A adolescente Blake Allen e suas colegas reclamaram quando estudante do sexo masculino usou seu vestiário. Agora elas enfrentam críticas pesadas — e talvez até punições.
Nossa equipe viajou litoral acima nesta semana para a cidade de Randolph, no nordeste do estado de Vermont, a tempo de ver os últimos dias da bela folhagem de outono por lá. Queríamos ver essas meninas animadas, que conversaram conosco enquanto comiam panquecas e bebiam café. Elas compartilharam sua história e suas ansiedades das últimas semanas de tensão, reconhecendo os riscos de falar publicamente de um assunto controverso como esse.
É uma questão com a qual muitos pais não esperam que suas filhas de 14 anos lidem, muito menos falem em público a respeito: estudante do sexo masculino, que se identifica como menina transgênero, jogando no time de vôlei das meninas e usando seu vestiário.
Mas nesse distrito escolar de Vermont, as autoridades da educação citam uma lei estadual que permite que estudantes usem os vestiários e banheiros que se alinham com sua identidade de gênero declarada. Essas autoridades dizem que se importam com a segurança de todos e que a Escola Secundária Randolph Union está investigando se houve assédio quando as garotas disseram que a colega biologicamente masculina não viesse a seu vestiário enquanto estivessem trocando de roupa.
Durante uma reunião cheia na terça à noite (11/10) com os pais, o superintendente da escola Layne Millington alegou que a cobertura da reação das meninas levou a ódio e intolerância contra a estudante que se identifica como trans e contra o distrito escolar. E outros pais e alunos criticaram Blake e sua família por não ficarem calados a respeito.
Pais que falaram conosco disseram que o superintendente e a reunião não deram atenção à questão mais premente: o desconforto de suas filhas com a presença de estudante do sexo masculino no vestiário que pode observá-las enquanto mudam de roupa.
Numa manhã de neblina na quarta, nos encontramos com algumas dessas moças numa lanchonete com boliche. Com nervosismo, mas determinação de falar sua verdade, cada garota se sentou, ajustou o microfone e deu sua explicação do motivo pelo qual pensa que sua voz não está sendo respeitada.
As meninas dizem que não têm nada contra a estudante trans — só não acham que uma pessoa biologicamente masculina deveria estar em seu vestiário, e não conseguem entender por que as autoridades escolares parecem não se importar com seus sentimentos e desconforto.
“Um homem estava no nosso vestiário quando as meninas do vôlei estavam tentando trocar de roupa”, disse Blake. “E depois que eu pedi que ele saísse, ele não saiu, e depois espiou as meninas que tiravam as blusas. E isso deixou muitas desconfortáveis, se sentindo violadas. E eu saí assim que eu pude, em pânico”.
“Não é totalmente culpa da aluna trans”, acrescentou. “É muito mais culpa do conselho escolhar, eles estão em falta com todo mundo. Não só com o time de vôlei, não com a aluna trans. Eles não fizeram nada para ajudar nessa situação. Ainda não estão fazendo. Só querem culpar as pessoas e não estão tentando ajudar a mudar as coisas”.
Uma membro do time de vôlei que deu o nome Lilly disse na reunião de terça à noite que nenhuma das meninas no vestiário estavam trocando de roupa quando a aluna trans entrou lá. Kayla, uma das jogadoras de vôlei que conversou conosco, disse que isso não é verdade.
“Todas estavam em alguma etapa de trocar de roupa”, explicou. “Algumas meninas já estavam vestidas, algumas não tinham tirado a roupa, outras estavam no meio da troca”.
“Então por que alguém diria que não estavam”, perguntei a ela.
“Acho que todo mundo está tentando distorcer a história para parecer que nós somos as más pessoas da situação”, disse a aluna do ensino médio.
A guardiã e madrasta da aluna trans, Melissa Sivvy, insistiu que sua filha é menina, que merece usar o vestiário das meninas e nunca se comportou de forma imprópria.
Com direito de resposta oferecido pela reportagem, a guardiã pediu que a reportagem explicasse o que significa “biologicamente masculino” e o que as meninas queriam dizer ao declararem que ficavam desconfortáveis com sua filha presente no espaço em que estavam trocando de roupa.
“Sua filha é biologicamente masculina, certo?”, perguntei à Sivvy na noite de quarta.
A resposta: “Você acha que adultos deveriam estar pensando no que tem por baixo das roupas das crianças? Parece meio fora de ordem para mim”.
Pais que deram entrevista disseram que estão revoltados com o distrito escolar e com a escola secundária por permitirem que um incidente desse tipo acontecesse — não querem meninos biológicos nos vestiários de suas filhas, e estão perplexos que o sistema escolar pareça priorizar as necessidades de alunos que se identificam como transgêneros acima das de suas filhas. Também rebatem com firmeza as alegações de que reclamação é ódio.
