“Sempre que livros são queimados, os homens também acabam na fogueira”, escreveu o jornalista e poeta alemão Heinrich Heine.
Ele escreveu essas palavras em 1823, mais de um século antes de os nazistas queimarem livros e homens, o que torna Heine um observador sagaz do passado e um profeta. A guerra às ideias é parecida com a guerra às pessoas porque as ideias só existem na cabeça das pessoas.
Nós registramos as ideias, nós as manifestamos, nós criamos organizações para defendê-las. Por fim, as ideias são o principal ingrediente na receita humana, uma característica incrível que nos distingue dos animais. Os que pretendem matar ideias – e não debatê-las, promovê-las ou refutá-las — são assassinos da humanidade.
Os que querem matar ideias hoje em dia estão por todos os cantos – um fato triste que me leva a citar outro escritor, Ray Bradbury. Em seu clássico distópico Fahrenheit 451, ele escreveu: “Há mais de uma forma de se queimar um livro. E o mundo está cheio de gente com fósforos acesos por aí”.
Um exemplo recente e revoltante vem da London School of Economics (LSE), na Inglaterra. Ele envolve um grupo marxista chamado LSE Class War [Guerra de Classes da LSE]. Num manifesto lançado no começo de julho, a liderança do movimento exigiu a dissolução — o fim — de outro grupo de alunos que atende pelo nome de Hayek Society. O “crime” é que a Hayek Society promove discussões em torno das ideias do economista e filósofo ganhador do Prêmio Nobel Friedrich von Hayek.
Ironicamente, o grupo LSE Class War dificilmente encontraria outro ser humano, vivo ou morto, mais comprometido com a livre expressão de ideias do que F. A. Hayek. Ele alertou para os perigos da intolerância e censura em inúmeras ocasiões, incluindo em seu famoso livro O Caminho da Servidão, de 1944. Hayek lecionou por 20 anos na London School of Economics, a mesma instituição onde esses totalitários querem ditar que ideias podem ou não ser ouvidas. Ele foi um defensor de uma sociedade livre e um dos grandes economistas do século XX.
Fico me perguntando quantos dos piromaníacos intelectuais do LSE Class War leram um dos livros ou artigos de Hayek que eles agora buscam metaforicamente, se é que não literalmente, queimar. Se tivessem lido alguma coisa, saberiam que o comportamento deles prova um argumento hayekiano fundamental: as pessoas querem controlar a sociedade invariavelmente buscaram controlar a mente das pessoas também.
No site da Hayek Society você entenderá por que o grupo de estudantes liberais não pode ser tolerado. Ele “defende o liberalismo clássico, o libertarianismo e a economia de mercado entre os alunos da LSE”. Ele organiza eventos, incluindo debates, no espírito da defesa que Hayek fazia das liberdades básicas. Em outras palavras, as ideias da Hayek Society para o LSE Class War são o mesmo que um crucifixo para o Drácula. Assim, em nome “do povo”, da “classe trabalhadora”, das “minorias marginalizadas” e outros entes que ele diz representar, o grupo LSE Class War quer calar e fechar a Hayek Society. Eles querem apagar Hayek e eliminar as ideias dele das discussões. Em resumo, são queimadores de livros.
De sua tumba, Joseph Goebbels deve estar aplaudindo.
Hayek deu suas primeiras quatro aulas na LSE no começo de 1931. Pouco depois, foi nomeado professor. De acordo com os autores Robert Batemarco, Stephen Kresge e Lief Wenar, no livro Hayek on Hayek: An Autobiographical Dialogue [Hayek sobre Hayek: um diálogo autobiográfico]:
“O período mais intelectualmente estimulante da vida dele foi a parte da década de 1930 que ele passou na LSE. Foi lá que seu trabalho sobre os ciclos econômicos o elevou ao posto de maior crítico de John Maynard Keynes. Quando Hayek conteve a tentativa de Keynes de intimidar intelectualmente os colegas mais jovens, confrontando-o com argumentos sérios em todas as situações, ele passou a ser respeitado pelo inimigo”.
Durante sua passagem pela LSE, Hayek se inspirou nas ideias de seu mentor, o economista austríaco Ludwig von Mises, para dar sua contribuição pioneira à teoria dos ciclos econômicos. Hayek frequentemente chamava John Maynard Keynes para o debate oral e por escrito, apontando as falhas das hipóteses de Keynes só para ver Keynes tangenciar as críticas, mudando de assunto. Nunca Hayek sugeriu que a forma de lidar com Keynes era calá-lo, queimar seus livros ou impedir seus seguidores de se organizarem.
“Quanto mais o Estado ‘planeja’, mais difícil para o indivíduo é se planejar”, escreveu Hayek em O Caminho da Servidão. Esse livro foi produto de seus últimos dias na LSE. Em seu excelente tomo sbre o grande economista, intitulado “Friedrich Hayek: A Biography” [Friedrich Hayek: uma autobiografia], Alan Ebenstein expôs:
“Em seu clássico ‘O Caminho da Servidão’, de 1944, escrito em Cambridge, para onde a London School of Economics and Political Science foi transferida durante a Segunda Guerra Mundial, Hayek ampliou o argumento da improdutividade econômica intrínseca de um regime socialista clássico para o reino da liberdade política. Ele argumentava que não só o socialismo era improdutivo como também era intrinsecamente não livre. Não pode existir liberdade pessoal onde o indivíduo é apenas uma peça de um esquema centralizado”.
Para o grupo LSE Class War, a defesa que Hayek fazia da economia livre sobre o socialismo é um pecado que não pode ser perdoado nem tolerado. A perspectiva indefensável deles é uma demonstração de sua insegurança intelectual. Seria risível, não fosse pelo fato de que, se eles alcançassem o poder político, praticariam a opressão. É isso que os marxistas fazem quando suas ideias se tornam lei.
Só para rir um pouco sobre esse tema sombrio, pedi aos meus colegas da FEE que pensassem em analogias rápidas. “Banir Hayek da LSE é como o quê?”, perguntei. Eis uma lista parcial das respostas.
Banir Hayek da LSE é como banir Sir Isaac Newton da Royal Society ou Dumbledore de Hogwarts, ou Yoda da ordem Jedi ou Bruce Lee das artes marciais ou os Rolling Stones do Hall da Fama do Rock ou Tony Hawk das pistas de skate.
A última me deixou intrigado. Talvez porque não entenda muito de skate. Nunca ouvi falar de Tony Hawk, mas acho que já sei mais sobre ele do que o pessoal do grupo LSE Class War sabe sobre Hayek ou economia.
Lawrence W. Reed é presidente emérito da FEE.
©2021 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês
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