Quando George H. W. Bush, aos 77 anos, com a assinatura de “George Walker”, entrou em contato com o menino filipino Timothy pela primeira vez, em janeiro de 2002, a mensagem era simples e direta: “Eu quero ser seu novo amigo”, dizia a carta com endereço do Texas.
“Eu sou um homem velho, de 77 anos, mas amo crianças; e, embora eu não te conheça, já amo você. Eu moro no Texas, e vou escrever para você de tempos em tempos. Boa sorte! G. Walker”. Essa foi a primeira de muitas cartas, segundo mostram cópias da ONG Compassion International reveladas à CNN. Durante anos se identificando como Walker, o ex-presidente financiou parte da educação e refeições do garoto, sem nunca revelar sua identidade verdadeira.
Em algumas das cartas, ele até deixava algumas pistas sobre sua identidade, escrevendo, por exemplo, que teria que ir até à Casa Branca no Natal”.
Quando Timothy soube quem Walker realmente era – o ex-presidente dos Estados Unidos George H. W. Bush – ele não conseguiu acreditar, disse a instituição de caridade.
Leia também: Trump e líderes mundiais elogiam trajetória de ex-presidente George H. W. Bush
Jim McGrath, o porta-voz da Casa Branca durante o governo de Bush, confirmou a autenticidade das cartas à CNN. “Não estou nem um pouco surpreso”, McGrath tuitou, mesmo embora tenha dito que não sabia do fato antes.
A revelação prova a dedicação de um ex-presidente cujos “valores e ética parecem ter desaparecido da política cultural atual”, como escreveu Karen Tumulty, do Washington Post, em um obituário após a morte de Bush, em novembro.
Avivamento da prática
Menos notada, a cultura política de 2018 levou a um renascimento de programas como o que Bush apoiou depois de 2001. Amigos por correspondência estão mais uma vez em ascensão, à medida que muitos americanos e cidadãos de outros países ricos escrevem a imigrantes como uma forma de protestar contra alguns dos sentimentos negativos em relação a pessoas de fora.
Quando familiares imigrantes acabaram ficando separados nos EUA no início deste ano, programas de amizade por correspondência tiveram um surto de participantes. Nem todos os projetos exigem doação de dinheiro, e alguns tem o objetivo de apenas permitir que os participantes criem laços afetivos uns com os outros, seja de centros de detenção de imigrantes no mesmo país ou de lugares remotos na Ásia ou na África.
Programas similares também apareceram em países europeus, inclusive na França, onde uma ONG coletou 400 cartas de refugiados descrevendo suas vidas. As histórias foram reunidas em uma "Enciclopédia da Migração" e estão acessíveis aos leitores.
No auge do fluxo de refugiados europeus em 2015, a ONG alemã One World criou um programa para enviar milhares de cartas a crianças refugiadas em todo o mundo na véspera de Ano Novo. "Fotos, desenhos e saudações devem ajudar as crianças a esquecer o ambiente por um momento", escreveu o grupo em seu site.
Essas mensagens tiveram um papel muito importante quando enviadas por sobreviventes da guerra. A Care, ONG sediada em Genebra, lançou recentemente um programa para conectar crianças refugiadas sírias com sobreviventes da Segunda Guerra Mundial.
Nem todas as cartas enviadas de volta aos Estados Unidos ou à Europa deviam ser lidas apenas por seus destinatários.
Bana Alabed, uma criança refugiada síria, ficou mundialmente conhecida há dois anos quando escreveu um tuíte de Aleppo, cidade devastada pela guerra, antes de fugir para a Turquia com sua família. Dirigindo-se ao presidente Donald Trump em uma carta no ano passado, ela escreveu que "não poderia permanecer em Aleppo, pois era a cidade da morte".
"Se você me prometer que vai fazer algo pelas crianças da Síria, eu já sou sua nova amiga", disse a criança de 7 anos.
Rick Noack é repórter de assuntos internacionais e cobre questões de segurança internacional e da Europa do escritório do The Washington Post em Berlim. Anteriormente, ele trabalhou para o The Post de Washington como bolsista do programa Arthur F. Burns e também de Londres.
Deixe sua opinião