“Quero que todas as crianças, todas as crianças na escola se sintam seguras, todas as crianças em todo o país se sentiam seguras em seus espaços onde precisam trocar de roupa e deveriam ser espaços privados”, disse a mãe da Blake, Jessica Allen. “Precisamos ser mais criativos no país para realmente descobrir uma forma de manter todos seguros e trabalhando juntos. O ódio de fato precisa parar, porque não é disso que se trata... tenhamos um diálogo aberto sobre como fazer com que todos se sintam seguros e confortáveis, porque nós ensinamos as crianças a proteger seus corpos”.
“Não acho que é o lugar deles”, acrescentou Eric Messier, pai da Kayla. “A minha filha está desconfortável... enquanto a outra aluna está no vestiário. Tudo o que importa é o conforto dela. É bem simples”, acrescentou ele, descrevendo sua filha e amigas como “meninas fortes e resilientes”.
“Precisam mudar as coisas e dar conforto a todas”.
As autoridades escolares continuam a apontar para a lei do estado de Vermont a respeito, notou Jessica Allen. “Mas a lei, como está escrita, dá espaço para criatividade”, disse ela. “Sejamos mais criativos, vamos fazer acontecer para todas se sentirem seguras”.
Blake nos conta que não só ela está desamparada pela escola — também enfrenta punição. Emails lidos pela reportagem mostram que as autoridades da escola estão investigando Blake por “assediar alguém com base em seu gênero” e que lançaram uma investigação a respeito dessa acusação após um processo de “trote, assédio e bullying”.
As autoridades não quiseram comentar especificamente essas acusações contra Blake. A codiretora Lisa Floyd disse à reportagem que “a segurança dos alunos é a maior prioridade do nosso distrito. Sempre damos o nosso melhor para manter um ambiente de aprendizado e amparo para todos os nossos estudantes”.
“O distrito tem políticas e protocolos para responder ao assédio contra estudantes com base em características protegidas ou outras más condutas”, acrescentou ela. “Não poderemos discutir estudantes específicos por causa de leis de privacidade federais. No entanto, quando chega ao nosso conhecimento que houve uma violação às nossas diretrizes, incluindo o assédio contra outros alunos, nossa resposta é imediata. Onde há violação das nossas políticas e expectativas, tomamos ações disciplinares em conformidade com a lei e calculadas proporcionalmente para impedir má conduta adicional. Também fazemos o nosso melhor para dar às vítimas as medidas de amparo”.
Blake diz que não se arrepende de ter protestado.
“Que bom que eu falei alguma coisa, porque ainda tem tanta coisa a ser feita, a lei poderia ser mudada, porque agora a notícia é nacional”, disse ela. Quanto à aluna que se identifica como trans, “ele tinha o direito de entrar, mas assim que dissemos que estávamos desconfortáveis, ele deveria ter saído. Podia ter sido simples assim”.
“Não quero que outras meninas sintam desconforto com isso”, acrescentou Blake. “Acho que todo mundo deve poder trocar de roupa no vestiário que está de acordo com o que era ao nascer. Se você nasceu menina, pode ir ao vestiário das meninas, sair quando tiver terminado de se trocar. Deveria ser simples, mas não é mais”.
Kayla disse que ouviu muitas pessoas dizendo que as autoridades escolares estão tratando a estudante trans como se ela tivesse mais direitos que as meninas.
“É um bom jeito de explicar”, disse ela. “Eles se importam mais com uma única aluna do que com o resto das meninas. Então nos mandam trocar de roupa nos banheiros individuais no lugar do vestiário. E a pessoa trans fica com o vestiário enquanto nós temos que ir para lugares diferentes”.
“Acho que o time é bem corajoso por fazer isso, pois todas nós sabíamos o que aconteceria, as consequências. Se uma de nós tentasse ganhar uma bolsa de estudos, eles poderiam nos achar na internet e negar”, acrescentou. “E por isso há muitas consequências pelo que estamos fazendo, mas penso que é muito importante”.
“É ódio ou intolerância não querer alguém do sexo masculino no seu banheiro ou vestiário?”, perguntei à maioria das meninas.
“Não”, diz Grace, aluna sênior da Randolph Union.
“Nem um pouco”, diz Blake.
“Não”, diz a mãe da Blake. “Trata-se do conforto e sentimento delas”.
“Também é um fato”, adiciona Grace, “porque é um homem biológico e não é ódio dizer. A questão é só que queremos ficar à vontade”.
“Por falar em direitos das mulheres”, lembrou Grace, “devemos ter o direito de ir ao banheiro sem ter um homem lá”.
©2022 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.
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