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Hospital americano apaga página em que recomendava hidroxicloroquina para Covid

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Prédio da Mayo Clinic no centro de Minneapolis, no estado americano de Minnesota (Foto: Tony Webster)

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A Mayo Clinic, uma organização médica sem fins lucrativos com hospitais em três estados americanos, apagou de seu website nesta terça-feira (26) uma página com uma bula resumida do medicamento hidroxicloroquina (HCQ) que o recomendava para pacientes hospitalizados com Covid-19. A HCQ é usada para tratar malária, mas foi proposta como um tratamento precoce para a doença da pandemia de 2019. A página, que era dedicada à marca americana Plaquenil (HCQ é o genérico), ainda pode ser vista em arquivo.

A deleção da página é algo excepcional, considerando sua longevidade. Como mostra outro serviço de arquivo que permite consultar o histórico de mudanças na página, ela existia no mínimo desde 2013. A primeira menção à prescrição para Covid registrada data de 1º de maio de 2020 e tem a redação exata da página deletada: “A hidroxicloroquina também pode ser usada para tratar coronavírus (Covid-19) em certos pacientes hospitalizados”. Outra menção contida no texto foi adicionada um mês depois: “A hidroxicloroquina deve ser usada para a Covid-19 apenas em um hospital ou durante estudos clínicos”. A última edição conhecida antes da deleção foi de 1º de setembro de 2023.

A remoção parece uma reação às redes sociais. No domingo (24), o perfil do site de notícias libertário Zero Hedge postou uma captura de tela da página no X (antigo Twitter) e comentou que “estou ficando sem teorias da conspiração”. O dono da rede social, Elon Musk, respondeu que “sim, precisamos de algumas novas”. O que ambos não pareciam saber é que as menções à Covid no texto têm todas mais de três anos de idade.

Alguns comentaristas cometeram erros factuais. Rogan O’Handley, que tem uma conta com mais de um milhão de seguidores no X (@DC_Draino), alegou que a Mayo Clinic “atualizou discretamente seu website para dizer que a hidroxicloroquina pode ser usada para tratar pacientes da Covid”. Como o arquivo mostra, isso não é verdade, o texto foi redescoberto, mas estava na mesma forma desde o início da pandemia.

Defensores do tratamento precoce também reagiram mal ao texto redescoberto, sem saber que era antigo. O virologista brasileiro Paolo Zanotto, que leciona na Universidade de São Paulo, perguntou “isso é uma piada ruim? Ou eles não sabem que antivirais não funcionam para pacientes de Covid-19 hospitalizados?” Como o termo “tratamento precoce” sugere, a ideia não era usar o medicamento da malária em pacientes já internados, com sintomas avançados.

Que houve pressão política contra o uso de HCQ para tratar Covid é algo reconhecido pelos autores de uma revisão de agosto do ano passado. Os autores, espanhóis afiliados ao Ministério da Saúde da Espanha, à Universidade de Málaga e à Universidade Harvard, concluíram que a HCQ ajudou somente aqueles pacientes que a estavam tomando antes de se infectarem.

A Mayo Clinic não se manifestou oficialmente sobre o ocorrido até o fechamento da reportagem. A redescoberta da bula também repercutiu em um fórum interno da rede hospitalar na segunda-feira (25). Pacientes deixaram relatos de terem sido beneficiados pela aplicação “politicamente incorreta” da droga.

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