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Dia de Colombo

“Genocida”: a esquerda radical tenta cancelar ninguém menos que Cristóvão Colombo

Estátua de Cristóvão Colombo em Porto Rico: genocida? (Foto: Alfonso Rodríguez/EFE)

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Cristóvão Colombo é um dos dois estrangeiros a ter um feriado nacional nos Estados Unidos. O outro é Jesus Cristo. 

A homenagem ao descobridor da América é comemorada oficialmente desde 1934, quando o presidente (democrata) Franklin Roosevelt estabeleceu o 12 de outubro como data comemorativa. Em 1971, a celebração passou a ser feita na segunda segunda-feira de outubro.

O lugar de honra no calendário não é a única indicação da importância do navegador genovês para a cultura americana. Quem chega a Washington pela Union Station, a poucos metros do Congresso americano, se depara com uma grande estátua de mármore de Colombo. Nova York, por sua vez, tem o seu Columbus Circle — uma espécie de rotatória entre a área da Times Square e o Central Park, em cujo centro está um pedestal com a figura de Colombo.

Mas, se depender da esquerda radical americana, tanto o Dia de Colombo quanto as estátuas não vão durar muito.

A cada outubro, o legado do navegador tem se tornado tema de um intenso debate nos Estados Unidos: a militância woke alega que Colombo é o símbolo de um processo de colonização e genocídio que vitimou os povos nativos. 

Neste ano, o assunto ganhou ainda mais importância porque os candidatos presidenciais, Kamala Harris e Donald Trump, têm visões diametralmente opostas sobre o assunto.

Tentativas de cancelamento

Apesar de existir há oito décadas, o Dia de Colombo não está seguro no calendário federal.

No ano passado, um grupo de cinco parlamentares democratas, incluindo Alexandria Ocasio-Cortez, da ala mais radical do partido, apresentou um projeto de lei que remove a homenagem do calendário oficial e o substitui pelo Dia dos Povos Indígenas.

“Por muito tempo o nosso país falhou em reconhecer e admitir seu passado negro de danos e de apagamento aos primeiros habitantes das Américas”, afirmou a congressista Norma Torres, uma das autoras do projeto, ao justificar a iniciativa.

Em resposta, um grupo de republicanos apresentou uma resolução em apoio à manutenção da data. O texto saúda Colombo como um “pilar da cultura e da tradição americanas".

Nem todos os democratas apoiam a remoção das honras dadas a Colombo, entretanto. Durante a onda de derrubada de estátuas em meio aos protestos do Black Lives Matter, em 2020, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, defendeu as homenagens ao navegador como um sinal de respeito pela comunidade italiana.

Neste ano, o prefeito de Nova York, Eric Adams, e a governadora do estado, Kathy Hochul, participaram do desfile do Dia de Colombo em 2024. Ambos são democratas.

Dia dos Povos Indígenas

A proposta de remover o Dia de Colombo do calendário federal não avançou no Congresso, mas obteve sucesso em partes dos Estados Unidos.

Nos últimos anos, mais de 100 cidades aprovaram a criação do Dia dos Povos Indígenas exatamente na data reservada para homenagear Colombo.

A primeira a adotar a mudança foi Berkeley, na Califórnia. O novo feriado foi adotado em 1992, exatamente 500 anos depois da chegada de Colombo.

Além disso, três estados — Maine, Novo México e Vermont — trocaram o Dia de Colombo pelo Dia dos Povos Indígenas. 

Em 2021, o presidente Joe Biden também comemorou o Dia dos Povos Indígenas, embora não tenha removido a homenagem a Colombo do Calendário. 

Estátuas abaixo

Em 2020, quando a fúria iconoclasta da esquerda americana atingiu o seu ápice, parecia questão de tempo até que Cristóvão Colombo no sul da Filadélfia sucumbisse. A cidade, que é conhecida por sua população de esquerda e só teve prefeitos democratas nas últimas sete décadas, era um dos pontos da mais agitação política no país.

Mas um grupo de cidadãos se reuniu para proteger a estátua de Cristóvão Colombo na Praça Marconi, no coração da comunidade italiana da cidade.

A prefeitura entrou na disputa e anunciou que removeria a homenagem. Os moradores do bairro foram à Justiça. Durante a queda de braço, a estátua não saiu do lugar, mas foi envolvida por uma espécie de caixote de madeira. 

A estátua acabou encaixotada por mais dois anos. Até que, em dezembro de 2022, a Justiça decidiu que a cobertura fosse retirada. A prefeitura lamentou.

Outras cidades, entretanto, conseguiram remover as homenagens a Colombo. Ainda em 2022, o canal CBS News relatou que 33 estátuas do navegador haviam sido removidas naquele ano. Uma delas, no famoso Grant Park, no coração de Chicago.

Kamala x Trump

O debate sobre Cristóvão Colombo resvalou para a disputa presidencial. 

Em 2021, no Dia dos Povos Indígenas, a vice-presidente Kamala Harris discursou em um evento de uma organização que representa os povos nativos.

"Esses exploradores inauguraram uma onda de devastação para as nações tribais – perpetrando violência, roubando terras e espalhando doenças", disse ela, referindo-se ao que chamou de seu ‘“passado vergonhoso’”, afirmou a democrata. Donald Trump não perdeu a oportunidade de atacar a vice de Joe Biden: disse que a postura da adversária é um sinal do seu radicalismo político. 

O vídeo voltou a circular nos últimos dias, em meio a uma campanha eleitoral acirrada.

Críticas a Colombo têm anacronismo

Colombo teve defeitos. Era praticamente um homem da Idade Média. Em suas quatro viagens à América, ele chegou a manter indígenas como escravos. A maior tragédia foi causada sem querer: as doenças trazidas pelos primeiros navegadores europeus dizimaram algumas tribos.

Para o historiador Ricardo da Costa, professor da Universidade Federal do Espírito Santo, avaliar a figura do navegador pelos parâmetros de hoje é um anacronismo.

“Nas últimas décadas, as esquerdas acadêmicas mundo afora defenderam entusiasticamente o relativismo histórico e cultural. Agora decidiram ‘virar a chave’ e condenar os protagonistas do passado, com os valores ultrassensíveis das novas gerações, que romantizam todas as culturas com exceção das europeias”, critica.

Para ele, os críticos de Colombo não gostariam de viver na América caso os europeus nunca tivessem se instalado no continente. 

"Quanto a remover estátuas, pichar, ou destruir obras de arte, são atos criminosos, de pessoas ignorantes, estúpidas, que nunca estudaram História - aliás, tenho dúvidas se estudaram alguma coisa em suas vidas", conclui o professor.

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