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Ativismo climático

Greta Thunberg faz “reposicionamento de marca”: menos “ecoapocalipse”, mais “consciência social”

“Justiça climática” é o termo-chave para entender a versão 2023 de Greta Thunberg.
“Justiça climática” é o termo-chave para entender a versão 2023 de Greta Thunberg. (Foto: Wikimedia Commons)

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Não que ela fosse uma unanimidade, bem longe disso. Desde seu surgimento no cenário global, em 2018, a ativista ambiental sueca Greta Thunberg nunca deixou de receber críticas por parte de intelectuais conservadores, comentaristas da imprensa e até líderes mundiais (Putin, Trump, Macron, Merkel, etc.).

No entanto, nesse início de sua trajetória pública, os comentários negativos sobre seu discurso sempre foram carregados de alguma condescendência – e bastante ironia. Afinal, no fundo, ela era apenas uma adolescente idealista, provavelmente manipulada pela agenda woke dos pais e de outras pessoas mais velhas de seu entorno.

De lá para cá, muita coisa mudou. Veio a pandemia, o assassinato de George Floyd (e a consequente onda de protestos populares violentos contra o racismo), a guerra na Ucrânia, o aumento da tensão no Oriente Médio...

E a própria Greta também não é mais a mesma: hoje uma adulta de 20 anos, já formada no ensino médio, ela se tornou totalmente responsável por suas falas e ações, o que inclui responder judicialmente caso descumpra as leis vigentes nos países por onde passa militando.

Mas a maior mudança, além da maioridade, é uma espécie de “reposicionamento de marca”, como os marqueteiros gostam de definir. Antes focada em fazer o planeta “ouvir a ciência” com relação a um suposto apocalipse climático, a ativista sueca agora tem “consciência social”.

Estrategicamente falando, faz todo sentido. Em um momento em que grandes corporações e mesmo governantes de países ricos abraçam a causa ambiental para “sair bem na foto”, é preciso buscar uma imagem diferente para manter a atenção dos jovens. Nesse contexto, lutar pelos mais vulneráveis pode ser um ótimo caminho para permanecer no jogo.

“Justiça climática” é o termo-chave para entender a versão 2023 de Greta Thunberg. Não se trata exatamente de um conceito novo, mas a proposta de compensar as populações pobres pelos danos ambientais causados por empresas ou governos tem sido bastante enfatizada pelos ativistas nos últimos anos.

No último mês de março, por exemplo, a ex-militante mirim se uniu a um grupo da Noruega para protestar contra a construção de turbinas eólicas na região central do país. À primeira vista, parecia uma notícia improvável, pois nem o pior dos eco-histéricos questionaria uma iniciativa voltada para o desenvolvimento de energia limpa.

A manifestação, porém, tinha outro objetivo: a preservação dos Sámi, um dos povos indígenas mais numerosos da Europa. Segundo eles, parte de suas terras foram ocupadas para a implantação dos parques eólicos – com consequências graves para a flora e a fauna, principalmente para as renas.

“Os direitos indígenas e os direitos humanos devem andar de mãos dadas com a proteção e a ação climática. Isso não pode acontecer às custas de algumas pessoas”, afirmou Greta para a agência Reuters, após ser removida à força do protesto pela polícia.

Aliás, a relação da jovem sueca com as autoridades vale um capítulo à parte na recente história de sua vida adulta. Somente neste ano, e sempre com um sorriso debochado no rosto, ela foi detida ou retirada de manifestações marcadas por tumultos na Suécia (duas vezes), Alemanha e Inglaterra, além do já citado caso na Noruega.

Os tribunais de sua terra natal a condenaram a pagar duas multas brandas, relativas a atos de desobediência e desrespeito a policiais registrados em junho e julho – 2,5 mil coroas suecas (o equivalente a R$ 1,1 mil) e 1,5 mil coroas suecas (R$ 690), respectivamente.

E, na última quarta-feira, ela compareceu a uma corte em Londres, onde se declarou inocente em um processo por perturbação da ordem. A confusão aconteceu na capital britânica em outubro, durante uma conferência organizada pela indústria de combustíveis. O julgamento está programado para fevereiro de 2024.

Thunberg foi acusada de postar símbolo antissemita nas redes 

Agora adivinhe de qual lado Greta Thunberg está quando o assunto é o conflito entre Israel e o Hamas, iniciado em outubro?

No dia 20 daquele mês, ela postou uma foto em que aparecia com um cartaz escrito “Fique com Gaza”. Na mesma imagem, outros três jovens ativistas seguravam cartazes com as inscrições “Palestina livre”, “Justiça climática agora!” e “Este judeu está com a Palestina”.

A reação foi imediata, com o público se dividindo e muita gente chamando a atenção também para um elemento controverso presente na fotografia: um pequeno polvo de pelúcia, considerado um símbolo antissemita (no início do século XX, chargistas políticos utilizavam, perversamente, a figura do molusco e seus tentáculos para representar a influência do povo judeu em todos os aspectos da sociedade). Greta jurou de pé junto não conhecer esse fato e acabou repostando o registro, dessa vez sem o brinquedo.

Mas o estrago já estava feito, e a ativista dobrou a aposta no último fim de semana, quando discursou durante uma marcha pela justiça climática em Amsterdã (o maior evento do gênero já realizado na Holanda, com cerca de 70 mil participantes).

“Temos de ouvir as vozes daqueles que estão sendo oprimidos e daqueles que lutam por liberdade e justiça. Não poderá haver justiça climática sem solidariedade internacional”, disse, para depois passar o microfone à militante palestina Sara Rachdan.

