Acredito que as crianças são nosso futuro. Uma criança em específico: o adolescente anônimo que celebrou o dia de pânico pelas mudanças climáticas ou sei lá o quê semana passada faltando à escola (com a bênção do Departamento de Educação de Bill de Blasio) e ficando chapado num parque em Manhattan. O adolescente faltou às marchas e protestos e ignorou o clamor geral. E quem não faria o mesmo? “Pensei no assunto, mas o que posso fazer quanto ao clima?”, perguntou o adolescente ao jornal New York Post. “Para que servem realmente essas marchas?”
O adolescente entendeu. Deem um dez para ele estudos sociais. Talvez um dia ele aprenda também que passar a tarde de sexta-feira fumando maconha no parque não serve para nada, mas... um passo de cada vez.
Os adolescentes que não entenderam nada são aqueles com fogo nos olhos, os que fazem parte do Culto Milleniarista dos Thunbergianos. O Jesus/Martin Luther King/Kardashian deles é a pirralha de 16 anos, Greta Thunberg, segunda geração de uma família de divas (a mãe é uma cantora de ópera) que quer aquilo que todas as meninas de 16 anos querem: atenção. A melhor reação às birras adolescentes é tentar ignorá-las (Tá, querida, mil desculpas por não termos caramel macchiato. Você me desculpa?), mas a imprensa mundial está estimulando Thunberg, dando espaço e tempo de cobertura ao vivo para seu ataque de raiva porque a imprensa acha que pode tirar algum proveito de sua mensagem fatídica de que todos vamos morrer nos próximos onze anos.
O tempo todo, dezenas de milhões de adolescentes fazem birra por causa de dezenas de milhões de coisas – quero o iPhone 11XC3PO! Quero um Mustang rosa-choque! —, mas a única que a CNN considera digna de atenção é a que diz: “Quero reestruturar a economia mundial e quero isso para ontem, seus babacas!”
Thunberg — uma mistura de Lisa Simpson e Bane — disse às Nações Unidas: “Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias”. Não. Ao contrário, a vida de Thunberg coincide com aqueles que foram os 16 melhores anos da história da Humanidade. Se ela quer falar de tempos difíceis, espere até ouvir sobre minha infância, quando os adultos achavam que não havia nada de errado em usar milhões de máquinas que exalavam chumbo que ia direto para os pulmões das crianças. E a minha, claro, era a geração mais sortuda da história até aquele momento.
Thunberg velejou até os Estados Unidos no seu famoso iate ecológico Golpe Publicitário, iate que, ficamos sabendo depois, precisou que dois europeus voassem até aqui para recuperá-lo. Na matemática torta das mudanças climáticas, dois voos mais uma viagem pelo mar é algo que gera menos emissões morais do que um único voo. Os Thunbergianos disseram que a menina podia compensar isso comprando créditos de carbono, que é o que Al Gore e Leonardo DiCaprio também dizem quando entram num jatinho para voar até sua próxima conferência sobre o clima. Se ela pretendia apenas discursar, por que não gastou o tempo da travessia do Atlântico plantando árvores e depois discursou diretamente do seu quarto? Talvez porque a manchete “adolescente publicou um vídeo no YouTube” não serve para que a CNN use a palavra URGENTE.
Como muitos adolescentes de 16 anos antes dela, Thunberg apenas deixou de lado sua leitura obrigatória e usou um resumo fraco para entender o relatório do IPCC sobre as mudanças climáticas, que ela usa para dizer equivocadamente que temos apenas onze anos antes de darmos início a uma “irreversível reação em cadeia para além do controle humano”. Só que o relatório não diz nada disso. Os Thunbergianos estão para a ciência assim como o Ramo Davidiano está para a religião.
“Estamos no início de uma extinção em massa”, trovejou Thunberg. “E vocês só sabem falar de dinheiro e de contos de fadas de crescimento econômico eterno”. Aliás, não, queridinha. Ayn Rand não domina a Terra e as pessoas conversam sobre outras coisas que não dinheiro e crescimento econômico. Thunberg talvez devesse ter olhado a agenda do prédio onde discursou se quisesse conhecer os outros assuntos que despertam o interesse das pessoas: Comitê de Proteção a Trabalhadores Imigrantes, Comitê de Direitos das Pessoas com Deficiência, Comissão sobre Narcóticos... E meu preferido: o Comitê sobre Conferências.
Uma análise generosa dos Thunbergianos diria que eles são “dogmáticos” e “reducionistas”. Menos generoso, alguém poderia dizer que eles são imaginativos. Isso eu e meus amigos também somos. Mas as crianças com as quais eu cresci sabiam que Dungeons and Dragons não era real. Thunberg parece achar que falta ao mundo apenas um chute na bunda para que ele descubra como se reestruturar para funcionar à base de energia solar e eólica.
“Não deixaremos vocês saírem incólumes disso”, declarou Thunberg. “Agora é o momento em que damos um basta”. Se não o quê? Ela vai prender a respiração até ficar azul? Vai se recusar a fazer a lição de casa? Meninas de dezesseis anos não dão ultimatos. Uma menina que não tem idade nem para alugar um carro não é qualificada para mudar a economia mundial.
Kyle Smith é crítico da National Review.
© 2019 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês