Fernando Haddad no Roda Viva: poucas cobranças| Foto: Reprodução
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Ontem, para que o leitor economizasse o seu precioso tempo livre, eu vi a entrevista de Fernando Haddad no Roda Viva. Seria injusto, porém, dizer que nenhum prazer se extrai daí. Ver Fernando Haddad ontem logo remetia às entrevistas prévias de 2018. Pode-se ver que éramos felizes e não sabíamos, quando jornalistas que pegavam candidatos para entrevistar os encurralavam com questões relativas à democracia. Todo entrevistador cobrava Bolsonaro acerca da defesa da ditadura, mas poucos entrevistadores importantes deixavam Ciro Gomes, Haddad e os satélites do PT passarem impunes em seus apoios à Venezuela.

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Pois muito bem, ontem pudemos ver que tudo isso acabou. Os jornalistas do Estadão e da Folha de S. Paulo impediram que a entrevista fosse até o fim como o que ela era nos primeiros blocos: uma reunião de eleitores de Haddad voltada a cobrar explicações do porquê de ele não ter sido eleito, e por que o PT ainda não conseguiu fazer uma frente ampla contra os “arroubos autoritários” do presidente.  À primeira dessas questões ele respondeu de maneira vaga e tentou colocar Ciro como cúmplice na culpa.

Quanto ao futuro, os jornalistas fazem ver que existia gente (eles próprios) que não só achava cogitável, como desejável a formação de uma frente ampla democrática que unisse Moro e Lula. Vê-se então que aqueles jornalistas acham mesmo que um presidente trapalhão é uma ameaça maior à democracia do que um STF que manda prender jornalista e censurar jornal. Mas Haddad frustrou a todos e disse que não era admissível uma frente ampla com Moro, porque Moro não é democrata, e jogou aquela conversa conspiratória pra boi lulista dormir.

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Ainda sobre o futuro, Haddad foi cobrado pelo jornalista do UOL sobre a falta de presença da oposição nos debates públicos. Haddad respondeu então que “a oposição não tem voz” e a culpa era da imprensa, que não o chamou para dar entrevistas nem mesmo sendo ele um duradouro ex-ministro da educação dos governos Lula e Dilma. Ressaltou que todos sabem que o PT tem um papel crítico da imprensa.

Pois muito bem, os jornalistas defensores da democracia que querem uma frente ampla aceitaram essa resposta bovinamente, porque o partido que propõe a regulamentação estatal da imprensa vai defendê-los de Bolsonaro, cujas ameaças à imprensa se resumem a corte de publicidade estatal para este ou aquele veículo.

Haddad lastima que a Bolívia tenha saído dos trilhos e tirado Evo Morales do poder. Nos últimos blocos, quando alguém deve ter alertado nos bastidores que a coisa estava amigável demais, enfim a âncora pergunta pelo apoio do PT a ditaduras.

Haddad até tenta escapulir, falando de cismas da esquerda da época do Relatório Kruschov, mas tem que responder à questão dos nossos vizinhos hoje. E então sai-se com essa de que eles apoiam Maduro porque a oposição da Venezuela é abominável. Não chegou a fazer como Ciro, que em 2018 chamou a oposição venezuelana de nazista no mesmo programa… Desta vez, a resposta é recebida com naturalidade, sem se mencionar os presos políticos, as torturas e os assassinatos.

Numa coisa, Haddad tem razão: a imprensa costuma negligenciar o fato de que ele foi ministro da educação de 2005 a 2012, responsável portanto por sete anos da educação pública brasileira. Isso é mais da metade do tempo em que o PT esteve no poder federal. Não deveria ser cobrado por isso?

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Que Haddad tenha sido tratado apenas como o ex-candidato de 2018, e não como maior responsável pela educação brasileira na era petista, revela o apreço que o meio brasileiro politizado tem pela educação.