Usando um lenço típico de sua região, Rachdan afirmou que Israel está “cometendo um genocídio” em Gaza e ataca hospitais e civis “de propósito”. Segundo a imprensa internacional, ela é amiga pessoal de Thunberg, e tem se notabilizado nas redes sociais por uma postura extremistas contra os judeus.

Em seus posts mais chocantes, Sara compara Benjamin Netanyahu a Adolf Hitler, diminui a gravidade do Holocausto e idolatra a figura de Leila Khaled (terrorista e revolucionária marxista, conhecida por praticar sequestros nas décadas de 1960 e 70, em nome da Frente Popular para a Libertação da Palestina).

Irritado com a cena, um homem que estava entre o público invadiu o palco, arrancou o microfone das mãos de Greta e fez um desabafo: “Estou aqui por uma questão climática, não por uma visão política”. Com seu tom desafiador de sempre, a sueca reagiu fazendo a multidão repetir, em coro, a frase “Não há justiça climática em terras ocupadas”.

Essa postura radical teve um preço alto para ela – que em nenhum momento condenou, lamentou ou mencionou as pessoas vitimadas pelo Hamas. Admirada em Israel, a ambientalista era considerada um “modelo educativo”, a ponto de sua trajetória ser contada e discutida nos currículos escolares locais. Após a controvérsia recente, os conteúdos envolvendo seu nome foram totalmente banidos pelo Ministério da Educação do país.

“O Hamas é uma organização terrorista que assassinou 1,4 mil israelenses inocentes e raptou mais de 200 pessoas. Sua posição a desqualifica para ser um modelo educacional e moral, e ela já não é apta para servir de inspiração para nossos estudantes”, afirmou o órgão do governo, segundo o jornal Jerusalem Post.

Ambientalistas israelenses, anteriormente aliados de Thunberg, também se indignaram. Em uma carta aberta, assinada por 100 ecologistas e divulgada pelo jornal The Times of Israel, a jovem é acusada de fazer declarações “terrivelmente unilaterais, mal-informadas e superficiais”. “Você acha que o Hamas representa os direitos humanos e a liberdade? Pense de novo!”, diz o texto.

Ambientalistas se preocupam com postura parcial e radical de Greta 

Mesmo fora de Israel, a comunidade ambientalista já se mostra preocupada com o impacto negativo que as posições políticas de Greta podem ter no movimento.

Ricarda Lang, líder do Partido Verde alemão e uma das figuras centrais do jovem ativismo ecológico europeu, disse publicamente que a colega da Suécia “abusou da absolutamente necessária e correta preocupação com a proteção do clima para adotar uma postura unilateral com relação a um conflito sobre o qual não nomeia os culpados e não condena as atrocidades absolutas do Hamas”.

Lang, cuja legenda é aliada do governo de coalizão do chanceler Olaf Scholz, ainda afirmou que, por causa de suas declarações recentes, Thunberg “desacreditou a si mesma como imagem do movimento pelo clima”.

Também alemã, Luisa Neubaer, que já acompanhou Greta em diversos protestos, deu uma declaração igualmente dura ao jornal Die Ziet: “Vamos analisar, a partir de agora, com quem devemos continuar mantendo uma base para trabalhar partindo de valores comuns”, disse a ambientalista de 27 anos.

Em sua coluna na revista americana de negócios Forbes, o advogado Jon McGown – um especialista na área de ESG (sustentabilidade ambiental, social e governança) – deu uma visão mais corporativa da situação. “O sucesso nessa área é possível quando se convence moderados e conservadores de que as políticas climáticas podem ser implementadas sem desrespeitar suas crenças políticas. Será necessária uma voz forte e ponderada para superar essas preocupações. Thunberg  já expressou o desejo de não ser mais o rosto da causa ambiental. Talvez seja a hora de atender seu pedido”.

Tuíte de 2018 com previsão apocalíptica foi apagado pela ativista 

Uma postagem antiga no Twitter/X também marcou o ano polêmico de Greta Thunberg. No mês de março, usuários da rede social perceberam que ela havia simplesmente apagado, sem qualquer justificativa, um tuíte marcante de seus primeiros anos de ativismo.

“Um importante cientista do clima está alertando que a mudança climática acabará com toda a humanidade, a menos que paremos de usar combustíveis fósseis nos próximos cinco anos”, dizia a mensagem, publicada em 2018 e baseada numa declaração de James Anderson, professor da Universidade de Harvard e pesquisador no campo da química atmosférica.

Como a raça humana ainda caminha sobre a Terra, os trolls de plantão “ressuscitaram” o post e fizeram todo tipo de gozação com a jovem sueca – que acabou deletando-o. O caso poderia ter ficado por isso mesmo, não fosse a intervenção das agências de checagem de informações, a maioria delas de viés progressista.

Sites “verificadores” como Scope e AP Fact Check correram em defesa de Greta, alegando que ela apenas interpretou, de forma dúbia e incorreta, a tese do pesquisador (como se seus conteúdos não fossem acompanhados ou revisados por pessoas mais velhas). Mas a emenda acabou saindo pior que o soneto.

“É bom ter apoiadores politizados que se esforçam para nos defender. No entanto, isso só piora as coisas. Greta Thunberg compartilhou que o mundo acabaria em cinco anos, e isso estava errado de várias maneiras”, disse, em sua conta no Twitter/X, o cientista político dinamarquês Bjørn Lomborg, autor do livro ‘Alarme Falso: Como o Pânico das Alterações Climáticas nos Custa Bilhões, Prejudica os Pobres e Não Consegue Consertar o Planeta’.

Para os críticos do alarmismo “ecoapocalíptico”, Greta promove exatamente o que essas agências dizem combater: a desinformação.

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