Debaixo da calota de gelo no Hemisfério Sul de Marte existe um grande lago de água líquida. A descoberta conclui um debate que começou há 30 anos sobre a presença de água líquida na base das calotas polares marcianas.
O lago foi detectado usando o equipamento Mars Advanced Radar for Subsurface and Ionosphere Sounding (MARSIS), que é um instrumento na Mars Express, uma sonda que orbita o planeta desde 2003.
O instrumento envia pulsos de radar que penetram a superfície e as calotas polares do planeta, e mede como as ondas de rádio se propagam e se refletem de volta à nave. Esses dados informam os cientistas sobre o que pode estar embaixo da superfície.
Entre 2012 e 2015, o cientista Roberto Orosei e seus colegas usaram o MARSIS para investigar uma região de Marte conhecida como Planum Australe, no Polo Sul do planeta. Eles obtiveram um conjunto de dados mapeando uma área que tinha uma mudança muito expressiva no seu sinal de radar, cerca de 1,5 quilômetro abaixo da superfície e se estendendo por 20 quilômetros.
O perfil de radar da área é muito similar ao de lagos de água líquida que se situam sob o gelo do Ártico e da Groenlândia.
“A descoberta é mais uma da sequência de estudos sobre a presença de água em Marte. Até agora, sabíamos que existia água congelada no solo marciano, e na superfície de Marte, já vimos alguns indícios de uma água rica em sal escorrendo de alguns lugares, mas ainda não é certeza”, explica Douglas Galante, pesquisador de Astrobiologia do Laboratório Nacional de Luz Síncroton e membro da Sociedade Astronômica Brasileira.
Com 20 quilômetros de extensão e debaixo de uma calota polar, o lago marciano é similar ao lago Vostok, que fica sob a superfície do gelo continental da Antártida. Apesar da temperatura no local ser menor do que a de congelamento da água pura, os pesquisadores observaram que a presença de sais como magnésio, cálcio e sódio, comuns nas rochas marcianas, poderiam estar dissolvidos na água, impedindo o seu congelamento – como acontece na Terra.
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Busca por vida extraterrestre
Com a descoberta de água líquida, em grande quantidade e em temperatura razoável, a região se torna promissora para a procura por micro-organismos marcianos. Mas há um problema; como o solo dessa região em Marte é muito rico em sais, a água do local deve ser salobra – o que garante que ela não congele, mas também torna o ambiente mais hostil à vida.
Galante explica que uma mistura de sais, em especial o perclorato, deve estar presente no lago. “O perclorato é bastante tóxico para a maioria dos organismos vivos na Terra. Isso seria um problema para os micro-organismos ali. Mas uma série de estudos, desde 2016, tem mostrado que existem micro-organismos que habitam regiões ricas em sal, e são capazes de sobreviver na presença de perclorato”, disse.
Esses organismos que sobrevivem em condições hostis para a maioria da vida na Terra são chamados de “extremófilos”. “Podemos pensar [no lago descoberto] como um ambiente habitável, uma vez que conhecemos esses micro-organismos capazes de lidar com perclorato”, destaca Galante.
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