa a sua narrativa. É efetivamente inexplicável um país ter 900 sanções porque o outro país não gosta dele” – Luiz Inácio Lula da Silva, presidente, reduzindo a mera narrativa milhares de vítimas de violações de direitos humanos e inventando número falso de sanções. O Brasil voltou... a tratar bem os ditadores.
“Fiquei surpreendido quando se disse que o que se passou na Venezuela é uma narrativa. Vocês sabem o que pensamos a respeito da Venezuela e do governo da Venezuela” – Luis Lacalle Pou, presidente do Uruguai. 1 x 0.
“Não é uma questão de narrativa, como disse o presidente Lula ontem. É a realidade e é uma questão de direitos humanos” – Gabriel Boric, presidente do Chile. 2 x 0.
“A Organização de Venezuelanos Perseguidos Políticos no Exílio (Veppex) declara Lula persona non grata por seu constante apoio ao regime tirano de Nicolás Maduro” – José Antonio Colina, presidente da Veppex. 3 x 0.
“Como no caso da Ucrânia, Lula deveria entender que, se quer que o Brasil tenha um papel de liderança frente à Venezuela, deve começar por um diagnóstico acertado — não falso — da realidade. O autoritarismo na Venezuela não é uma ‘narrativa construída’. É uma realidade inquestionável” – Juanita Goebertus, diretora da Divisão das Américas da Human Rights Watch. 4 x 0.
“A Venezuela está de portas abertas, com plenas garantias ao empresariado [brasileiro], para que voltemos ao tempo de investimentos e crescimento econômico” – Nicolás Maduro, ditador da Venezuela. Também é plena a garantia de que o empresário, se falar mal da ditadura, ganhará choque elétrico nos testículos.
“Governo Lula vê Boric refém da direita e Chile como exemplo a ser evitado” – Mônica Bergamo, jornalista, por coincidência servindo como porta-voz da retaliação petista.
“Toda a solidariedade à colega Delis Ortiz. ‘Narrativa democrática’ muito estranha, essa” – Eliane Catanhêde, jornalista, sobre a colega que levou um soco no peito de um segurança ao tentar fazer perguntas para Maduro. Em dezembro passado, Catanhêde disse que ‘O Brasil voltou!’, comemorando os ministérios do governo Lula 3.
“Nada demais Lula receber Maduro no âmbito de uma reunião de presidentes da América do Sul, mas para que tantas homenagens a um ditador? Contrassenso para quem repete que foi eleito para restaurar a democracia no Brasil” – Dora Kramer, jornalista que parece ter esquecido que Lula sempre bajulou ditadores socialistas.
“Maduro é um ditador tanto quanto Guaidó era fanfarrão ilegítimo. E sempre achei isso. Não há mal nenhum em receber Maduro junto com outros líderes sul-americanos. A pompa era desnecessária. Bolsonaristas gritam porque são hipócritas” – Reinaldo Azevedo, jornalista vira-casacas. Cuidado com essas declarações de ‘sempre achei’ isso e aquilo, Reinaldo. Nós temos Google em casa. Por exemplo, achamos aqui uma coluna de 19 de janeiro de 2007, na Veja, de alguém de mesmo nome, dizendo que ‘Luiz Inácio Apedeuta da Silva é chefe do ditador venezuelano Hugo Chávez’.
“Lula erra ao celebrar o reacionário ditador Maduro” – Guga Chacra, jornalista. Assim como fizeram com Pedro Castillo, golpista do Peru, Guga tenta afastar Maduro da esquerda. Olha o avião do ‘reacionário’! Só não preste muita atenção no socialismo ao redor...
“A Venezuela de Nicolás Maduro é o Brasil com o qual Jair Bolsonaro sonhava” – Pedro Doria, jornalista que é o tipo de liberal com o qual comunistas sonham.
“Lula errou ao dar carimbo de democracia ao governo do autocrata venezuelano” – Míriam Leitão, jornalista que, como muitos, errou ao dar carimbo de democrata para Lula.
“Precisamos prezar pelo fortalecimento da democracia e condenar os regimes autoritários” – Tabata Amaral, deputada federal (PSB) que perseguiu um comediante por causa de uma piada até ele perder o emprego, votou a favor da urgência do PL das Fake News e aprovou a manipulação da nossa democracia com cotas identitárias nos partidos.
“Sim, as relações internacionais ofendem nosso senso moral pessoal. Quem não sabe disso ou vive em constante revolta contra todos os governos... ou vive iludido com algum deles” – Joel Pinheiro, colunista liberal. Liberalismo não era revolta contra todos os governos?
“Ninguém me contou. Fui lá e vi. Estive na fronteira e conversei com dezenas de famílias nos campos de acolhimento fugindo da ditadura venezuelana. Não é só uma narrativa. É real e não tem nada a ver com democracia” – Luciano Huck, apresentador e empresário. Outro apoiador do presidente muito surpreso com o que ele faz há mais de 20 anos.
“O preconceito com a Venezuela é muito grande”
– Lula, no Twitter. Para ficar esperto, levou mais uma checada das Notas da Comunidade.
Cantinho do amiguinho nomeado
“É alvissareira a notícia de que o nome do brilhante advogado Cristiano Zanin foi encaminhado à apreciação do Senado Federal. O Dr. Zanin sempre demonstrou elevado tirocínio jurídico em sua trajetória profissional” – Gilmar Mendes, ministro do STF, o único que faz tweets com palavras como ‘alvissareiro’ e ‘tirocínio’. Vai uma palavra para ele, em inglês: sesquipedalian, ‘pessoa que usa demais palavras complicadas’.
“Escolha de Zanin quebra princípio da impessoalidade” – Míriam Leitão, jornalista e escritora de obviedades.
“Um homem jamais terá a sensibilidade de uma mulher para julgar certas questões que vão parar no Supremo. Um branco jamais terá a sensibilidade de um negro para julgar certas questões. Faltava uma mulher negra no Supremo. Este é um gol que o Lula não marcou hoje” – André Trigueiro, jornalista, um dos vários adeptos da ideologia identitária, aquela que alega queo pensamento das pessoas está condicionado à cor de sua pele ou ao seu sexo.
Memória
“Não é prudente, não é democrático um presidente da República querer ter os ministros da Suprema Corte como amigos. Estou convencido que tentar mexer na Suprema Corte para colocar amigo, para colocar companheiro, para colocar partidário é um atraso, é um retrocesso” – Lula, que acabou de indicar para o STF seu amigo e advogado pessoal Cristiano Zanin, em debate presidencial de 2022.
“É absolutamente inadmissível que uma repórter, exercendo sua profissão, seja covardemente agredida por manifestante radical, que jamais saberá o real significado do direito de livre manifestação e da imprensa livre, um dos sustentáculos da democracia” – Alexandre de Moraes, primeiro de seu nome, ministro do STF, presidente do TSE. Mas ele não disse isso agora, disse em maio de 2020. Aliás, uma das primeiras ações dele no inquérito ilegal das “fake news” foi censurar a revista Crusoé.
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